banner

MEU TIO FLÁVIO BRUNET...

Clemildo Brunet (foto 1)
CLEMILDO BRUNET*
Flávio Brunet de Sá, cidadão nascido em 20 de julho de 1911, faleceu em 19 de novembro de 1980 aos 69 anos de idade. Eram seus irmãos Napolião Brunet de Sá e Alaíde Ramalho Brunet, filhos de D. Olindina Ramalho de Sá Brunet e Júlio Rabelo de Sá.
Flávio Brunet (Foto 2)
Um pouco da história da famíla BRUNET aqui no Nordeste. Por volta do ano de 1853, chega à Paraíba, o médico e naturalista francês Louis Jacques Brunet nascido em 1811. Chegando ao Brasil em estado de viuvez, casou-se na cidade de Sousa PB, a 04 novembro de 1854 com Custódia Francisca de Sá Brunet. De sua primeira núpcias na França, apenas um filho, Charles Gilbert Theobald Brunet que também veio para o Brasil e casou com Francisca Gertrudes de Sá Barreto, a irmã de sua madrasta.
O médico naturalista não teve filhos no segundo casamento, porém o seu filho teve muitos descendentes e faleceu em 16 de fevereiro de 1898 no sítio Flexa Município de Sousa. Do casal os filhos: Luiz Theobald de Sá Brunet e Napoleão Theobald de Sá Brunet, casado com Maria Belmira Ramalho Brunet. De Napoleão Theobald de Sá Brunet, brasileiro nascido em 1860, nasceu Olindina Ramalho de Sá Brunet. Portanto Flávio Brunet de Sá, descendente de francês, é a terceira geração de sertanejos paraibanos e pombalense.
Flávio Brunet estudou interno com os demais irmãos no Colégio Americano 15 de novembro, em Garanhuns-PE. Tendo seu pai falecido, deixou os estudos e por ser o filho mais velho coube a ele a responsabilidade e o dever de cuidar das terras deixadas por seu pai. Segundo informação que obtive de sua filha a Dra. Mary Loide Ramalho Brunet, advogada que reside em Recife Pernambuco, Flávio Brunet era conhecido por três coisas que se pode notar em um bom marido, bom pai e um digno cidadão de Pombal. O trabalho, a honestidade, o silêncio.
Em destaque Mary Loide no dia da formatura sentada ao lado seu pai Flávio Brunet. (Foto 3)
Pautado nesses itens, a vida de seu Flávio como costumavam chamar os seus amigos e parentes, deixava transparecer essas virtudes que está escassa nos nossos dias. Seu Flávio era um homem por demais ligado ao trabalho. Seus empregados diziam que ele (Flávio), trabalhava mais do que eles. Fazendo um cercado, tangendo uma boiada ou procurando um boi, salvando um açude, em tudo ele estava na frente. Os que trabalhavam com ele reconheciam o valor que Flávio Brunet dava ao trabalho. Eles tinham por costume dizer assim: “Seu Frazo num dá tempo nem da gente tirar água do juelho”. Era um homem que mantinha em suas terras 40 famílias, seu trabalho era mais do que suficientemente admirável para quem tinha tantos empregados.
Um dia Mary Loide lhe perguntou, porque ele não demorava mais em sua casa de praia para aproveitar à temporada do veraneio, se deitando em uma rede naquele terraço gostoso, sentindo a fresca que vinha do mar... Disse que ele a olhou saindo daquele silêncio como de costume, quando tudo ouvia e nada falava. Ele disse: “A chuva vai chegar. E quem somente observa o vento nunca semeará, e o que olha para as nuvens nunca segará”. Ele sorriu diante do espanto dela, e disse “não fui eu que inventei, foi Salomão”.
Nesse momento ela viu o quanto seu pai era sábio, pois Salomão fala isso no livro de Eclesiastes capitulo 11:4, quando se referia ao procedimento do sábio. Segundo Mary Loide, procurando essa referência encontrou outra no mesmo capítulo: “Semeia pela manhã a tua semente e à tarde não repouses a mão, porque não sabes qual prosperará; se esta, se aquela ou se ambas igualmente serão boas”. Então ela deduziu: “É isso que forma o caráter de meu pai”.
