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O LORD AMPLIFICADOR DE POMBAL: SÓ NOS RESTA SAUDADE

ONALDO QUEIROGA*
Existem coisas que só encontramos na cidade do interior e jamais os habitantes das grandes cidades terão o direito de usufruir delas. Longe do corre e corre estressante das grandes metrópoles, o homem interiorano possui indiscutivelmente uma vida bem mais sossegada. Foi neste mundo do interior, na cidade de Pombal, que um dia um menino nasceu na confluência dos Rios do Peixe, Piranhas e Piancó. Na sua infância o dia amanhecia sob um sol forte que iluminava todo sertão e logo ele ouvia o som das guitarras dos “Incríveis”, entoando as músicas “O Milionário” e “Czardas”, que vinha de um sistema de difusoras que marcou época – O Lord Amplificador.
O tempo não tinha pressa, as horas naquele cenário de férias das décadas de 1970 e 1980 permitiam que o menino ficasse na sua rede, se balançando e ouvindo uma programação repleta de uma boa música, de notícias da região e do mundo, tudo sob o comando do inolvidável Clemildo Brunet, fundador no ano de 1968 do Lord Amplificador. A rede ia e voltava, e as difusoras a divulgarem imparcialmente notícias das atividades, econômicas, sociais, políticas e religiosas para boa parte da cidade.
E lá iam as horas, devagarinho caminhavam para o meio dia, instante em que o locutor encerrava a primeira parte da programação. Cumpria assim um ritual, permitindo que o silêncio tomasse conta daquele momento. É que o sertanejo na hora do almoço, fecha as portas do comércio, vai para casa e após o almoço se tranca em sua residência entregando-se a um cochilo, a um sono curto para lhe permitir enfrentar o calor da tarde.
Por volta das quinze horas, instante do tradicional lanche da tarde, o Lord Amplificador reiniciava sua programação. O menino, agora, ouvia o forró pé-de-serra comandado pelo velho “Beim”, que contagiava o entardecer sertanejo, pois a mistura do som das sanfonas e crepúsculo bulia intensamente com o âmago de todos. Foram as difusoras do Lord Amplificador que apresentaram ao menino, a voz, a sanfona e a obra de Luiz Gonzaga.
As dezoito horas o som das difusoras novamente silenciavam, ressurgindo por volta das dezenove horas, falando mais uma vez com seu povo, agora com uma programação bem suave, voltada ao romântico. Passava assim a acalentar os seus filhos, dentre eles, aquele menino, que lá na calçada casa do seu avô Antônio Rocha, ouvia a conversa e as histórias de sua avó Raimunda, olhava para o céu repleto de estrelas e para a sua lua encantadora. Ali ele aguardava o Lord Amplificador silenciar suas difusoras justamente as 21:00 horas, e quando isto acontecia, seus filhos após sentirem a suavidade do vento aracati, fechavam novamente as portas e janelas, e em seus lares se entregavam ao sono, com a certeza de que logo no novo amanhecer o som daquelas difusoras acordaria o sertão para mais um dia.
Aliás, o Lord Amplificador foi escola na formação de locutores, destacando-se neste ponto Clemildo Brunet, Genival Severo, Orácio Bandeira, José Ribeiro, Cezario de Almeida, hoje Professor da UFCG, Evilásio Junqueira, atualmente da TV Borborema, Evandro Junqueira, Ernesto Junqueira (in memória), João Costa, hoje no Portal – paraiba.com.br, o velho Beim e Massilon Gonzaga (Professor UEPB).
É uma pena que hoje só nos resta saudade, pois o “Som Direcional da Comunicação e o mais perfeito serviço de alto falante” emudeceu em 1985, apesar de que em sonhos, de vez em quando, ainda acordo ouvindo o som das minhas difusoras.
*JUIZ DE DIREITO.
O LORD AMPLIFICADOR DE POMBAL: SÓ NOS RESTA SAUDADE O LORD AMPLIFICADOR DE POMBAL: SÓ NOS RESTA SAUDADE Reviewed by Clemildo Brunet on 2/06/2009 10:18:00 PM Rating: 5

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