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OS ÁGUIAS - O VÔO QUE PAROU NO TEMPO!

O início dos Águias  (Foto)


Prof. Francisco Vieira*

Hoje, mais saudosista do que nunca, mergulhei no túnel do tempo e trouxe para o presente a JOVEM GUARDA, movimento que surgiu anos 60. E, como num devaneio, deslumbrado, me veio à tona o conjunto musical: OS ÁGUIAS  que surgiu em Pombal na mesma época. Foi um período agradável, vivido no entusiasmo da juventude do qual nos orgulhamos e não podemos nos desvencilhar. Em síntese, era um movimento que mesclava música, comportamento e moda. 

Surgiu no Brasil com o nome de iê-iê-iê, sob a influência do Rock, principalmente dos Beatles e Rolling Stones. Nasceu num programa comandado por Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderleia que apresentava artistas ligados ao movimento, cantando músicas românticas para os jovens. Além desses se destacaram: Eduardo Araújo, Martinha, Rosemary, Ronie Von, Paulo Sérgio, Wanderley Cardoso, Jerrry Adriany, Os Incríveis, Renato e Seus Blue Caps, The Fevers, Golden Boys e outros. 

O conjunto nasceu em 1967, com o nome de OS BARRA LIMPA, passando a se chamar depois OS ÁGUIAS e permanecendo em atividade até 1977, quando foi desfeito por falta de recursos. Sua primeira formação: Dé – guitarra solo, Zé Ari – rítimo. Tico – baixo, Mestrinho – bateria e Pedoca (de Deca) - vocalista. Depois ocorreram substituições tendo ingressado Chaguinha e Chico de Maroquinha – vocalistas, Geraldo (in memorium) e Delson – baixo, Diá – teclado e Valdeci – percussão. 

O mais importante e curioso é que devido à escassez de recursos as primeiras guitarras e a bateria foram confeccionadas por Dé que além de grande solista era também exímio na arte de marceneiro. A fama dos Águias se espalhou como relâmpago ultrapassando fronteiras e se tornando presença indispensável no Ceará, Rio Grande do Norte e Pernambuco, além da Paraíba, é claro. Graças a sua versatilidade e habilidade dos seus músicos 

Os Águias competiram em nível de igualdade com os melhores conjuntos da época na região tais como: Uirapuru Zimbo – Sousa, Os Jovens – Patos, Os Tuaregues – J. Pessoa, Os Mustangues – C. do Rocha e Sambrasa – Caicó-Rn. 

Ai lembrei-me da Festa do Encontro de 2003. Era um sábado do rosário. Dr. Sales pôs em prática a brilhante ideia de reunir Os Águias após 26 anos de inatividade. A AABB lotada. Depois de o repórter pombalense Zé Vieira fazer uma síntese histórica do conjunto, finalmente Os Águias, repito, após 26 anos, voltava a se apresentar para o seu público. Claro que um público diferente. Muitos casados, outros separados e alguns ainda solteirões. Contudo, todos mais experientes. 

Enfim, ao som da música O Milionário (Os Incríveis), a festa começava e se tornava um momento ímpar, inesquecível e de rara felicidade. Foi enorme a comoção. Os casais – eu e minha esposa não fomos à exceção – se abraçavam, dançavam e choravam num só tempo. Era uma mistura descincronizada de ação e sentimento. Pura nostalgia. Como se aquele fosse o último momento. 

Afinal, eram dezenas de casais – hoje com famílias constituídas – que na condição de namorados acalentaram seus sonhos anos a fio embalados ao som desse conjunto. Simultaneamente o vocalista audacioso fazia referências nominais aos presentes lembrando a época e inflamando o estado emocional de cada par ou indivíduo. 

Ainda mergulhado nesse mar de lembranças me recordei das festas nos finais de semanas. Primeiro no Pombal Ideal Clube, com todo seu rigor, exigindo até passeio formal para s homens e esporte fino para as mulheres. Depois a AABB, Jovem Clube e Sede Operária. 

Lembrei-me até da “Sarraria”, clube improvisado na rua Domingos de Medeiros onde havia funcionado uma serraria. Daí, a razão da ironia e do deboche. Talvez fruto da imaginação radical de pessoas na inútil tentativa de denegrir a reputação da classe feminina frequentadora do ambiente. Era como se o local fosse destinado ao “sarro”, hoje “amasso” ou “pega”. Parece até que isso nunca havia ocorrido antes. 

Recordo-me ainda das reuniões na Praça Getúlio Vargas, bem defronte a estátua do ex. Presidente que inerte e silenciosamente assistia a tudo. Coincidência ou não, se não bastasse sua morte trágica por suicídio ou assassinato, o busto achava-se perfurado de balas. Com certeza, atitude de alguém que na calada da noite deu asas as suas frustrações praticando nefasta atitude. Assim, na presença daquela testemunha surda, cega e muda, porém viva na história, se conversava tudo. 

Ali se falava em namoro, filmes, a última prisão, a rigidez dos pais, a exigência do professor e os últimos lançamentos musicais tocados na Voz da Cidade, Lord Amplificador, Rádio Maringá, Bar Centenário, Sorveteria Tabajara e Cine Lux que já possuía a melhor discoteca da cidade e região. 

Impossível também não lembrar os encontros no Bar Centenário. Lá os jovens se reuniam para colocar o papo em dia, ouvir música e cortejar as garotas. Os rapazes na parte superior do coreto saboreando as bebidas comuns da época paqueravam as moças que em dupla ou grupos circulavam em volta correspondendo ou não com a paquera. 

Em síntese, relembrando fatos, eis a minha homenagem aos Águias, riqueza e patrimônio de Pombal. Literalmente voaram, mas deixaram belas recordações, momentos inesquecíveis. E, assim agradeço, pois entendo que recordar é uma forma de agradecer. Os Águias por sua vez sentem-se felizes. Feliz é aquele que na velhice se orgulha do passado e não se envergonha dos rastros deixados na estrada percorrida. O prêmio por uma coisa bem feita é tê-la feito. Reconhecer é nosso dever. Bem, um stop. Não que tenha dito tudo. Mas, lembrei-me de que quem muito fala, muito erra. Portanto, encerro na esperança de que na próxima revoada OS ÁGUIAS estejam novamente reunidos. E que eu esteja lá também. 

*Ex-Diretor da Escola Estadual João da Mata.
OS ÁGUIAS - O VÔO QUE PAROU NO TEMPO! OS ÁGUIAS - O VÔO QUE PAROU NO TEMPO! Reviewed by Unknown on 7/02/2008 08:24:00 PM Rating: 5

2 comentários

Anônimo disse...

Zé Vieira, parabens pelo texto que me avivou a memória e deu um testemunho da luta minha e de Verneck pelo resgate da memoria rescente de Pombal. São poucas as cidades do sertão que tiveram, do ponto de vista cultural e politico, tanta moviemtação como a nossa terrinha. "Os Aguias" fez parte dessa história e precisava ser resgatado.
Quem sabe um dia possamos reunir todos os texto desse blog em um livro.
jerdivan

Anônimo disse...

Zé Vieira, parabens pelo texto.Adorei de verdade. Voce vem se juntar aos filhos de Pombal que lutam pelo resgate da nossa história recente. Quem sabe um dia esses textos possam ser publicados.

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