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O ARGENTINO

ONALDO QUEIROGA*
Todo mito, toda lenda, todo aquele que constitui uma grande expressão, um exemplo a ser seguido, seja dos nossos recantos nordestinos ou mesmo figura de outras terras, sem duvida, tem sempre a vida marcada por peculiaridades que são incomensuravelmente decisivas na formação do reconhecimento desse gênio.
Aquele menino lá da Caiçara, um dia resolveu voar com asas brancas do seu destino. Deixou o seu torrão, tornou-se homem, sanfoneiro, compositor, cantor e rei do baião. O matuto teimoso conquistou o mundo, fez-se mito e lenda desses sertões e consigo os comportamentos, os atos e os gestos que o tornaram o próprio Nordeste.
Joquinha Gonzaga, seu sobrinho, hoje considerado o guardião do Parque Aza Branca, no Exu, pessoa que viveu muito na companhia do Rei do Baião, seja nas caminhadas e viagens por esse Brasil afora, certa vez nos relatou alguns episódios vividos ao lado do Luiz.
Conta o Joquinha, que Gonzaga era um homem de um grande coração, confiava em pessoas de pronto e, sem nem conhecer profundamente já acreditava no cabra. E por isso, sofreu muitas decepções durante sua vida. Um certo dia, lá estava Luiz Gonzaga e o seu sobrinho Joquinha, de manhã cedo, numa lanchonete no Braz, em São Paulo. O local era simples, mas do gosto do Lua. Tomavam o café quando começara uma movimentação estranha no leito da rua. Logo em seguida, ouviram tiros e o corre-corre se alastrou. O pessoal começou a entrar na lanchonete e aos gritos as pessoas diziam que era um assalto e a polícia ali trocava tiros com os bandidos.
No meio desse tumulto, Gonzaga permanecia calmo e, quando tudo se normalizou, um sujeito olha em direção ao Lua e diz: o senhor é o rei do baião! O cidadão era um argentino que por ali transitava. Pessoa de conversa fácil tratou logo de jogar confetes e elogios para o Gonzaga. E conversa vai e conversa vem, o argentino ganhou a confiança do Luiz.
Luiz, ao saber que o estrangeiro estava desempregado, num repente convida-o para ser gerente de suas fazendas, lá para as bandas do Exu-PE. Acertado o salário e a viagem, lá fora o argentino em busca dos carrascais do Araripe. Joquinha, não sentindo firmeza no acerto, retrucou e questionou: Tio Gonzaga, como é que o senhor conheceu esse argentino agora e já contrata o homem para gerenciar suas coisas? E, mais, sem que o senhor esteja por perto para fiscalizar? Gonzaga, então, respondeu: Joca o homem é bom, eu senti confiança!
Ao Chegar no Exu, o argentino abriu uma conta bancaria e de vez em quando ligava para o Lua, o qual depositava os valores estipulados. Três meses depois, o argentino anoiteceu e não amanheceu, deixando as fazendas no chão e sua conta bancaria lá em cima. Luiz olhou para o Joca e disse: Eita argentino dos seiscentos diabos! Esse sertanejo de chapéu de couro e gibão tinha no seu jeito de ser a simplicidade, a sinceridade, a espontaneidade e realmente um grande coração. Na boa fé ajudava muitos irmãos e quase sempre recebia a ingratidão e a trapaça como resposta. Viva o rei do Baião.
*JUIZ DE DIREITO.
O ARGENTINO O ARGENTINO Reviewed by Clemildo Brunet on 3/03/2009 02:55:00 AM Rating: 5

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