banner

OS DEMÔNIOS SÃO DIVINOS.

Francisco Vieira*
Calma! Não é ateísmo, heresia nem blasfêmia. Os demônios a quem me refiro são: OS DEMÔNIOS DA GAROA - conjunto musical mais antigo em atividade em nosso país.
Contrariando a opinião de alguns críticos, principalmente os mais radicais – pra não dizer bairristas – de que somente no Rio de Janeiro se faz samba, o conjunto paulista “Demônios da Garoa”, mostra exatamente que esse ritmo não é exclusividade do carioca. Na verdade, o samba, não é propriedade nem privilégio de ninguém. Sabe-se, entretanto, que tem origem no processo de migração afro descendente que ao adentrar o Brasil, trouxe consigo o ritmo, conforme se manifesta de diversos tipos e maneiras nos quatro cantos do país. Em suma, está ligada diretamente aos batuques e manifestações rurais. Enfim, está mais que comprovada a influência africana manifestada com a presença sonora dos tambores nas festas populares, inicialmente na Bahia e depois no Rio de Janeiro, pelos escravos.
Com o passar do tempo, o ritmo que sofreu modificações, invadiu as cidades, atingiu a popularidade, tornando-se a dança nacional brasileira, sendo por isso, reconhecida pelo IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, como patrimônio cultural do Brasil. Portanto, o samba está inserido no nosso corpo - no sangue e na alma. É um ingrediente a mais que circula ritmado para controlar as batidas do coração. Aliás, dizem até que o coração do sambista não bate - balança. Funciona como uma fonte de energia que faz mexer o corpo, o espírito e a alma.
O conjunto “Os Demônios da Garoa” é oriundo do Bexiga, bairro da capital paulista. Surgiu na década de 1940, com o nome de “Grupo do Luar”, devido suas apresentações no período noturno. Sua primeira apresentação ao público ocorreu em 1943, no programa de calouros: “A HORA DA BOMBA” na Rádio Bandeirante, do qual foi vencedor, ganhando contrato com a referida emissora. Logo em seguida, nos anos de 51 e 52, foi campeão do carnaval paulista com as músicas “Malvina” e “Joga a chave”. Portanto, já começou grande. Tempo depois passou a chamar-se “Demônios da Garoa”, nome escolhido pelo público através de concurso promovido pelo radialista Vicente Leporace.
Seu nome, embora pareça de mau gosto, nada tem de pejorativo ou maligno. Esta denominação – diga-se de passagem – bem sugestiva, está associada ao fato de que as músicas do repertório que nada tem de demoníacas são irresistíveis e cantadas à noite para animar e aquecer os casais na aconchegante garoa paulista.
Na verdade o conjunto projetou-se a partir de 1949, quando seus membros conheceram o compositor Adoniran Barbosa, por ocasião das gravações do filme O Cangaceiro. A partir desse momento se formava uma parceria entre ambos tendo o conjunto gravado seus principais sucessos e alcançando o reconhecimento musical do público. Foi o casamento que deu certo. Ainda hoje não há como separar um do outro.
Os Demônios da Garoa, além de se constituir um grande conjunto pela qualidade vocal e harmônica, destaca-se também pelo seu bom humor, transmitido numa linguagem bem peculiar e irreverente, o que se tornou sua marca registrada como podemos observar nas músicas: “Ói nóis aqui trá veiz – Tiro ao Álvaro – Samba do Arnesto”.
Graças à qualidade de suas composições e o talento dos seus componentes, “Os Demônios da Garoa”, tem resistido até hoje, e o que é mais importante, agradando a várias gerações Suas músicas ainda são as mais cantadas em rodas de samba e brincadeiras de amigos, até mesmo pelos mais novos. Seguramente, não há um jovem sequer, que não saiba sofrejar “Trem das Onze”, “Iracema” e “Saudosa Maloca”.
Precisa ser realmente bom para permanecer na ativa. Afinal, é mais de meio século de atividade, o que representa uma vida de resistência e muito bem vivida. Somente a qualidade resiste ao desgaste do tempo. Assim, por todos esses preceitos o conjunto tornou-se uma referência e motivo de orgulho para os paulistas. E, para imortalizá-lo, em 1994, o grupo foi incluído no Guines Bock – Livro dos Recordes Brasileiro, onde ainda permanece como o grupo vocal mais antigo do Brasil em atividade, tendo inclusive sido agraciado com DISCO DE OURO pelo álbum de 50 ANOS DE CARREIRA.
Pasmem. Exatamente sessenta e seis anos depois, em plena atividade, o grupo comemorou o acontecimento com dois grandes shows em S.Paulo no início de junho de 2009, oportunidade em que o jornalista e historiador Assis Ângelo fez o lançamento do livro “Pascalingundun – Os Eternos Demônios da Garoa”, que narra a história do conjunto. A propósito, pascalingundun, é uma onomatopéia presente na música “Trem das Onze”, maior sucesso dos “Demônios”. O grupo é detentor de enorme bagagem musical composta de 69 compactos simples, 06 compactos duplos, 34 Lps e 13 CDs, além de um DVD lançado recentemente na qual constam sucessos inesquecíveis.
Sua formação atual é composta pelos músicos: Roberto Barbosa (Canhoto), Serginho Rosa, Sydnei, Izael e Ricardinho, este último, já da 3ª geração, pois é neto de Arnaldo Rosa, um dos fundadores do grupo. Lamentavelmente dos fundadores não resta nenhum, todos já se encontram na eternidade. Com certeza cantando no conservatório de Deus. Os fundadores Arnaldo Rosa e Toninho Gomes, últimos remanescentes, faleceram respectivamente em 2000 e 2005, sendo Arnaldo vítima de cirrose hepática decorrente de um tratamento na coluna, enquanto Toninho devido complicações de diabetes e mal de Alzheimer.
Ao longo da histórica carreira o grupo acumulou cerca de 100 prêmios. E, o mais impressionante: durante oito anos consecutivos em temporada semanal em São Paulo, o conjunto registrou mais de 750 apresentações no Bar Brahma todas às quintas-feiras. Ainda hoje, mesmo sem contar com nenhum dos remanescentes do grupo original sua presença é marcante nas noites paulistas e nos grandes eventos. Em suma, mais “Demônios” do que nunca ou “Demônios” como sempre.
Com certeza, a longevidade do conjunto se justifica pelo repertório romântico aceito na época, além do solo instrumental de “Canhoto”- exímio violonista - e o esquema vocal de três vozes que se colocavam harmonicamente uma sobre a outra. Portanto, por tudo isso e muito mais, ratifico: OS DEMÔNIOS DA GOROA SÃO REALMENTE DIVINOS.
Pombal, 19 de junho de 2009.
*Professor.
OS DEMÔNIOS SÃO DIVINOS. OS DEMÔNIOS SÃO DIVINOS. Reviewed by Clemildo Brunet on 6/20/2009 11:23:00 PM Rating: 5