Havia na fazendo uma pequena Igreja Presbiteriana e quando faltava o dirigente em determinados dias de culto, Flávio Brunet pegava a bíblia e lia para os presentes o texto da segunda carta de Paulo aos Tessalonicenses capítulo 3 versículo 10 que diz: “Porque, quando ainda convosco, vos ordenamos isto: Se alguém não quer trabalhar, também não coma”. E pregava para seus ouvintes sobre a importância do trabalho na vida do homem.
Inúmeras vezes vi meu tio após o almoço na casa de meus pais, sair da mesa e sentar-se em uma cadeira de balanço para sua sesta que só tinha a duração de quinze minutos. Levantava-se e saía para cumprir suas obrigações.
Várias ocasiões em que estive na fazenda do meu tio, pude presenciar e admirar a disposição que ele tinha para o trabalho. Costumava dormi cedo, porem às 3 horas da manhã já estava acordado e chamando seus moradores. No tempo da moagem da cana de açúcar para produzir o mel de que era feita a rapadura, acordava mais cedo ainda para a execução da obra.
Aqui em Pombal até hoje, os mais antigos rasgam elogios ao mel, as rapaduras do engenho de seu Flávio, e ao pão da Padaria Vitória de seu Napolião. Era costume alguns moradores da cidade conduzirem vasilhas para que meu tio trouxesse mel de engenho para eles.
Durante muitos anos a fazenda “Cajazeiras” de seu Flávio, acolheu os membros da Igreja Presbiteriana de Pombal e Sousa, na realização dos Retiros Espirituais durante o período do Carnaval. Lá o queijo, o leite e acoalhada eram de graça; além dos cômodos da casa invadidos como ponto de apoio para dormir.
Eunice, Flávio, Miriam e Júlio Marcos (Foto 4)
Outra virtude de meu tio Flávio Brunet – A honestidade acompanhada da sinceridade no falar. Conta Mary Loide, que certo dia, o Deputado Antonio Mariz ainda no início de sua carreira política chegou lá pela fazenda, queria contar com o apoio de seu pai nas eleições, mas o velho foi enfático: “Infelizmente já estou comprometido”. Disse ela que sua mãe, filha de político, tinha no sangue a política, ficou vexada diante de tanta sinceridade e com diplomacia contornou a situação, tirando o ilustre visitante do constrangimento. Tia Eunice era assim: A rainha da diplomacia e ajudou muito ao meu tio.
O testemunho que Mary Loide dar a respeito de seu pai é este: “Meu pai era um homem calado. Sim, sim, não, não. Muitas vezes chegava a ser rude, mas nunca grosseiro, sempre educado, humilde e quieto”.
O hobby de Flávio Brunet de Sá era a Vaquejada, uma de suas paixões e seu esporte predileto. Seu rosto brilhava quando se falava na festa de apartação como é chamada pela vaqueirama. A despeito do prejuízo que isso lhe causava, pois havia baixa no gado que ele levava para a festa, gostava de cumprir essa tarefa e o fazia com satisfação. Lá iam os seus vaqueiros, Chico Félix, Deca e outros tangendo o gado para vaquejada de Pombal. Era o seu momento de lazer!
Talvez alguém não saiba, mas a pista de corrida do Parque “Manoel Arnaud” tem o nome “Flávio Brunet de Sá”, uma justa homenagem a quem, não somente participou da derrubada do gado, como contribuiu em muito para esta festa tão popular em nossa região.
No momento em que Pombal comemora o seu Centésimo Quadragésimo Sétimo Aniversário de elevação a categoria de cidade, presto minha singela homenagem ao meu tio Flávio Brunet de Sá, um homem do trabalho que muito honrou a sua terra natal. Um pombalense de bem a toda prova e querido por todos.
“Vai Boiadeiro que a noite já vem/Pegue o seu gado e vai pra junto de seu bem...”
*RADIALISTA.
MEU TIO FLÁVIO BRUNET... MEU TIO FLÁVIO BRUNET... Reviewed by Clemildo Brunet on 7/01/2009 09:47:00 PM Rating: 5

Um comentário

Núcleo de Audiovisual João Carlos Beltrão disse...

Clemildo, parabéns pelo artigo, realmente merecido> Conheci e convivi com Flavio Brunet na Fazenda Cajazeiras (de sua propriedade)e afirmo ele era um homem admirável. Você mexeu com as memórias de muita gente!

Laercio Ferreira Filho

Recent Posts

Fashion