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Último adeus a Waldick Soriano...

Waldick Soriano (Foto recente)
MACIEL GONZAGA* Eurípedes Waldick Soriano, nasceu na cidade de Caetité-BA, no dia 13 de maio de 1933. Foi um dos maiores ícones da música brasileira, que ele não gostava de chamar “brega”, mas, sim “romântica”. Filho de Manuel Sebastião Soriano, comerciante no distrito de Brejinho das Ametistas, em sua cidade natal. Um fato marcante de sua infância foi o abandono do lar pela mãe, a quem era muito apegado. Em Caetité viveu sua juventude, sempre boêmia, até um incidente num clube local, que o fez buscar o destino fora da cidade. Desde muito novo era um inveterado namorador e aventureiro e, seguindo o caminho de muitos sertanejos, foi tentar a vida em São Paulo. Antes de ingressar na carreira artística, trabalhou como lavrador, engraxate e garimpeiro.. Apesar das dificuldades, conseguiu se tornar conhecido nos anos 50 com a música "Quem és tu?", se destacava por suas canções sobre dor-de-cotovelo e seu visual revolucionário para a época: sempre usava roupas negras e óculos escuros. Seu maior sucesso foi "Eu não sou cachorro não", que foi regravada em inglês macarrônico pelo cearense Falcão. Também se tornaram conhecidas outras músicas suas, tais como "Paixão de um Homem", "A Carta", "A Dama de Vermelho" e "Se Eu Morresse Amanhã". Num dos programas do apresentador Jô Soares, o músico Ubirajara Penacho dos Reis (Bira) declarou que nos anos 60 tocava apenas os sucessos de Waldick. Na sua cidade natal, Waldick sempre foi tratado com certo menosprezo. Aristocrática, Caetité mantinha apenas nas camadas mais populares uma fiel admiração. Ali teve dois de seus filhos, gêmeos, de forma quase despercebida, em 1966. Em meados da década de 90, porém, a cidade teve num político o resgate do filho ilustre. O vereador Edilson Batista protagonizou uma grande homenagem, que nomeou uma das principais avenidas com o nome de Waldick. Pouco tempo depois, o SBT realizava ali um documentário, encenado por moradores locais, retratando a juventude de Waldick, sua paixão pela professora Zilmar Moura, a mudança para o sul. Silvio Santos aliás, protagonizou com Waldick uma das mais inusitadas cenas da televisão brasileira: no abraço que deram, foram perdendo o equilíbrio até ambos caírem, abraçados, no chão. Ali, então, simularam um affair, provocando hilaridade. Por tudo isto, Waldick Soriano faz-se símbolo, no Brasil inteiro, de um estilo, de uma classe social, e da sua manifestação cultural, pulsante e criativa. Tive o prazer de gozar da amizade de Waldick Soriano. Alias, aprendi a gostar de Waldick quando ainda morava em Pombal - por influência de um amigo deficiente físico “Chichico” - e “A Carta” fazia sucesso. Na década de 90, como Diretor de Jornalismo da TV Ponta Negra (SBT/Natal) fiz amizade com um grande amigo de Waldick, o empresário Joãozinho Santana, o maior amigo do cantor que, inclusive, já me telefonou dizendo que iria sentir muito a sua falta. Fui apresentado a Waldick e fizemos uma grande amizade. Ele, por algumas vezes, chegou a frenquentar a minha casa. Me contou, inclusive, que compôs a música “Eu não sou cachorro não” em Natal, depois que telefonou para Joãozinho ir lhe apanhar no Aeroporto Internacional Augusto Severo às 13h30 e só chegou por volta das 20h30. Joãozinho, revoltado e cansado de lhe esperar, reagiu com toda razão: “Fiquei lhe esperando esse tempo todo aqui. Você me fez de cachorro. Eu não sou cachorro não, viu!”. A reação de Waldick foi apenas dizer: “Isso dá música”. No trajeto entre o aeroporto e o Hotel, a música saiu. As coisas já estavam ruins nesse Brasil desmantelado e agora acabaram de piorar. Waldick Soriano morreu, digo, partiu desta para uma melhor neste dia 4 de setembro, quando estava internado no Instituto Nacional do Câncer (Inca), em Vila Isabel, zona norte do Rio de Janeiro. Foi embora, certamente para um lugar melhor, meu amigo velho, um dos maiores artistas desse nosso país. Sujeito de enorme talento, muitas vezes injustiçado e abandonado por quem não entende a verdadeira alma do povo brasileiro. A imagem que fica é a saudade de todos nós, os seus amigos, o povo brasileiro. Canta Waldick: “Hoje eu quero paz,/Quero ternura em nossa vida/Quero viver, por toda vida,/ pensando em ti”.
*Jornalista, Advogado e Professor. Natal – RN.
Último adeus a Waldick Soriano... Último adeus a Waldick Soriano... Reviewed by Unknown on 9/04/2008 07:42:00 PM Rating: 5

Um comentário

Anônimo disse...

Maciel,

Muito bom o seu texto a respeito do rei Waldick Soriano, apesar do preconceito cultural, antes mais do que hoje, WS teve 40 anos interrupto de sucesso. Nunca deixou de fazer seus shows, tendo seu nome sempre lembrado quando o assunto a preferencia da classe menos favorecida. São poucos os que, ao sintonizar o rádio, não paravam ao ouvir a voz de WS, cantando um bom brega.
Por ser um cantor do povo, foi discriminado, mas a vontade popular e não a mídia o elegeu Rei.
Eu conheci WS em Pombal, ele fez um show, se não me engano no PIC( ou foi em um circo?), sempre solícito e elegante, enquanto abastecia o carro no posto de Natal Queiroga, conversava com a moleca descontraidamente. Eu era garoto e foi a primeira vez que eu vi uma pessoa que parecia na TV cantando e de repente estava ali como um simples mortal fumando e rindo como se fora um de casa.
Deve, naquela época, três deixado algum herdeiro ai na terrinha.
jerdivan

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