banner

SEU NAPOLIÃO E A HONESTIDADE: UM SÓ PESO, UMA SÓ MEDIDA!


NAPOLIÃO BRUNET (Foto: Arquivo)


Primeira Reunião da Associação Comercial de Pombal Em 26-06-1962 (Foto direita)
CLEMILDO BRUNET* 

Falar sobre meu pai não é tarefa fácil. Isso porque, por ocasião de seu falecimento eu contava apenas 15 anos de idade. Era um adolescente que ainda não compreendia bem o sentido da vida e nem tão pouco o significado da morte. Estava na flor da idade começando a minha juventude. Éramos cinco irmãos: Clóvis, Carlos, Claudete, Cláudio e eu. Minha mãe Maria Brunet de Sá, conhecida por todos como dona Sinhazinha. 

Napolião Brunet de Sá nasceu em Pombal no dia 17 de novembro de 1906, filho de Julio Rabello de Sá e de Olindina Ramalho de Sá, sendo avôs paternos Aristides Rabelo de Sá e Olindina de Sá e maternos Napolião Carlos Brunet e Maria Ramalho. Casou- se com sua prima Maria Brunet de Sá (Sinhazinha), ela aos dezesete anos de idade e ele aos vinte um anos, no dia 30 de junho de 1928. 

Vítima de enfarto do miocárdio faleceu em sua residência a Rua Cel. José Fernandes, (rua do rio), ás 9 horas da noite do dia 28 de agosto de 1964. Naquele tempo quando uma pessoa tinha uma morte súbita o termo usado era colapso. 
Foi ele juntamente com José Nicácio Amorim (Zuza Nicácio), um dos fundadores da Associação Comercial de nossa cidade em 26 de junho de 1962, reunião essa realizada no auditório da Sede Operária Beneficente de Pombal. 

Em 08 de julho de 1934, participou também juntamente com o ex-Vereador José Benigno de Sousa (Lélé), da fundação da Sede Operária Beneficente de Pombal. Era partidário do antigo PSD e acompanhava de perto a política como correligionário do Deputado Janduhy Carneiro e do Senador Ruy Carneiro. Nunca mudou de partido. 

Guardo vagas lembranças do curto período que o conheci. Tinha uma massa corporal imensa chegando a pesar 110 quilos. Voz forte e grave. Certamente por ter um rosto cheio e redondo e pela corpulência de seu físico, quem o via pela primeira vez, tinha a impressão de que aquele homem fazia medo. Mas, não era nada disso. 

Meu pai nunca me bateu. Em meio às peripécias que eu fazia, bastava tão somente sua voz forte para atender de imediato ao que ele dizia. Nas madrugadas em que minha mãe me chamava para a aula de educação física do Colégio Diocesano e não atendia querendo dormir mais um pouco, ela falava para meu pai “Napolião! Clemildo não quer ir para a educação física”. Imediatamente ao ouvir sua voz forte, mesmo esfregando os olhos me levantava da rede como num passe de mágica. 

Certa ocasião estava eu e Claudete jogando ludo (tipo de jogo que as pedras se movimentam segundo o número indicado pelos dados), houve uma discussão e eu arremessei o copo com os dados na testa de Claudete que saiu chorando; Ele veio ao encontro da confusão e quebrou a tábua do ludo mesmo no meio acabando definitivamente com a competição. 

Numa enquete realizada com pessoas que conviveram com meu pai, pude ouvir sobre suas ações como cidadão e comerciante nesta cidade na década de 50 e início de 60. 

José Luiz de Sousa 90 anos de idade, lembra o tempo que trabalhou como balconista com seu Napolião na Padaria Vitória. Conheceu meu pai desde quando o mesmo morava no sítio Brioso. Na roça pai gostava de limpar o mato e certa vez sofreu uma picada de cascável. Dizem os mais antigos que a prática usada para curar a pessoa mordida de cobra era cuspir em algum líquido (mel ou leite) e dar a pessoa, esta por sua vez ficava curada. Seu Alexandre que já tinha sido mordido várias vezes de cobra morava no sítio Umarí de Antonio Martins, foi levado até meu pai que ficou livre dos ofídios venenosos da malacatifa. 