2 comentários

UM NOVO CORAÇÃO disse...

POIS É FRANCISCO VIEIRA. SEGUNDO A BÍBLIA SAGRADA OS DEMÔNIOS SÃO ANJOS CAÍDOS. SATANÁS, LÚCIFER, FOI EXPULSO DO CÉU POR QUERER SER IGUAL A DEUS. COM ELE, CAIU A TERÇA PARTE DOS ANJOS. ESSES HOMENS QUE CANTAM ESSAS MÚSICAS DE ESTILO AFRO, INVOCAM ESSES DEMÔNIOS. NOSSO PAÍS ESTÁ ENRAIZADO DE TRADIÇÕES, IDOLATRIA, CULTO A MARIA E OUTRAS TRADIÇÕES QUE TEM CEGADO O POVO. A BÍBLIA DIZ: "ESSE POVO ERRA POR NÃO CONHECER AS ESCRITURAS NEM O SEU PODER".

NOTÍCIAS DE POMBAL disse...

MEU CARO E DIGUINISSIMO PROFESSOR VIEIRA GOSTARIA TAMBEM DE CONTAR COM SEUS TEXTOS NO MEU BLOG NOTICIAS DE POMBAL MEU EMAIL E
noticiasdepombal@gmail.coom

Recent Posts

Fashion