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SAUDADE NÃO TEM IDADE!

Artigo de autoria do Professor Francisco de Assis Vieira Nunes,(Foto) divulgado na Rádio Liberdade 96FM, por ocasião do Primeiro Aniversário do Programa “Saudade Não Tem Idade” em 2001. Quem na vida nunca viveu um grande amor? Quem não lembra um passado bem distante? Eu, você, todos nós lembramos alguma coisa que vivemos no passado. Isto é recordar e recordar é sentir saudade de algo que vivemos ou passamos, mesmo que tenha sido ontem ou em época mais distante. Tudo é saudade, porque SAUDADE NÃO TEM IDADE. Com essa premissa, associo este pensamento a brilhante idéia do comunicador Clemildo Brunet, pela criação do programa “SAUDADE NÃO TEM IDADE”. Realmente este programa chegou em boa hora. Ele nos proporciona a oportunidade ímpar de ouvirmos o que há de melhor em matéria de música brasileira. É uma forma de resgatar a verdadeira música, hoje quase que totalmente sucumbida pelos interesses econômicos, que mais se preocupam com valores financeiros do que intelectuais, desprezando a qualidade e o talento dos nossos artistas. Infelizmente, o brasileiro não conhece o Brasil que tem. Somos na verdade um país de contradições; na nação em que suas riquezas se confundem com as dificuldades e até mesmo com a miséria. Somos ainda conhecidos mundialmente como a terra do café, futebol e carnaval. Somos o país da boa música que o brasileiro não lhe dar valor. Quem não lembra das Rádios Mayrink Veiga, Carioca, Nacional, Tupi e muitas outras, que nos idos de 40, formaram a Fase de Ouro, lançando nomes de artistas que se tornaram imortais e inesquecíveis, como: Nelson Gonçalves, Francisco Alves, Orlando Silva, Ciro Monteiro, Vicente Celestino, Augusto Calheiros e mais recentemente Altemar Dutra, Agnaldo Timóteo, além de Ângela Maria, Clara Nunes, Núbia Lafaiete,, Elizete Cardoso, Irmãs Batista, Maysa, etc. Enquanto isso, no Gênero nordestino destacam-se Jackson do Pandeiro, Luiz Gonzaga, Trio Nordestino, etc. Enfim, foram muitos que seria impossível enumerá-los em tão pouco espaço e tempo. Com certeza foram nomes que cantaram e encantaram nossos corações com belíssimas canções que são antes de tudo verdadeiros obras-primas de nossa música. Foram artistas possuidores de vozes privilegiadas que se destacaram pelo potencial que possuíam independente até mesmo dos recursos técnico-sonoros de hoje. Afinal, suas vozes foram dádivas Divinas e que certamente hoje se encontram juntas transformando o céu num conservatório sem igual. Entretanto, o que é mais lamentável é que artistas dessa estirpe e compositores como: Adelino Moreira, Zé ket, Lamartine Babo, Noel Rosa, Pixinguinha, Nelson Cavaquinho, Mário Lago e outros de igual quilate, alguns deles inclusive terminaram seus dias de vida vendo suas obras esquecidas em seu próprio país, sem tocar no rádio e sem a devida circulação por parte das gravadoras. A dor de perdê-los é a mesma que sinto em constatar o quanto nossos reais valores são desvalorizados e desrespeitados. Na verdade, há um enorme desrespeito com a nossa música. Não é fácil ter que ouvir músicas sem a menor expressividade cultural, onde suas letras nada dizem e ainda são de péssima qualidade melódica. É duro trocar o verdadeiro romantismo de outrora e ferir nossos ouvidos com a música que se diz sertaneja e que mais parece Country, própria do Cow-boy americano. Como é doloroso lembrar-se dos velhos carnavais e ter que suportar o axé. Aí, vem a saudade de Capiba, Nelson Ferreira, Claudionor Germano e outros. É realmente dramático lembrar-se de relíquias como Vassourinha – Hino Oficial do Carnaval – Máscara Negra e ter que aceitar a invasão nociva da axé-music e outros modernismos engendrados em laboratórios das gravadoras que só visam lucros financeiros e destroem tão belas obras que fizeram os grandes carnavais. Infelizmente a história é assim. E, o que é pior, ainda chama isso de mídia. E o samba. Este sim tem sofrido muito mais. O samba nosso tesouro sagrado hoje é tratado por “sambinha” nas rodas de amigos, como se fosse uma música qualquer. De fato é uma força de expressão de mau gosto que muito mais exprime desprezo do que carinho e reconhecimento ao seu valor. Certo mesmo seria chamá-lo de SUA MAGESTADE O SAMBA. Vejamos, pois quanta incoerência tratar dessa forma preciosidades como: Aquarela do Brasil, Saudade de Amélia, A voz do Morro e, finalmente, todos os sambas. Seus autores foram certamente inspirados por Deus, daí, podemos afirmar que o samba é Obra Divina. Na verdade é deprimente e não há aberração maior do que Karametade, Só Pra Contrariar (e, contraria mesmo), Harmonia do Samba, Molejão, É o Tchan, quando temos Originais do Samba, Demônios da Garoa e outros, este último com mais de 50 anos de atividade musical, inclusive fazendo parte do Livro dos Recordes por ser o mais antigo no gênero em formação. Hoje, o que se ver infelizmente são grupos formados sem a menor criatividade e expressão musical e que se dizem “pagodeiros” e que parece mais uma piada. Com raríssimas exceções, esses grupos nada mais fazem do que cantar letras mal feitas e inexpressivas do tipo “Dança da Bundinha e da Garrafa”, e outras que parecem uma só. É realmente lamentável, mas, a cada dia olho em minha volta e vejo uma juventude consumindo falsos pagodes, forró e sertanejo, junto com axé-music que não exprimem a nossa cultura. Afinal de contas, educação e cultura têm muito a ver com isto, sem falar nos governos, cúmplices dessa alienação e entreguismo que atolaram o Brasil, lindo e triste como cantou Toquinho. Tudo isso nada mais é do que um amontoado de aproveitadores e oportunistas que faturam grana alta vendendo a alma de nossa música à voracidade insana da indústria fonográfica de conluio com a mídia. Para eles a quantidade é mais importante do que a qualidade. Contudo, ainda acredito em nossa música. Creio que ela não morrerá. Não morrerá porque enquanto houver pessoas românticas, sensatas e fiéis a nossa cultura e tradições a exemplo de Clemildo Brunet, nossa música não findará. Portanto, Clemildo, na minha condição de saudosista e admirador inconteste da boa música, devo-lhe estas palavras de elogios e agradecimentos por este programa. Proclamo, pois a você o devido merecimento e exalto a brilhante idéia de resgatar através do rádio a Música Popular Brasileira. Finalmente de mim confesso: é com justiça e orgulho que lhe presto este louvor na certeza de que ao apresentar este programa estará nos proporcionando a rara oportunidade de revivermos o passado, mesmo que seja muito distante ou bem próximo. Afinal de contas SAUDADE NÃO TEM IDADE. Pombal, 28/01/2001 Francisco de Assis Vieira Nunes
SAUDADE NÃO TEM IDADE! SAUDADE NÃO TEM IDADE! Reviewed by Unknown on 5/02/2008 05:37:00 PM Rating: 5

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