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ADEUS, FRANCISCO

PAULO ABRANTES DE OLIVEIRA*
Na manhã de 08 de dezembro do ano passado, chegou-me a infausta notícia vinda de Pombal. Naquela manhã, com certeza, violento enfarte do miocárdio fulminara Francisco de Assis Monteiro (Tassis), amigo de infância e colega de escola no Ginásio Diocesano. Dedicou-se muito cedo aos estudos de Eletricidade e Magnetismo, em Pombal, Campina Grande e João Pessoa, enquanto seu pai, Delmiro Inácio, selecionador fiscal de antiga Usina de algodão da cidade. Cuidava de vacas, bezerros e leite, na sua fazenda, à beira do rio Piancó. Saúde de ferro. Homem distinto e atencioso parecia mais um texano naquelas bandas do sertão. Francisco ficou por aí. Foi cuidar de Eletro técnica, o que mais gostava de fazer. Por pouco, não chegou a concluir o curso superior.
De uns tempos para cá, associava sua figura aos grandes bailes do Pombal Ideal Clube dos anos 60 e 70, época de muito romantismo e de esplendor dos clubes sociais no Brasil. Por esse tempo, Hamlet Arnaud, Marcílio Pio Chaves, Seu Bandeira e Cacilda Wanderley foram presidentes do Clube e promoveram, em suas gestões, memoráveis festas. O baile da Festa da Padroeira no 1º domingo do mês de outubro, por exemplo, era o ponto culminante do grande evento social – religioso da cidade, que se somava à tradicional e gigantesca procissão da cinzenta manhã do dia seguinte.
Nos concorridos bailes, exigia-se o traje completo. A moda feminina, então, pontificava e os últimos modelos davam a exata medida da elegante sociedade local. A procissão continua a crescer, é verdade, mas os grandes bailes desapareceram. Quem diria? Em seu lugar, surgiram os trios elétricos e as grandes bandas a tocar em praça pública para uma platéia irrequieta e enlouquecida. Veículos com potentes e ensurdecedores aparelhos de som infernizam a cidade durante as nove noites de festa.
Por aquela época, a Orquestra do Caribe e Super O’Hara, encantou o público sertanejo com o magnetismo da música caribenha, especialmente o bolero, a rumba, o mambo. Em Pombal, grandes bailes foram abrilhantados por essas maravilhosas orquestras. Nos bailes, ficávamos sentados a olhar Luiz Camilo dançar divinamente o bolero – dois pra lá, dois pra cá -, Francisco, compenetrado, simulando aprender, pescoço teso, vivendo os melhores dias de sua mocidade, mas, não atrevíamos de chamar ninguém pra dançar. Passávamos batidos pela forte timidez.
Integrava orquestra do Caribe a cantora mexicana Rubenita Cerqueira, encantadora e jovem, ligeiramente estrábica, de vestes sensuais. Em voltas pelo salão iluminado, interpretava “La Violetera” e oferecia rosas à platéia que calorosamente a aplaudia. Simpática. Costumava conceder autógrafos à rapaziada indócil. Por exemplo: “Al amigo Francisco, um recuerdo, com amor”. Pronto. Nasceu daí uma grande paixão que fez Francisco não esquecer mais essa orquestra, buscava saber do olhar, de um sorriso, de qualquer gesto afetuoso da jovem vocalista por este Nordeste afora.
Na Festa do Rosário, quando eu lançava o livro Gado Bravo em Pombal, abraçamo-nos, e ele ainda se recordava das palavras do último e definitivo aceno da jovem cantora mexicana: “Adios, muchacho!”.
Continuava a não perder festa no clube social da cidade. Calado, trocava poucas palavras com quem não conhecia. Educado, bem apessoado, era o cavalheiro cobiçado pelas jovens de sua idade. Não quis casar com nenhuma delas. Jovens que lhe levaram flores em sua última viagem. Ah, como Francisco gostava de ver Luiz Camilo dançar! Deve estar vendo-o dançar bolero no Céu: dois pra lá, dois pra cá; dois pra lá, dois pra cá ...
*Engenheiro Civil e Professor licenciado em Ciências pela UFPB.
ADEUS, FRANCISCO ADEUS, FRANCISCO Reviewed by Clemildo Brunet on 2/28/2009 05:45:00 AM Rating: 5

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