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POMBAL: COISAS QUE O TEMPO LEVOU!

Francisco Vieira*
Caminhando despretensiosamente pelas ruas centenárias de Pombal, constatei mudanças que ocorreram ao longo dos anos. Na verdade, um quadro inusitado, melancólico e desagradável, pintado pelo tempo que tornou a cidade mais carente.
Refletindo preocupado, conclui entre outras coisas que a máquina do tempo não pára, é dinâmica. Que seu movimento constante produz resultados diversos; ora positivos ou negativos. Ele é sutil, quase imperceptível. Entretanto, às vezes passa como um vendaval e com uma força incomum, destrói preciosidades, deixando em troca marcas que o próprio tempo, como o tempo, não consegue apagar É que ele aniquila tudo, exceto as lembranças.
Quão grande foi minha surpresa ao ver o DNER, a SAMBRA e BRASIL OITICICA, desativados, e o que é pior, transformados em ruínas. Que diriam seus administradores: Jovem Assis, Seu Inácio, Zé Leite, Zé Assis e Lessa, que comigo e a população, assistiram a formação de filas gigantescas de veículos e utilitários ao longo da rua, João Pessoa, transportando a matéria-prima – oiticica – extração vegetal ainda abundante na região.
Como gostaria de ver novamente o “Avião da Brasil”, trazendo seus diretores, todos americanos. Dava gosto vê-los em “convertation”, embora que de inglês não entendesse patavina. Mas, não gostaria de lembrar que o mesmo avião, ceifou impiedosamente a vida de Afonso Mouta, proprietário do Cine Lux, enlutando a cidade.
Tamanha foi à admiração com o fechamento do único cinema da cidade. Logo o Cine Lux, que fora palco de grandes exibições cinematográficas, shows de artistas renomados e de calouros, onde o patrocínio das Lojas Paulistas, Café Dácio, Macarrão Martoci, Loja dos Pobres significava a garantia do prêmio, a recompensa. Antes, ponto de encontro e referência como o melhor em som e projeção do estado, motivo de orgulho para todos; hoje, prédios residenciais. Somente lembranças. Sua fachada ainda intacta lembra e machuca muito mais.
Com idêntica estranheza vi em lugar do Ginásio Diocesano, outra escola, tal qual o Colégio “Josué Bezerra” – antes Escola Normal “Arruda Câmara” – ambos extintos. Prática dessa natureza ratifica o adágio popular: “descobriram um santo para cobrir outro”. Dos males é o menor em comparação com o Grupo “José Avelino”. Infelizmente o “Grupo do Rói”, como era popularmente conhecido, foi reduzido ao nada. E, por falar nisso, nem mesmo o baixo meretrício existe mais. Em seu lugar o progresso – se é que posso assim chamar – oferece um ambiente mais aconchegante denominado de motel, destinado a casais para encontros amorosos.
Também a Casa da Cultura – antiga Cadeia Velha – não foi poupada. Como que no ostracismo sofreu os efeitos maléficos da exclusão. Durante algum tempo no abandono, seu acervo que deveria ser guardado como bem patrimonial, foi esquecido, sinal evidente de insensatez, desrespeito e desvalorização à nossa história. A cadeia velha, outrora palco de grandes episódios, inclusive de encenações do primeiro filme paraibano de longa metragem: “Fogo - O Salário da Morte” ficou a mercê do descaso de autoridades que ignoram a sua importância. Entregue ao desprezo, oferecia livre acesso aos cães e gatos que se utilizavam de suas dependências mal cuidadas ou descuidadas para satisfazer suas necessidades, até mesmo para procriar e morrer. Resultado: o que já era pouco e limitado reduziu-se a quase nada. Grande parte da nossa história se foi não sei prá onde e nem sei prá que. De certo para não mais voltar.
Atônito, constatei também, que até mesmo a Festa do Rosário – nossa festa maior – não é mais a mesma. Infelizmente o espírito de religiosidade está cedendo espaço para os interesses econômicos e profanos. Como é estranho não contar com a presença do Parque Maia; não ouvir Manuel, com sua voz melodiosa e tonalidade acentuada animando as noites, divulgando as diversas opções de divertimento e anunciando os sucessos musicais mais recentes – todos em vinil – que eram oferecidos pelos casais apaixonados, como prova de amor. E, entre tantas, a mais hilariante dedicatória: “alguém oferece a outro alguém”. Nem mesmo “O GRILO”, jornalzinho de fofocas de responsabilidade de Dr. Lourival Pereira de Oliveira, infelizmente não circula mais. Até mesmo o espírito esportivo da festa o tempo destruiu. Hoje, o que existe de fato é um jornal de caráter político, escrito exclusivamente com fins promocionais em benefício dos que se acham no poder. Nele o que menos se fala é na festa do rosário.