Conta José Luiz que foi convidado para trabalhar na padaria, mas ninguém quis lhe ensinar como mexer na massa, então pai mandou que ele ficasse trabalhando no balcão. 

Já o ex-operário Manoel Alves dos Santos, na intimidade Manoel das Broas, que trabalhou muitos anos com meu pai, conta que um dia Darciso, outro empregado da Padaria, chegou ressacado e começou a espanar as prateleiras. De repente derrubou uma caixa do perfume Miss France chegando a quebrar três vidros. O cheiro do perfume se espalhou e pai desconfiou. Indagado sobre o que estava acontecendo, Darciso resolveu confessar. Na ocasião pai ralhou com ele e disse que ia descontar no seu salário. No dia do pagamento Darciso recebeu seu salário integral, pois seu Napolião já o havia perdoado. 

Meu primo Onídio Brunet de Sá contou-me que no velório de meu pai o Padre Andrade chegou e disse assim: “O negociante mais honesto de Pombal era Napolião, o preço dele era um só”. 

Declarou Onídio que se alguém dissesse: “Seu Napolião acolá tem mais barato, ele respondia pode trazer a dúzia que eu compro”. E repetia diversas vezes. 

Segundo Onídio, Napolião, antes da padaria, possuía um caminhão ano 1941, nesta época ele fazia fretes levando cargas de algodão para Campina Grande e trazendo mercadorias para o comércio de Pombal. A estrada era de barro o percurso da viagem durava três dias entre ida e volta. 

Lembra Onídio, que trabalhou no balcão da Padaria e conheceu de perto os produtos de panificação. A famosa bolacha peteca, que ainda hoje se ouve falar. “Já não se faz bolacha peteca como a de seu Napolião”. 

Jerdivan Nóbrega em seu livro “Sob Céu Estrelado de Pombal” faz referência em um verso a “bolacha peteca de seu Napolião”. Outros tipos de bolachas: A comum e a canela- feitas com o mesmo tipo de massa e ainda os biscoitos cumpridos, além do pão, francês, doce e carteira. 

O estabelecimento comercial de seu Napolião era localizada a Rua Ten. Aurélio Cavalcante, 78 como Padaria e Mercearia e tinha a denominação de Padaria Vitória havendo seção de louças, alumínios e perfumes. 

Antonio de Cota, foi outro que conheceu meu pai no comércio. Ele disse que Napolião não tirava um tostão no preço da mercadoria, quando ia pagar sua conta ficava relutando pra ver se tinha um abatimento, mas, meu pai não cedia. Acontece que o método de seu Napolião era: Um só peso, uma só medida para um lucro honesto, aplicava tão somente 20% sobre o valor de custo. 

Outro testemunho que ouvi sobre seu Napolião foi do agropecuarista José Alves Feitosa (Zezinho Caboclo). Ele me disse que deve a educação de seus filhos a meu pai. O Sr. Chico Mendes pagou uma dívida a meu pai com uma casa que ele tinha no Bairro dos Pereiros. Certo dia seu Napolião foi à bodega de Zezinho Caboclo lhe ofereceu essa casa, Zezinho disse que não podia comprar; meu pai lhe entregou a chave dizendo: “a casa é sua você me paga da maneira que puder”. E assim, Zezinho Caboclo ficou com a casa que resgatou a dívida em três pagamentos. O valor total do imóvel foi de seiscentos mil reis. 

Segundo Zezinho Caboclo, meu pai era farrista dando a entender o modo brincalhão como ele tratava os amigos. 

José Cleonso Mouta me disse que Napolião gostava de um aperitivo antes do almoço e sempre passava pela Sorveteria Tabajara de propriedade de seu pai Afonso Mouta. As pessoas que o serviam sabiam do tamanho da dose que ele ingeria. Um dia José Cleonso estava só, nesse ínterim pai chegou e pediu o aperitivo. Ele pôs a dose na quantidade normal, pai então reclamou: “Eu não quero sobra menino”! E mandou encher o copo, só tomava uma e saía para almoçar. 

