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REI NA BARRIGA

Por Severino Coelho Viana
O absolutismo, historicamente, como é sabido, desapareceu do nosso costume político, com o surgimento dos ideais propugnados pela Revolução Francesa, do século XVIII, que ficou simplesmente simbolizado com a queda da Bastilha, apesar de ter ficado arraigado nas entranhas do sentimento humano individualista, que os desavisados perfilam como um fado na consciência.
Os resquícios da história não se apagam com o passar do tempo, a cada época aparece repentinamente um fomentador das reminiscências e tenta colocá-las em práticas, mesmo que seja de forma camuflada. O ser humano tem uma tendência para seguir os maus exemplos. Uma expressão muito em voga na nossa vida cotidiana e muito identificada no meio social, é o dito popular: “fulano de tal tem um rei na barriga”. O destaque deste rei vive no palácio da hipocrisia. Esta expressão não é tão moderna quanto pensamos. Justamente, ela provém do tempo da monarquia, quando as rainhas ou favoritas do soberano engravidavam, os áulicos da corte passavam a tratá-las com deferência especial, pois iriam aumentar a prole real, e com o rebento que carregavam na barriga era um provável herdeiro do trono, mesmo que fosse bastardo.
Hoje, o rebento saiu da barriga e enraizou-se como um gânglio na mente humana, que mesmo não havendo esperança de figurar como legatário de nenhuma cadeira real, ilusoriamente cria o seu reino fantasioso, que se chama pobreza de espírito. Digamos assim que seja uma espécie de rei sem coroa. Ou o bobão passageiro da vida cotidiana. Basta assumir o menor cargo na carreira funcional que ele o transforma mentalmente como a cadeira principal no nível do escalão hierárquico.
Essas pessoas que andam com um rei na barriga, que não têm o mínimo de cuidado com o seu mundo interior, por si só, elas são esnobes, buscam o estrelato, pretendem uma morada em Marte, mas, e acima de tudo, elas são inseguras, medrosas e carentes de aconchego. E às vezes chegam a usar o poder da força e atropelar os padrões da civilidade. Ressoam minguadamente e tentam transmitir conhecimento vasto nas diversas áreas: política, economia, futebol, arte, cultura, religião etc.
A superficialidade no modo de agir já traduz o sentimento de arrogância. Pisa na estrada carroçável pensando que é uma passarela vermelha e as pedras de paralelepípedo veem como um tapete persa. Com a ponta do nariz empinado só não reflete em direção à humildade de Sócrates: “só sei que nada sei”. Ora, como pensa na sua ilusão imaginária reproduzir um clone socrático?!
O excesso de orgulho se contrapõe à virtude da humildade, tornando-se avarenta porque pensa ser melhor do que os outros. O dono de todas as situações e o canastrão de todas as veleidades. O pior de tudo isto é que não é somente literatura, mas pura verdade.
O orgulho excessivo é aquela emoção que enche a mente de imagens grandiloquentes, fazendo pensar que tudo gira em torno do próprio umbigo. A soberba acaba tornando-se uma pessoa difícil, para não dizer insuportável, de se conviver, de ter um relacionamento de cordialidade e respeito mútuo. Geralmente, ela acaba sozinha, contando vantagem e esperando que o mundo o reconheça como alguém superior. Como ser reconhecida pelo que nada fez? O que ela acha que está circulando é irreal, fruto somente de uma mente sádica.
Uma conquista pessoal é motivo de alegria, satisfação e vitória. Todavia, queremos deixar claro que isso não significa que devamos nos sentir superiores a quem quer que seja; pelo contrário, uma conquista arduamente atingida serve para nos apercebermos do quanto ainda temos a aprender. O sentimento de orgulho não deve ser um passaporte para a arrogância, pois a vida é, muitas vezes, dura em seus ensinamentos, e um deles é que se hoje estamos por cima, amanhã poderemos estar por baixo.
Parece-nos que a questão do excesso de presunção, arrogância e orgulho, eles se firmam como um desvio de personalidade, como uma cascavel que prepara o bote e a vítima não recebe nenhum sinal de alerta, quando desperta já está contaminada pelo veneno. Os desastres que aparecem de encontro à sua vida é consequência dos seus próprios atos mentais. Negatividade atrai negatividade, depois fica questionando a sua própria desdita. A sua construção não passou de um castelo de areia erguido na beira da praia, o avanço de uma simples onde o destroi facilmente.
Quando nos referimos ao orgulho do egoísta, onde a pessoa se sente a dona do pedaço, vê-se como a maior e se considera melhor que os outros, que usa da vaidade para exibir-se e sobe nela tripudiando o outro ou mesmo para se vangloriar, aumenta o próprio valor por causa da auto-estima que anda baixa. Não seja escravo dessa doença, não a deixe morar no seu coração. Salte desse fogo cruzado. A simplicidade é a melhor forma de viver na harmonia. Mate este dragão que carrega na sua mente.
E não fica somente na esfera do campo pessoal, ressurge na convivência familiar, no círculo de amizade, no meio social, no final, em toda a área circundante de sua natureza. É o resultado de um projeto de vida que não vai além das muralhas de seus instintos, que não pode formar uma base sólida na construção de um mundo melhor, que não passa de um sentimento bestial capaz de autodestruição e alimentador de agouro para os que o cercam.
Os sintomas deste mal só quem pode detectá-los é a própria pessoa, veja se está enganando a si próprio, se o seu projeto de vida é realmente verdadeiro. Cada pessoa sabe a criação de suas próprias fantasias. Se você deseja ser o mais rico, o mais sábio, o mais simpático forçosamente; acha-se o melhor e o mais sábio do mundo, aborte este feto monstruoso que criou no seu mundo. João Pessoa, 27 de agosto de 2009.
REI NA BARRIGA REI NA BARRIGA Reviewed by Clemildo Brunet on 8/27/2009 02:15:00 PM Rating: 5

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