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DA TELEVISÃO AO PRIMEIRO SÁBADO SEM O CINE LUX

DO CINE LUX...
Cine Lux (Foto Arquivo) O QUE RESTOU
Jerdivan Nóbrega de Araújo*
As horas avançavam... Já se passavam das dez horas da manhã e Gregório ainda não havia exposto, ali no Mercado Público, entre a barbearia de “seu” Antônio Guerra e a relojoaria do seu Edvaldo, bem ao lado do Barraco de Ninito de Nouvinho, o cartaz anunciando o filme daquele dia. Em mais de 20 anos isso nunca havia acontecido antes.
A televisão trazia à Pombal as notícias e novidades do Brasil e do mundo. A novela Ídolo de Pano foi um sucesso e, de certa forma, prendeu o pombalense em casa. Mas, as noites de sábados ainda tiravam as pessoas dos “pés” da televisão para levá-las à Igreja, ao cinema ou ao simples bate papo nos banco da Praça Getúlio Vargas ou Bar do Centenário. A AEUP e o Jovem clube de Pombal aguardavam a chegada das férias dos estudantes Universitários para abrirem suas portas em memoráveis assustados ao som das discotecas com as Frenéticas e Miss Lene e Celi Campelo. À tarde, Lolita e Airton Rodrigues prendiam a atenção dos pombalenses na TV, apresentando as música e artistas que mais tarde seriam ouvidos nas difusoras do Lord Amplificador e do próprio Cine Lux.
O passeio das moças e rapazes, de mãos dadas enamorados em volta da Praça do Centenário já eram coisas do passado. Elas já haviam trocado os passeios por sonhos e suspiros ao pé da enorme caixa de “abeia”, como dizia Bihina da televisão recém chegada. Nem mesmo a Sorveteria de Bernardo e Os Aguias as atraiam mais. A disputa entre a novidade da TV e a vida lá fora era desigual.
Um sábado sem cinema era uma coisa inconcebível para quem cresceu assistindo a troca dos cartazes, ouvindo as músicas nas difusoras daquela velha e saudosa casa cinematográfica, aplaudindo Faroestes, Tarzan, Mazarope ou simplesmente parado ali vendo os filhos de Pombal entrar e saírem comentando o filme da noite, andar cambaleante de Padre Andrade ou o estresse de Galdino, com a lanterna, ofuscando os olhos dos mais “gaiatos” como Saburá. O que fazer neste sábado em que, por algum motivo a nós não explicado, sem que nos fosse pedido permissão, como se aquele cinema fosse dele, alguém deixasse de exibir a fita naquela noite?
Certamente foi esquecimento. Um sábado sem cinema é o mesmo que uma noite sem estrelas. Mas se algum desavisado olhasse para o céu, veria que havia menos estrelas naquele céu sempre tão estrelado, do que alegria nos olhos dos jovens filhos de Pombal. Ficamos pasmos, em frente ao Cine Lux, onde as molduras onde eram colocado os cartazes dos filmes “Em breve”, anunciavam em uma pequena placa escrita “HOJE,” e “AMANHÔ um filme que não mais ali se veria. Apenas a flanela vermelha, desgastada e cheia de grampos fazia a vez do cartaz.
Resto de bilhetes (foto)
No frontispício do prédio, uma difusora muda mais parecia o olho de golias a nos culpar. O luminoso vermelho com o nome CINE LUX já há meses perdera as letras “C” e “X”. O “ine ux” já agonizava em seu The end enquanto que, compenetrados dentro do nosso egoísmo, não ouvimos seus lamentos e pedidos de socorro. A televisão não nos deixou ver. A bilheteira não abriria naquela noite.
Meia dúzia de apaixonados, senão por cinema, pelo menos pelo velho e bom Cine Lux, enxugava os olhos que, fixos, exibiam como numa grande tela panorâmica, todo o passado daquela casa de exibição. Desolação, tristeza, vontade de voltar no tempo ou simplesmente que nos dessem uma explicação. Queríamos tão pouco!
— O que eles pensam que são para fechar o nosso cinema sem nos pedir permissão? E o sonho que eu tinha de um dia entrar ali de mãos dadas com o meu filho? Não havia mais nada a fazer. Voltamos pelo mesmo caminho que antes fazíamos comentando o filme que havíamos acabado de assistir. Só que dessa vez não havia filme a comentar. A fita quebrou e não apareceu ninguém para consertá-la. Era um the end, numa história tão triste que não tínhamos comentários. Apenas lamentos.
Compramos pipocas e fomos a assistir a demolição do velho sobrado onde funcionava o Bar Morcego. Tínhamos certeza que aquilo também não era verdade. Era apenas um filme de ficção exibido em praça pública. No amanhecer do próximo dia, o velho sobrado branco estaria ali simbolizando uma época. Afinal, que mente mais doentia, que homem mais ganancioso seria capaz de numa mesma noite jogar por terra o sonho e a vida de toda uma população que outrora se achou no direito de ser feliz?
Se amanhecesse o dia e não houvesse mais o cinema, o sobrado, o apito do trem Asa Branca nem a fumaça incômoda da Brasil Oiticica, não haveria também mais Pombal. Não haveria, no entanto, mais nenhum motivo para eu estar ali.
*Escritor Pombalense.
DA TELEVISÃO AO PRIMEIRO SÁBADO SEM O CINE LUX DA TELEVISÃO AO PRIMEIRO SÁBADO SEM O CINE LUX Reviewed by Clemildo Brunet on 5/02/2009 08:53:00 AM Rating: 5

3 comentários

Clodoaldo Brunet disse...

Lamentável o que aconteceu com o Cine Lux. O espaço da arte e do entretenimento foi esquecido. Se houvesse vontade politica aquele espaço seria lugar da cultura Pombalense, lugar de apresentações artísticas e coisas do gênero. Além de preservar a história da nossa cidade.

Anônimo disse...

Jerdivan, mais uma vez entrei no barco das recordações, com vc. Que história fantastica e emocionante. Não para os novos Pombalênses, porem , para nós filhos de Pombal dos anos 50 e60. Felizmente, eu não residia mais em Pombal na época da desmonarização do nosso Cine Lux. Tenho histórias lindas, assistindo filmes, que marcaram à época. Quantos namoros, Quantos flêrtes na frente do Cine. Vou parar, meu amigo! Já estou chorando Um abraço, e muito obrigado por um artigo tão cheio de sensibilidade e recordações.. Socorro Dias filha de Pombal com muito orgulho.

NOTÍCIAS DE POMBAL disse...

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