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O DIA EM QUE O MENINO VIROU GENTE GRANDE E RESOLVEU CONTAR O MISTÉRIO DO CASARÃO ABANDONADO

JOSÉ TAVARES DE ARAÚJO NETO*
"Era uma casa velha, um palacete assobradado", imponente, apesar de inconcluso, localizada estrategicamente na principal rua da cidade e misteriosamente abandonada. Despertando a curiosidade e o espírito investigativo de todos os transeuntes na vã tentativa de decifrar aquele enigma. Até que um dia os "homens das ferramentas" chegaram, e, apesar da contestação de algumas vozes isoladas, o velho sobrado foi ao chão, em nome "da força da grana que ergue e destrói coisas belas". Sentados em um banco da Praça Getúlio Vargas, próximos ao busto do ex-presidente, jovens adolescentes durante várias gerações, criavam com suas mentes férteis estórias que viessem justificar o abandono daquele majestoso e enigmático casarão. A partir desse fato real, acontecido na cidade de Pombal, Tarcísio Pereira, um daqueles imberbes contadores de causos, deu asas a sua imaginação e ambientou o seu romance "Como São Jorge na Lua"(Imprell, 120 págs.). Com seu peculiar talento, utilizando um linguajar simples, porém de significativa profundidade, o autor narra a estória do infortúnio amor entre uma moça humilde e um rapaz abastado. Como nas sessões cinematográficas que na sua meninice assistia no velho Cine Lux, durante a narrativa da comovente e trágica estória de amor, o autor adianta alguns traileres do que acontecerá nos próximos capítulos, de tal modo que deixa o eleitor na curiosa expectativa em saber o desenrolo do enredo. Faz uma sincronia perfeita entre uma época bucolicamente romântica quando crianças corriam descalças nas descalças e empoeiradas ruas de Pombal e o progresso caminhava trôpego, açoitado pelo monótono apito de um trem, que levava mais e trazia cada vez menos àquela gente. Os personagens que desfilam no centro daquela pequena e velha cidade, confundem-se com qualquer um dos seus reais habitantes, que de imediato irão se identificar como um figurante daquela triste estória de amor, tal qual um dia os foram seus avós na saga de Maria do Ingá. Apesar da mesma origem humilde e características físicas semelhantes a Maria do Ingá, Suzana, órfã adotada por seus padrinhos, casal de classe média, residia numa rua mais central, bem próximo ao casarão, que um dia, não fosse a triste fatalidade, seria o seu lar verdadeiro. Maria do Ingá, ou cabocla Maringá, imortalizada e nacionalmente conhecida, graças ao talentoso compositor Joubert de Carvalho - possivelmente residia na Rua do Rói - a palavra Rói no vocábulo pombalense significa prostíbulo, talvez uma referência aos freqüentadores dos botequins, que iam até lá para beber e "roer" os seus dissabores sentimentais nos braços de uma eventual amante profissional. A construção do casarão abandonado, hoje agência do Banco do Brasil - que o autor pejorativamente denomina de "Banco de Obra para o Interior"- iniciou-se com o malfadado romance de Suzana e Almo, anos após a grande seca, quando a cabocla Maringá "ficou sendo a retirante que mais dava o que falá". Portanto, obedecendo esta cronologia, a Igreja de Nossa Senhora do Bonsucesso, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário com o seu cruzeiro no adro, a Estação Ferroviária e o Cemitério Nossa Senhora do Carmo foram cenário nos dois romances, enquanto que o Cine Lux, o Lord Amplificador, a Praça Getúlio Vargas e a Coluna da Hora testemunharam apenas a desventura dos Ventura. Além de presentear os amantes da boa leitura, o romancista deixa uma mensagem intrínseca aos adultos que um dia adolescentes sentaram no banco da Praça Getúlio Vargas e assistiram impassíveis as demolições do velho casarão, sem compreender a importância da indignação daquelas poucas vozes contestadoras. Não entendiam eles que o patrimônio histórico é um bem afetivo que a todos pertencem, destruí-lo é apagar uma parte da sua própria história. É renegar sua cultura e desrespeitar os seus antepassados. Por isto é que "Como São Jorge na Lua" vem ratificar a proposta do jovem escritor e teatrólogo pombalense Tarcísio Pereira, que ao narrar as lendas, costumes e cultura do seu povo, consolida-se como uma das maiores revelações da literatura e dramaturgia paraibana dos últimos anos. *ARTICULISTA POLÍTICO E ESCRITOR POMBALENSE
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