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20 ANOS SEM O REI DO BAIÃO LUIZ GONZAGA...

Maciel Gonzaga*
Neste dia 2 de agosto completam-se 20 anos da morte de Luiz Gonzaga do Nascimento, o nosso saudoso e inigualável Rei do Baião, aquele que com certeza deixou marcado pelas suas músicas a cultura e as raízes de muitos nordestinos que se identificam com sua obra grande e imortal.
Falar de Luiz Gonzaga é algo que me fascina. Nascido na Fazenda Caiçara, no sopé da Serra do Araripe, na zona rural de Exu, sertão de Pernambuco, no dia 13 de dezembro de 1912, filho de Januário José dos Santos e Ana Batista de Jesus (Santana), o Rei do Baião manteve-se fiel às suas origens mesmo seguindo carreira musical no sul do Brasil. O coronel Manoel Aires foi quem ajudou Gonzaga a comprar sua primeira sanfona, que custou 120 mil réis. Foi numa loja da cidade de Ouricuri, em 1926, ano em que Luiz Gonzaga passou a tocar sozinho (sem a companhia do pai) e se tornar um sanfoneiro profissional.
Antes dos dezoito anos, ele se apaixonou por Nazarena, uma moça da região e, repelido pelo pai dela, o coronel Raimundo Deolindo, ameaçou-o de morte. Januário e Santana lhe deram uma surra por isso. Revoltado, Luiz Gonzaga fugiu de casa e ingressou no Exército em Crato-CE. A partir dali, durante nove anos ele viajou por vários estados brasileiros, como soldado. Em Juiz de Fora-MG, conheceu Domingos Ambrósio, também soldado e conhecido na região pela sua habilidade como acordeonista. Dele, recebeu importantes lições musicais.
Em 1939, decidido a se dedicar à música, já no Rio de Janeiro, começou por tocar na zona do meretrício. No início da carreira, apenas solava acordeão (instrumentista) choros, sambas, fox e outros gêneros da época. Seu repertório era composto basicamente de músicas estrangeiras que apresentava, sem sucesso, em programas de calouros. Até que, no programa de Ary Barroso, foi aplaudido executando Vira e Mexe (a primeira música que gravou em 78 rpm; disco de 78 rotações por minuto). Veio daí a sua primeira contratação, pela Rádio Nacional.
Em 11 de abril de 1945, Luiz Gonzaga gravou sua primeira música como cantor, no estúdio da RCA Victor, a mazurca Dança Mariquinha em parceria com Saulo Augusto Silveira Oliveira. Teve diversos amores e o mais conhecido foi com a corista carioca Odaléia Guedes, em meados do ano de 1945, tendo conhecido-a já grávida, assumindo e registrando como seu filho Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior - Gonzaguinha.
Apesar de ser bastante exigente Gonzaga finalmente encontra o que procurava, Em 1948 conhece a pernambucana Helena Cavalcanti, tornando-a sua secretária particular e mais tarde sua companheira. Tal união estendeu-se até perto de sua morte. Não tiveram filhos, pois era estéril. O casal viveu junto até perto do fim da vida de "Lua".
No decorrer destes vários anos, Luiz Gonzaga foi simbolizando o que melhor se tem da música nordestina. Ele foi o primeiro músico assumir a nordestinidade representada pela a sanfona e pelo chapéu de couro. Cantou as dores e os amores de um povo que ainda não tinha voz. Nos seus vários anos de carreira nunca perdeu o prestígio, apesar de ter se distanciado do palco várias vezes. Os modismos e os novos ritmos desviaram a atenção do público, mas o velho Lua nunca teve seu brilho diminuído. Ganhou o prêmio Shell de Música Popular em 87 e tocou em Paris em 85. Seu som agreste atravessou barreiras e foi reconhecido e apreciado pelo povo e pela mídia.
Mesmo tocando sanfona, instrumento tão pouco ilustre. Mesmo se vestindo como nordestino típico (como alguns o descreviam: roupas de bandido de Lampião). Talvez por isso tudo tenha chegado onde chegou. Era a representação da alma de um povo...era a alma do Nordeste cantando sua história...E ele fez isso com simplicidade e dignidade.
Em 1989, já bastante doente, Gonzaga ainda tinha na agenda vários shows marcados para o São João daquele ano. Mas, no dia 21 de junho, o velho Lua foi internado no Hospital Santa Joana, no Recife. No dia 16 de julho seria feito o divórcio de Gonzaga e Helena, que não aconteceu a pedido da família. Gonzaga sofria de osteoporose. Morreu no dia 2 de agosto de 1989, em Recife, vítima de parada cardiorrespiratória. Dizem as enfermeiras que ele sentia tantas dores, que, muitas vezes, soltava gemidos que mais pareciam aboios, aquelas toadas cantadas pelos vaqueiros em tom de lamento. Seu corpo foi velado em Juazeiro do Norte e posteriormente sepultado em seu município natal.
No seu enterro, com a presença de muita gente, a música mais cantada foi “Nem se Despediu de Mim”.Gonzaga não é só o melhor dentre todos os cantores de alma sertaneja, mas também o mais importante cantor-músico-compositor que o Nordeste já produziu. Exagero? Não, até porque Gonzaga não é só gênio do Nordeste, é gênio da música mundial. A música brasileira só tem que agradecer ao Rei do Baião.
*Jornalista, Advogado e Professor. Natal – RN.
20 ANOS SEM O REI DO BAIÃO LUIZ GONZAGA... 20 ANOS SEM O REI DO BAIÃO LUIZ GONZAGA... Reviewed by Clemildo Brunet on 8/02/2009 05:58:00 AM Rating: 5

Um comentário

Cessa Lacerda disse...

Prezado amigo Maciel.
Paz em Cristo!

Li e reli o seu brilhante texto sobre o nosso saudoso REI DO BAIÃO, Luis Gonzaga, até porque sou uma de suas fãs e também preservo a sua memória na alma e no coração.
Conheço muito da sua trajetória de vida artística traduzindo na composição e música a nossa história nordestina,ecoadas pelo mundo afora bem representado por ele. É muito gostoso saborear a leitura de um texto complexo como este que nos enleva a um passado preenchido com as melhores coisas que podemos usufruir, pois a música é um lenitivo para a nossa alma, como já disse o nosso saudoso historiador Wilson Seixas. Parabéns e continue escrevendo textos deste quilate que nos informam e muito nos satisfazem.Abraços saudosos.

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