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O CARNAVAL

Por Severino Coelho Viana
A origem do carnaval inexiste precisão de data, há uma diversidade de exemplos de festas históricas que se combinam e se aproximam desta festividade. O carnaval é uma festa que tem origens na Antigüidade, mas não há um acordo sobre o evento que o criou. A época carnavalesca realmente é um período de descontração para enriquecer o imaginário social de histórias, lendas, fábulas, brincadeiras e figurinos hilariantes que deixam reminiscência de cada fase da história e do percurso de sua vivência materializada. As primeiras referências do carnaval estão relacionadas às festas agrárias. Essas festas se realizavam na primavera, quando as pessoas saíam das cavernas em que se protegiam do severo frio e comemoravam com cantos e danças o tempo que se assemelhava à primavera. Celebravam a alegria de poder ver o sol, de plantar, ter alimentos, afugentar os agouros e espantar as coisas ruins.
O primeiro foco de concentração carnavalesca se localizava no Egito. A festa era nada mais que dança e cantoria em volta de fogueiras. Os foliões usavam máscaras e disfarces simbolizando a inexistência de classes sociais. Depois, a tradição se espalhou pela Grécia, quando o Carnaval Pagão foi oficializado por Pisístrato como um culto a Dioniso na Grécia, e Roma, entre o século VII a.C. e VI d.C. No século VII a.C. e, termina, quando a Igreja Católica adota a festa em 590 d.C. Em Roma, havia a Saturnália, em homenagem a Saturno, deus da agricultura dos antigos romanos. As lendas dizem que Saturno pregava a igualdade entre os homens e foi quem ensinou a arte da agricultura aos italianos. Expulso do Olimpo, Saturno chegava com a primavera e era saudado com festas e um período de liberação das convenções sociais. Durante as Saturnálias os escravos tomavam os lugares dos senhores. Não funcionavam os tribunais e as escolas. Os escravos saiam às ruas para comemorar a liberdade e a igualdade entre os homens, cantando e se divertindo em grande desordem. Essas festas aconteciam de 17 a 19 de dezembro. Com a reforma do calendário e a inclusão de mais dois meses, julho e agosto, idealizados em homenagem aos imperadores romanos Júlio César e Augusto, foram transferidas para fevereiro. Há relatos de que no tempo das Saturnais todos os participantes e os escravos podiam dizer verdades a seus senhores indo até ao extremo de ridicularizá-los do jeito que bem entendessem.
A separação da sociedade em classes fazia com que houvesse a necessidade de válvulas de escape. É nessa época que sexo e bebidas se fazem presentes na festa. Em seguida, o Carnaval chega em Veneza para, então, se espalhar pelo mundo. Diz-se que foi lá que a festa tomou as características atuais: máscaras, fantasias, carros alegóricos, desfiles etc. O Carnaval Cristão passa a existir quando a Igreja Católica oficializa a festa, em 590 d.C. Antes, a instituição condenava a festa por seu caráter “pecaminoso”. No entanto, as autoridades eclesiásticas da época se viram num beco sem saída. Não era mais possível proibir o Carnaval. Foi então que houve a imposição de cerimônias oficiais sérias para conter a libertinagem. Mas esse tipo de festa batia de frente com a principal característica do Carnaval: o riso, a brincadeira...
É só em 1545, no Concílio de Trento, que o Carnaval é reconhecido como uma manifestação popular de rua. Em 1582, o Papa Gregório XIII transforma o Calendário Juliano em Gregoriano e estabelece as datas do Carnaval. O motivo da mobilidade da data é não coincidir com a Páscoa Católica, que não pode ter data fixa para não coincidir com a Páscoa dos judeus. O cálculo é um pouco complexo. Determina-se o equinócio da primavera, que ocorre entra os dias 21 e 22 de março no hemisfério norte. Observando a lua nova que antecede o equinócio, o primeiro domingo após o 14º dia de lua nova é o domingo de Páscoa. Como o primeiro dia da lua nova, antes de 21 de março, é entre 08 de março e 05 de abril, a Páscoa só pode ser entre 22 de março e 25 de abril. O domingo de carnaval é sempre no 7º domingo que antecede ao domingo de Páscoa.
O Carnaval brasileiro surge em 1723, com a chegada de portugueses das Ilhas da Madeira, Açores e Cabo Verde. A principal diversão dos foliões era jogar água nos outros. O primeiro registro de baile é de 1840, quando surgem fantasias de pierrô, colombina, militar, padre, diabo, odalisca, e outros trajes permitidos pela criatividade popular. Em 1855 surgiram os primeiros grandes clubes carnavalescos, precursores das atuais escolas de samba. No início século XX, já havia diversos cordões e blocos, que desfilavam pela cidade durante o Carnaval. A primeira escola de samba foi fundada em 1928 no bairro do Estácio e se chamava Deixa Falar. A partir de então, outras foram surgindo até chegarmos à grande festa que vemos hoje.
