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A RUA DE BAIXO HOJE!

jerdivan nóbrega de Araujo* É como se nos anos de 1940 alguém criasse um cenário para rodar uma série de filmes, com a mesma história, o mesmo velho e borrado cenário, mudando apenas os protagonistas. Foi assim que eu vi a Rua de baixo de hoje. Alguns personagens que a noite sentam-se a calçada para conversar lorotas, falar de política ou do ultimo capítulo da novela das oito, são filhos ou netos dos do meu tempo de protagonista naquela encenação. Se perguntar por esse ou aquele do meu tempo a informação é sempre a mesma: morreu; foi pra São Paulo e não deu mais noticias; ta preso, e por ai vai. É como se ainda fosse, e acho que é, o mesmo roteirista a escrever as cenas que estão fadadas a representar anos a fio. Não há memória dos que passaram por ai. Mesmo conversando com um neto de Godofredo o nosso Godô, que foi "o faz de tudo e para todos" da Rua de Baixo: aguador (denominação aos que possuíam tropas de jumentos e vendiam água nas ruas mais acima; Barbeiro (fazia barba e cabelo aos domingos sem cobrar um centavo dos clientes; Marchante (matava porco de "meia"); Sapateiro (quantas "meia sola" colocou nos sapatos dos jovens da Benigno Ignácio Cardoso?; Agricultor (cultivava, sem muita empolgação, um pedaço de chão nas terras dos meus avós). Oleiro fazia telhas e tijolos na "Outra banda", terras da nossa família" etc... não soube ele dizer quem era esse personagens que povoou as historias da nossa infância ali na Rua de Baixo. Outros que já citei em histórias anteriores, da mesma forma, poucos são lembrados. Até mesmo minha prima e professora, Dona Raimunda, não mais habita a memória dos por ela alfabetizados ali no João da Mata. No meu tempo, quando a Escola Normal Arruda Câmara formava professoras, e que se dizia jocosamente, pelos seus próprios moradores de alta estima no nível do chão, que "a rua de baixo jamais vai dá a Pombal um doutor" eu ainda criança, via passar as nossas jovens vestidas de saias pretas plissadas, meias três quarto, sapatos de verniz ao brilho, blusa branca com sianinha azul e gravata também azul marinho, carregando as mãos o velho e Livro de Admissão, onde em suas páginas de tudo, em matéria de informação pedagógica, se podia encontrar. Era o De Larousse dos anos de 1960. Pois sim. Foram essas moças da Rua de Baixo que mais tarde ensinaram as primeiras letras aos hoje doutores que levam o nome de Pombal a patamares mais altos. Sempre há de haver um desses doutores que teve as suas primeiras letras garatujadas pelas mãos de uma professora nascida na Rua de Baixo e formada nas cadeiras da Escola Normas Arruda Câmara. Porém, a Rua de baixo ta ali: perdida no tempo esquecida pelo poder publico: Nenhuma praça, sem rede de esgoto, nenhuma creche, casebre desafiando as leis de Newton, iluminação precária e sempre a espera da visita do Rio Piancó. Algumas casas parece congeladas no tempo. Até a pintura da fachada e das janelas é a mesma do meu tempo de criança e ai já se vai mais de trinta e cinco anos. Quantos protagonistas ainda terão que encenar a mesma malfadada história, até que escrevamos um novo capitulo para um cenário de esperança para aquele povo? *Escritor pombalense.
A RUA DE BAIXO HOJE! A RUA DE BAIXO HOJE! Reviewed by Unknown on 6/11/2008 08:21:00 PM Rating: 5

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