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NO TEMPO DO RIO PIANCÓ!

JERDIVAN NOBREGA DE ARAUJO* (Foto) Houve um tempo em que, de uma a outra margem do Rio Piancó, em alguns trechos, chegava-se a medir até cem metros de espelho d’água. Formavam-se ilhas, que chamávamos bancos de areia, onde jogávamos futebol de areia, muito antes desse esporte se popularizar na tela da TV. Ali surgiram craques como Mosquito, Almivam, Negro Tostão, Vandeca, Negro Breu, Nininha, entre outros. Houve um tempo que os melhores locais de se tomar banho, saboreando peixe, cachaça e rubacão com galinha roubada na noite anterior eram conhecidos por nomes próprios, e podíamos escolher se a diversão domingueira na Ponte Vermelha, no Pilar, nas Oiticicas de Ana, no Araçá, na Panela, na Camboa ou na Ponte do Areal. Nesse tempo chegava-se ao Rio Piancó por três caminhos que chamávamos simplesmente de "Corredor do Rio". O primeiro era o que começa por trás do Grande Hotel e se bifurcava para o banhista sair antes ou na ponte; outro iniciava por trás da casa de seu Ugulino (esse não era da nossa preferência por ser "mal assombrado"; e, o mais usado, o que iniciava na Rua de Baixo entre a casa de dona Noca e a de seu Joaquim. Ladeada pelas cercas do capinzal de Seu Delmiro Inácio e a roça de tia Mila, indo terminar bem ao lado da frondosa Marizeira (alguém ainda lembra-se dessa espécie de árvore que, como o Trapiazeiro, foi extinta na nossa região?) Nesse tempo, quando ainda havia o Cine Lux, as matinês eram, quase sempre, filmes de Tarzan. As margens do Rio Piancó eram protegidas por árvores como a Ingazeira e oiticiqueiras. Em alguns trechos do velho rio as ingazeiras e as oiticiqueiras se fechavam na copa em um abraço fraternal, criando centenas de metros de sombras no espelho da água corrente. Se olhássemos para cima não as podia ver sequer a luz do sol que era escondida pelos arvoredos. Os galhos mais rasteiros acariciavam com carinho as águas gelada do nosso rio. Os frutos caiam das árvores alimentando os peixes. Nesses locais podia-se jogar o anzol que com certeza garantia-se o acompanhamento da cachaça. Era também nestas arvores que amarrávamos as cordas e brincávamos de Tarzan, saltando de um a outro galho. O conversar das lavadeiras, os aguadores enchendo as ancoretas o lance da tarrafa que vinha prateado de piabas e podia-se ainda ter a surpresa de um Pitu ou um Cascudo para o almoço, paisagem comum aos nossos olhos. Houve um tempo que era assim! Um tempo em que não nos preocupávamos com o tempo a correr nos ponteiros dos relógios da Coluna da Hora. Um tempo em que era inútil o toque estridente da sirene da Brasil Oiticica, pois, para nós, pouco interessava o balanço das horas. Nesse tempo, aos domingos, o rio tinha o seu aroma peculiar de comida improvisada em alguma panela que fervia a sombra das Ingazeiras ou das oiticicas como, da mesma forma, o rio Piancó emitia o som gostoso de um violão e do coro desentoado das canções que eram embaladas entre um e outro salto nas águas gostosas do nosso Piancó. Quem se lembra desse tempo? Acho que estou ficando velho. Acho que estou aos poucos me tornando o último da minha espécie. Tantas lembranças de aventuras vividas nas ruas de Pombal me garantem a certeza que tive uma infância movimentada, vivida e aproveitada a cada minuto. Acho que se aproxima o dia que terei escrever as crônicas do meu tempo apenas para mim. Não há quem acredite que existiu a Pombal que eu relato. Quem hoje ver a cidade e tem acesso aos meus textos me rótula de fantasioso. Não é possível, dizem eles, que em tão pouco tempo o rio Piancó tenha se transformado em apenas um risco no meio do nada, que a cidade de Pombal tenha perdido em tão pouco tempo o seu bucolismo, mudado sua arquitetura, assoreado a sua história esquecido o seu passado. Não sei explicar o que houve. Só sei que um dia foi assim... *ESCRITOR POMBALENSE
NO TEMPO DO RIO PIANCÓ! <strong>NO TEMPO DO RIO PIANCÓ!</strong> Reviewed by Unknown on 4/25/2008 03:47:00 PM Rating: 5

Um comentário

socorro pombal. PB disse...

Hoje, mais uma vez, chorei, Dizem que, recordar é viver. Não sei se viver ou sofrer!. Só sei que fico absorta no tempo. Volto à minha infância e juventude. Junta com o meu conterrâneo jerdival. Só quero transmiti-lo, meus agradecimentos. Pelas p[agina dele , que sempre me emociona.. Adoro meu torrão natal.É gostoso encontrar uma página que nos leve ao nosso pasado, Quando tudo, era puro, com amor. Mais uma vez muito obrigado, Não tive o prazer de conhece-lo pessoalmente. Continue escrevendo sobre nossa Pombal, Eu ainda estou aqui, Para curtir junta com vc nosso tempo.. Um abraço de sua conterrânea Socorro de Pombal PB

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