Depois de alguns anos acometido de problemas cardíacos, abandonou o aperitivo. Passou a frequentar os trabalhos da Igreja Presbiteriana, aos domingos participava da Escola Dominical e assim procedeu até o fim de sua existência.

Agradeço os depoimentos de dona Cessa, Socorro Dias, Afonso Josias, Juarez e tantos outros que não foram registrados aqui, mas que fizeram ótimas referências a meu querido pai. 

Assim era Napolião Brunet de Sá – Um só peso, uma só medida, para um lucro honesto! 

*RADIALISTA.

COMENTÁRIO DE MINHA PRIMA MARY LOIDE SOBRE NAPOLIÃO!

Clemildo tenho uma história para contar do seu pai: Por ocasião das férias eu gostava de me hospedar em sua casa e um dia resolvi que ia fazer um pavê de castanha para o almoço, para minha surpresa quando perguntei se ele queria, respondeu " sirva logo todo o mundo e depois passa o pirex para cá, porque eu vou comer a metade. Rimos muito e assim foi, depois que coloquei a porção de cada um ele se apossou do pirex e comeu ali mesmo e era mais que a metade. Quando eu perguntei se ele gostou ele respondeu prontamente "Se gostei? Amanhã pode fazer mais!”Aí então, eu fazia sempre algo diferente e ele se admirava porque eu sabia fazer tanta coisa gostosa. Lembro que ele não andava na calçada, andava sempre no meio da rua. Lá da porta da sua casa, a gente o via saindo da padaria em direção a casa, lá vinha ele remando pelo meio da rua e os carros respeitavam e paravam para dar passagem a ele. Pessoas honestas nunca ficam ricas. Assim foi ele e o meu pai. Tinham o que herdaram e só. Mas podemos nos orgulhar da honestidade e honra que eles tinham. 
Abraços de Mary Loide
SEU NAPOLIÃO E A HONESTIDADE: UM SÓ PESO, UMA SÓ MEDIDA! SEU NAPOLIÃO E A HONESTIDADE: UM SÓ PESO, UMA SÓ MEDIDA! Reviewed by Unknown on 7/11/2008 08:41:00 AM Rating: 5

Um comentário

Anônimo disse...

Sou neto de Sr Napoleão. Não o conheci pois, nasci sete anos após a sua morte. Desde criança sempre tive o desejo de conhecê-lo, pois na casa da minha avó estava o seu retrato que aguçava-me a curiosidade, além de algumas histórias que contavam sobre ele. Depois, na minha juventude pude perceber que meu avó era bastante conhecido pelos antigos, pois sempre que alguém queria saber sobre minhas referências eu informava que era neto de Sr Napoleão, fato que era logo reconhecido. Lembro-me certa vez quando trabalhei em Paulista, um comerciante falou-me ter conhecido e comprado muito a meu avô. Ele declarou " Ô comerciante de sangue bom! A mercadoria que me passava eu vendia" Sr Napoleão dizia podes levar que eu garanto". Outro cometário que ouvi a respeito de seu Napoleão foi sobre sua pontualidade aos cultos da igreja presbiteriana, ele e outro irmão eram os primeiros a chegarem na igreja, as vezes de baixo de chuva com guarda chuva e lanterna na mão. Também ouvia falar que a casa de meu avô era casa de hospitalidade. Não o conheci, mas guardo boa lembrança das histórias que ouvi, e tiro as minhs lições. Uma dessas lições é que Sr Napoleão foi um homem honesto em seus negócios prezando pelo bom nome neles. Ele não trabalhou para ficar rico, mas para manter sua família, não era ambicioso quanto ao lucro, mas o contentamento lhe marcava. Creio que a ele se aplicaria bem o provérbio bíblico que diz" Mais vale o bom nome do que as muitas riquezas; e o ser estimado é melhor do que a prata e o ouro" (Pv. 22.1). Ademais, tenho grande alegria sem saber que estava na igreja ouvindo da justiça que vem pela fé no filho de Deus, pois afinal o que importa de tudo nesta vida é saber dessa graça que salva o mais vil pecador. Rev. Clodoaldo Brunet da igreja Presbiteriana do Brasil.

Recent Posts

Fashion