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ELOGIO AO EGO

Por Severino Coelho Viana*
A crítica destrutiva é um mal que às vezes atormenta o autor, mas esta temeridade só recai em cima dos inseguros, dos fracos de posicionamento e dos imaturos de conhecimento do tema que se propôs a dissecar, principalmente quando o mal destruidor advem de origem por uma despeita pessoal ou nascido de um sentimento invejoso.
Sabemos que escutar adjetivos poucos lisonjeiros a respeito de tarefa ou trabalho literário, quando o autor consumiu horas de sua vida debruçado sobre o papel ou alinhado ao computador não é realmente nada agradável ver distorcido o trabalho realizado com afinco, dedicação e amor. Observemos de onde foi atirada a seta venenosa e de quem partiu a mira e qual o alvo que quer atingir com uso da cavilação.
A crítica construtiva, por ser benéfica, não deve ser desregrada ou ilimitada no sentido de saciar o narcisismo do autor. Esta deve ser refletiva com base num raciocínio verdadeiro, que não seja somente para agradar o seu parente próximo nem o seu amigo íntimo. Deve ser tão verdadeira que somente depois de uma leitura segura e benfazeja que seja dirigida uma mensagem ao autor, alertando os pontos: positivo e negativo. Já o autor, por sua vez, não deve especular a leitura, forçar um comentário ou tentar um elogio repentino ou imaturo, que poderá cair na armadilha do ato enganoso e sair exalando ar de impureza.
A leitura, nos seus diversos ramos, (romance, crônica, conto, poesia etc.) traz um desejo de satisfação pessoal e o alívio de uma boa viagem num terreno antes desconhecido. Através da leitura, todos nós aprendemos a ler e a contar história, a escrever com desenvoltura e a pensar com mais lógica; conhecemos os grandes pensadores e aproximamo-nos dos escritores clássicos; perquirimos os grandes textos sagrados, legamos boas lições da história e os avanços da ciência; identificamos os valores que regem as sociedades modernas e rebuscamos o conhecimento das sociedades primitivas; aprendemos a sonhar com outros mundos e recriamos utopias; às vezes nos deparamos com o riso ou com o choro; aprendemos a rezar em nome da paz e adquirimos a sensação de amor ao próximo; achamos as minudências que nos cerca e descobrimos as sutilezas que rodeiam a nós próprios.
A leitura torna-se um sistema de estrutura essencial para o exercício da nossa inteligência e serve como instrumento para nossa ginástica mental, que se firma no binômio: comunicação/informação. Afinal, a leitura amolda definitivamente a nossa memória, refaz a nossa identidade individual e reforça o nosso sentimento coletivo, bem como transforma a nossa visão de mundo.
É a reflexão sobre a leitura que nos leva ao caminho da crítica construtiva, que se firma como lema no ideal do aperfeiçoamento. A crítica é construtiva quando alerta sobre algum erro (de qualquer ordem) que pode/deve ser corrigido. Quem não erra? Quem é o dono da verdade absoluto? Quem é ilimitado dentro da cultura geral. Este é o ponto fundamental que leva às coisas se acertarem.
A crítica é construtiva quando se faz uma observação para alguma pessoa com o único interesse que ela melhore, progrida, cresça, apontando suas falhas e buscando ajudar para que ela reconheça e chegue ao ponto de equilíbrio entre o certo e o errado. Salientar pontos positivos e mostrar pontos negativos, este é o guia de orientação correta que são as bases da crítica construtiva.
Há pessoas que se consideram intocáveis no mundo insondável de sua consciência e traz um peso de sentimento no seu nível de cultura, que não aceitam a menor palavra de contrariedade aos seus próprios brios e aos seus trabalhos literários. De uma sensibilidade a flor da pele. Esta pessoa precisa de uma reciclagem nos seus próprios sentimentos. Ouvir a crítica também é questão de saber aproveitar o tijolo arremessado para, posteriormente, fazer alguma construção. No entanto, existem aquelas pessoas que não admitem que se lance sobre elas nem um grão de areia. Se a base do seu castelo de sonhos foi construída na solidez do solo petrificado não há o que temer dos pingos de areia molhada!
A crítica é uma excelente forma de expressão até o momento em que ela toma o lugar do assunto criticado. Toda crítica passional é suspeita. Independente do que está sendo criticado. A boa crítica é aquela que analisa o que é belo ou bom, segundo o que é verdadeiro e filtrado pela razão, afastando o estado emocional.
Antes de descer o verbo em tudo que pensamos e achamos que é errado, sem que antes observemos a nossa própria pequenez, é importante refletir com profundidade em que realmente se fundamenta a nossa indignação. Mesmo em coisas simples. Vemos um buraco na rua logo ficamos indignados por que o maldito governo capitalista é corrupto e deve ser derrubado, ou o problema é realmente o buraco que incomoda quem passa por ali? É claro que o buraco é consequência desta corrupção, mas o objetivo real de acabar com ela tem que ser os buracos e não a simples raiva contra o sistema. Na leitura, no texto de um desafeto, somente por que este é autor, não significa que não presta. Será que todo o conteúdo foi perdido, nada o agradou?
A pior situação vivenciada dá-se quando o autor é movido por uma vaidade incomensurável ou procura concorrer com os outros na tentativa de mostrar que o seu trabalho é superior ao demais. Neste caso, torna-se tão pequeno quanto o grão de areia molhada. Não passa dos limites do seu egoismo individual.
A leitura é um estado de espírito emocional, de acordo com o momento que se está vivendo e o conteúdo está em união e compatibilidade com as linhas deste estado emocional, o trabalho merece o elogio desejado, mas se ocorrer o contrário, não rasgue da primeira à úlitma página e não se pode também jogar na lixeira. Passando este estado emocional repentino, numa outra situação aquele mesmo trabalho literário poderá ser aplaudido e colocado em destaque no travesseiro de sua vida. João Pessoa, 18 de junho de 2009.
*Promotor Público em João Pessoa-PB.
ELOGIO AO EGO ELOGIO AO EGO Reviewed by Clemildo Brunet on 6/18/2009 07:27:00 PM Rating: 5

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