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Som e sofrimento

Amigo Ronaldo
Acabo de voltar de Pombal, minha cidade natal, onde fui passar estes feriados com os meus pais. Pensava encontrar uma cidade mais calma, sem a parafernália daqui, sem ter que ser vítima da “sono pornografia" a que você se refere. Na praça principal de Pombal, onde passei minha infância embalada pelas modestas canções em difusoras instaladas nos postes, fiquei cercado por uns dez carrões com suas tampas erguidas, e o que mais observei é que os garotões ficam disputando o maior volume de som para seus veículos. Que loucura. Na virada do ano, eu tinha que gritar "Feliz Ano Novo" a um ou outro conhecido, pois era impossível dizer em voz baixa. Também vi os passos autômatos daqueles jovens infelizes pensando que são felizes demais. E realmente sem companhia feminina, geralmente grupos de 4 a 5 rapazes, nus da cintura para cima e com meio palmo de cueca saindo pelo cós da calça jeans. Algumas garotas, quando surgiam, geralmente se retiravam antes do fim da festa. Claro. Como iniciar um namoro sem o papo, já que os sons estavam sempre altos? Os kits de Ron montilla, ao lado de cada carro, integravam a cenografia desse ambiente de solidão disfarçada. Como vê, a epidemia realmente existe. E já chegou em Pombal. Lá, existe um clube no centro da cidade de uma grande importância histórica e cultural para o município. Trata-se do Pombal Ideal Clube, o lugar onde brinquei meus carnavais e onde dancei agarradinho em muitos "assustados", como se diz em nossa terra. O que mais me chocou não foi o fato de ver o clube fechado no dia de ano novo, foi ver a porta do clube servindo de sanitário a esses tristes playboys com caras de felizes.> Quero parabenizá-lo por sua bela crônica, porque passei o meu ano atravessando esse mesmo inferno que você viu em Cabedelo. E também porque penso em escrever às autoridades de Pombal, manifestando o meu protesto. Não tenho sugestões, como você pede. Talvez tenhamos que denunciar mesmo, fazer abaixo-assinados, ou do contrário estamos condenados a nunca mais bater um papo na mesa. Um grande abraço do amigo, com votos de feliz ano novo e muita literatura.
Tarcísio Pereira
Som e sofrimento Som e sofrimento Reviewed by Clemildo Brunet on 1/07/2009 11:12:00 AM Rating: 5

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