A origem do carnaval brasileiro é européia, através do chamado entrudo. O entrudo consistia em atirar água, tintas, frutos, papel e o que mais conviesse à festa em outra pessoa (às vezes a partir de uma sacada, contra um transeunte). Originalmente era um ritual de purificação, mas com o tempo ficou violento e acabou sendo proibido em 1856 no Rio de Janeiro, mas continuou a ser praticado clandestinamente. Surgiram no Rio de Janeiro os cordões, precursores das atuais escolas de samba. Os cordões caracterizam-se por grupos de pessoas acompanhadas por uma pequena banda de músicos, que percorriam algumas ruas da cidade.
No ano de 1899 Chiquinha Gonzaga compôs a primeira música especificamente para o Carnaval, "Ô Abre Alas!". A música havia sido composta para o cordão Rosas de Ouro. O carnaval de nossa cidade de Pombal, quando tinha, no alto sertão paraibano, terra-mãe de muito foliões, mas não posso citar todos, até porque se trata de uma festa popular, queremos destacar um, apenas porque nos reserva a memória, do Dr. Avelino Elias de Queiroga, autêntico folião, que sobressaía pela sua capacidade de liderança, gostava de brincar no meio do povão, que muitos chamavam de frasqueira, no entanto, isto era a identificação de autenticidade do ser humano que vivia na sua simplicidade.
Na minha infância de menino perspicaz, correndo nas ruas e avenidas de Pombal, da coronel José Fernandes ao bairros dos Pereiros, recordamo-nos de Dr. Avelino, logo cedo, no domingo de entrudo, dirigia no seu Jeep sem capota, com um tambor cheio de água, enchido no rio do Xiquexique, juntamente com seus velhos companheiros: Joãozinho, Vicente Candeia, Nelito, Valdery, Vidal, Cicinho etc. faziam questão de molhar homem, mulher e menino, além do mela-mela com maisena, no percurso das bodegas de Zezinho Caboclo e Biró de Epaminondas, no bairro dos Pereiros, tomavam uma caipirinha no barraco de Biró, na rua do Sol, e terminavam com uma multidão na sorveteria de Zé Preto, na rua cel. José Fernandes, depois seguiam para o Cacete Armado. Lembramo-nos que os velhos carrancudos diziam que só aceitavam ser molhados e melados, se fossem pelo Dr. Avelino, caso contrário, já viu... era briga feia!
No barraco de Biró, o meu velho pai, era uma parada obrigatória, pela feitura dos famosos tira-gostos: tripa assada, piaba torrada, buchada e galinha de capoeira com rubacão. O velho Biró, com a fidelidade que tinha ao compadre Avelino, preparava uma caipirinha no capricho, cana-de-cabeça, mel de abelha e limão, com açúcar era para os outros, que guardava num garrafão especial. Na segunda metade da década de 70, o que vivenciamos e lembramos, no folia de rua, destacavam-se Bloco de Sujo, Jovem Club, os Arrochados e o Folharal, além do tradicional corso na tradicional Rua Nova. Saudade. Lembrei-me de Clemildo Brunet – “SAUDADE NÃO TEM IDADE”.
À noite, o carnaval continuava no Pombal Ideal Club e na Sede Operária, que se concebia perfeitamente a distinção de classe social. No ideal clube viam-se as fantasias suntuosas, enfeitadas de plumas e paetês, além dos confetes e serpentinas, com a animação de uma orquestrada contratada de outra cidade. Na sede Operária, o predomínio do murim, da chita florida e às vezes, do cetim, ornados de papéis luminosos. A atração na Sede Operária era o calor humano, era uma animação sem igual e sem cansaço, era a alegria redobrada no rosto dos foliões, o passo cadenciado na ponta do pé, o remexido de corpos, o balançar dos quadris, que a cada repique dos clarins, a euforia se elevava aos céus. O contágio carnavalesco ficava por conta dos músicos: Tié, Adamastor, Laércio, Josafá, Biró de Epaminondas, Zeilto Trajano , Zezinho Sapateiro, Manoel de Donária, Seu Eliseu, Ribinha, além de outros. Na quarta-feira de cinzas, no amanhecer do dia, havia o encontro das duas correntes de foliões que se misturavam num só sentimento: SER FILHO DE POMBAL, e o carnaval ter terminado em paz.
João Pessoa, 20 fevereiro de 2009.
SEVERINO COELHO VIANA
O CARNAVAL O CARNAVAL Reviewed by Clemildo Brunet on 2/21/2009 07:04:00 AM Rating: 5

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