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"A VOZ DA CIDADE DE POMBAL" UMA TRINCHEIRA DE LUTA

PROTESTO CONTRA O RACISMO! CONTADA POR MACIEL GONZAGA* (Foto) A emissora de rádio “A Voz da Cidade”, criada em meados da década de 60 pela inspiração desse intrépido da comunicação pombalense que é Clemildo Brunet de Sá, ainda que incipiente e não autorizada pelo ex-Dentel, pela forma como atuou durante toda a sua existência, tornou-se não só uma formadora de futuros profissionais que galgaram posteriormente posições na vida, mas, também, uma trincheira de luta em defesa das causas maiores da nossa sociedade da época. Antes de mais nada, a Rádio adotou o caminho de trilhar por um sério trabalho, um trabalho de revisão de idéias e de valores morais. E não foi por falta de esforço e sofrimento que esse árduo trabalho pode cumprir a sua missão. Muitas idéias que à época pareceriam fazer parte integrante do nosso ser moral estavam inseridas no conceito e na proposta de Clemildo. Pois bem! Vou contar um episódio que aconteceu naquela época, omitindo, é claro, deliberadamente, os nomes dos personagens envolvidos por uma questão ética. Mas, tenho certeza, que Clemildo, Genival Severo e tantos outros, sabem muito bem de quem estou falando. O Pombal Ideal Clube estava no seu nascedouro e organizou uma grande festa trazendo uma banda musical de fora. A festa foi amplamente anunciada na “Voz da Cidade” e tornou-se uma grande expectativa para a sociedade pombalense. A Rádio ganhou uma mesa ou, talvez, mais de uma, para acolher todos os seus funcionários, amigos e simpatizantes em clima de confraternização. No momento da entrada, alguém da diretoria do clube teve a infeliz idéia de determinar a proibição de pessoas de COR NEGRA. O alvo era atingir alguém. O racismo ainda não era crime prescrito na Constituição Federal, mas era algo historicamente inconcebível claramente aos olhos de toda a sociedade brasileira. Estávamos em plena época da ditadura militar. Mas, com total e irrestrito apoio de Clemildo, que era o nosso comandante maior, apesar de toda a sua juventude, houve uma verdadeira revolução. Arruda, que era o mais radical de todos nós, convocou de imediato um batalhão de estudantes - a maioria deles universitários que estudavam em João Pessoa -, todo o pessoal da Rádio e dezenas de outras pessoas simpatizantes à causa. Foi iniciada ali mesmo, por volta das 22 horas, na porta do Clube, um protesto onde os oradores falavam e se revezavam sem trégua. A confusão foi grande. Até a Polícia, cuja delegacia era ao lado do Clube, foi chamada ao local e a diretoria do Pombal Ideal Clube teve que recuar da decisão e abrir as portas para todos os negros portadores de senhas ou convites. A batalha foi vencida. Ocorre que no dia seguinte, um domingo, a Rádio não calou a sua voz. Não se conformando, pois não é que Clemildo e sua trupe resolveram reascender o problema através dos microfones da emissora. Arruda mais uma vez convoca os estudantes e, a partir do meio-dia, dá início a uma verdadeira carnificina contra a direção do Clube. O diretor (a) responsável pela decisão teve a sua vida totalmente exposta e elevada a um posto de total degradação tudo em nome do combate a um mal que surgiu na Cultura Ocidental, ligado a certas concepções sobre a natureza humana. Naquela época tínhamos a consciência de que mesmo com o negro alcançando a igualdade jurídica com a abolição, mantinha-se, como até hoje, não só a desigualdade econômica e social em relação ao branco, mas ainda a antiga ideologia que definia bem a diferença entre os dois e reservava ao negro uma posição de submissão. Nós protestamos veementemente contra isso. Há quem diga que esta radical posição assumida contra o preconceito racial, talvez, tenha sido o motivo principal da denúncia feita ao Dentel, em João Pessoa, contra o funcionamento da rádio ilegal, o que teria motivado o seu posterior fechamento. Mas, o que fica claro nesse episódio é a coragem e a determinação de Clemildo em colocar o seu patrimônio a serviço de uma causa nobre e justa. Como já disse, muitos daqueles estudantes que participaram do movimento estão aí vivos para comprovar o que estou afirmando e sabem muito bem de quem estou falando e que foram os personagens envolvidos. Os anos se passaram e fica aqui o registro para a história. “A Voz da Cidade” tem realmente um passado glorioso, uma trajetória de luta em defesa das mais justas causas da sociedade pombalense.
*JORNALISTA, APRESENTADOR DE TV, ADVOGADO E PROFESSOR. NATAL-RN.
"A VOZ DA CIDADE DE POMBAL" UMA TRINCHEIRA DE LUTA "A VOZ DA CIDADE DE POMBAL" UMA TRINCHEIRA DE LUTA Reviewed by Unknown on 9/20/2007 06:32:00 PM Rating: 5

Um comentário

Unknown disse...

É muto bom rememorar, visitar o passado. Neste artigo pude rever alguns dos herois da minha infância, a exemplo do proprio mixuruca, assim como Tuzinho, o grande artilheiro, e o intransponível Nêgo Adelson. Sem esquece do grande Carlos Cesar, o maior jogador da historia de Pombal, que jogou, dentre outros pelo o Nautico (PE)e Ferroviaria de Fortaleza. Ja adulto, estudante de agronomia em Areia, tive a a satisfação de reencontra carlos cesar na cidade de Esperança, sendo técnico do America, foi então que descobria a boa pessoa que o meu cezar de severino pedro.

Jose Tavares de Araujo Neto (Boquinha)

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