Prosseguindo a caminhada, continuei na busca perdida do que não mais existe. Busquei à toa as grandes festas dançantes do Pombal Ideal Clube e Sede Operária. Esperei em vão na plataforma da estação ferroviária a chegada do trem de passageiros que se foi e não mais voltou. Também busquei sem encontrar a primeira concessionária da Chevrolet do sertão, instalada na década de 40, à rua, Joubert de Carvalho. Seu gerente é atualmente diretor proprietário das tradicionais Casas José Araújo – “onde tudo é mais barato”. Da mesma forma procurei perdidamente as agências do Paraiban, Bradesco e Algodoeira “Paulo Pereira.”, transformada em cooperativa e hoje em estado de liquidação, onde suas dependências se transformaram em depósitos de ferro velho.
Em que pese ser uma cidade centenária, Pombal mostrou-se acomodada no passado; assistiu indiferente o desenrolar do progresso em sua volta, ação passiva que lhe custou à perda de espaços e subordinação a outros municípios. A propósito, citamos como exemplo: Receita Federal, Núcleo de Saúde, Região de Ensino, Delegacia do Serviço Militar e Cagepa, sediadas em Sousa, assim como a Superintendência da Receita Estadual em Catolé do Rocha. E, Pombal, embora mais antiga, rendeu-se a elas, contrariando o ditado de que “antiguidade é posto”. Como que num sentido figurado, hipotético e alegórico, tornou-se costumeiro se dizer: “o que é bom não chega a Pombal, vai sempre para outro lugar”. Seguindo esse pensamento, Joquinha Queiroga, com seu espírito jocoso, ironizou dizendo: “Pombal tem a sorte tão mesquinha, que até uma tromba d’água que lhe foi destinada, foi desviada para a cidade vizinha. Que moleza”.
Enfim, um alento: o “Sinhá Carneiro”, primeiro hospital da região, construído pelos esforços do saudoso Mons. Vicente Freitas”, fechado há anos, acha-se de cara nova, graças ao trabalho incansável de Dr. Eliseu José de Melo Neto, portanto, digno do nosso respeito, aplauso e louvor. Com certeza, depois de reformado esta criança terá muitos pais.
Infelizmente, quase nada mudou. O descaso continua. Assim é que vemos com tristeza e revolta a torre da Igreja de N. S. do Bom Sucesso – nosso maior templo religioso - prestes a ruir. Enquanto isso, as autoridades permanecem de braços cruzados esperando o pior acontecer. Louve-se aqui o esforço do pároco Padre. Ernaldo José de Sousa e a população unida no sentido de solucionar o problema e evitar que mais um marco histórico seja destruído e caia no rol do esquecimento.
Diante desse quadro constrangedor e revoltante me vem naturalmente à indagação lógica: que razões motivaram tais atitudes que inibiram nosso desenvolvimento e desnortearam nossa história? Disposto a não ferir com a descrição da verdade nem tampouco desagradar com justiça, prefiro não fazer referências a ninguém. Enfim, somos todos responsáveis. Acredito ser esta a resposta mais coerente. O mínimo que podemos fazer é reclamar das autoridades constituídas; atitudes sempre constantes de Jerdivan Araújo, Inácio e José Tavares, Romero Cardoso, Werneck Abrantes e outros que também amam Pombal. Somos todos fidelíssimos escudeiros do nosso patrimônio histórico.
Seguindo a mesma visão lendária da Cabocla Maringá, inspiração poética e musical de Joubert de Carvalho e que se tornou mais que uma canção – um Hino, pergunta-se: qual seria a sua reação se ela aqui voltasse? Certamente, não seria outra, senão, revolta e indignação. Decepcionada por não encontrar o desenvolvimento que o tempo, em tanto tempo não construiu, seria retirante outra vez e deixaria novamente o coração do caboclo desassossegado.
Bem, basta de lamentações; chega de pessimismo, pois sentimentos dessa natureza só nos levam ao sofrimento. Acreditemos que novos ares virão e com eles o progresso para justificar nosso amor e orgulho pela terrinha. Afinal, ainda vale a pena ser pombalense.
Portanto, guardemos de Pombal as mais remotas e jubilosas lembranças de tudo que o tempo levou. E, lembrando, o façamos como alerta na esperança de que os erros cometidos no passado servirão de lições para uma arrancada em busca do desenvolvimento que não veio. Não deixemos o tempo destruir nossa história. Nós somos responsáveis.
SALVE POMBAL, A TERRA DE MARINGÁ.
*Professor e Ex-Diretor da Escola Estadual João da Mata
POMBAL: COISAS QUE O TEMPO LEVOU! POMBAL: COISAS QUE O TEMPO LEVOU! Reviewed by Clemildo Brunet on 4/19/2009 04:16:00 AM Rating: 5

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