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COMO É BOM VOLTAR PRA CASA.

Prof. Vieira (Foto)
“Ninguém se perde na volta, porque voltar é uma forma de renascer.”
Com esta célebre frase do renomado escritor paraibano, José Américo de Almeida, fica evidente a importância de voltar, principalmente, quando se refere à terra natal. Aí, se tem uma idéia da dimensional grandeza do que representa em termos de sentimentos retornar às origens. É o prazer de estar pisando, sem machucar, o solo mãe, o próprio berço. É sentir a imensurável satisfação de voltar pra casa. Voltar pra casa é reencontrar o caminho perdido na certeza do acolhimento e da guarida. É tal qual a incontida alegria de uma criança que chora desolada e de repente se transforma num poço de felicidades ao encontrar o brinquedo de estimação.
Os fatos comprovam: este pensamento, que é fruto da erudição de mente privilegiada, vai além da imaginação – torna-se uma realidade. E, ratificando, peço vênia, para relatar um fato que mesmo em síntese, confirma na prática, o pensamento do autor, pois vivi a emoção de voltar pra casa.
Era 1969, ano da chegada do homem à lua. Tinha apenas dezoito anos. Plena adolescência. Acalentava sonhos impossíveis, frutos da imaginação fértil de alguém que na sua tenra idade e ânsia de vencer acreditava ser capaz de tudo. Vencer incluía todos os demais sonhos.
Com esta visão parti para Brasília, acompanhado de mais dois amigos que carregavam como eu os mesmos sonhos e ideais. Na verdade, éramos apenas novas vítimas do êxodo social, decorrência de uma política discriminatória que subestima a capacidade das pessoas e regiões. Portanto, deixava pais, irmãos, amigos, paixões e toda uma história de vida para buscar em terras alheias o que a minha não podia oferecer. Finalmente, após quatro dias de intensa e desconfortável viagem, cheio de expectativas, chegava ao destino, carregando sobre os ombros um fardo que era um misto de esperanças e incertezas, coragem e medo, dúvida e ansiedade. Enfim, em meio a esse conflito de sentimentos e indefinições chegava à capital federal, centro das decisões político-administrativas do país, lugar em que eu na minha santa inocência imaginava ser o berço da decência e da moralidade. Quanto engano. A realidade é outra. Sabe-se hoje que é palco de ações nefastas e ordinárias, por isso, desprezíveis na visão de todo homem que se preza, pois denigrem a imagem do país e se constitui uma afronta aos princípios da ética e da dignidade. Em síntese, o que devia ser motivo de orgulho para a população, infelizmente, significa o que existe de mais podre e medíocre, portanto, causa de asco e repúdio.
Repito: finalmente cheguei. O impacto foi enorme. Era noite na cidade grande. Frio intenso. Atônito eu observava tudo. Luzes multicoloridas iluminavam as alamedas onde se destacava o verde na grama rasante, cor que eu somente via em minha terra durante as escassas e breves invernadas. Enquanto isso, um vai e vai constante de veículos cortavam o silêncio noturno Era ônibus que chegavam e saiam a todo instante conduzindo gente das regiões mais distantes e até de países vizinhos. Os que chegavam traziam pessoas como eu, cheias de esperanças e os que saiam levavam os desiludidos. Era a confirmação do adágio popular: “trazem os iludidos e levam os arrependidos”. Uma mudança radical. Em suma, outra realidade – um mundo desconhecido que eu havia decidido enfrentar. E, agora, mais do que nunca, pois já me encontrava lá. Afinal, “quem se ajoelha tem que rezar”.
Enfrentando dificuldades como: adaptação, estabilidade e salário irrisório, trabalhei aproximadamente um ano na construção civil. Inicialmente apontador e em seguida auxiliar de escritório da MIBRA – Móveis e Instalações Brasília, empresa especializada em esquadria de madeira. SQS – 209 – 6º Andar - Eixo Monumental. Era o endereço. Local de onde eu assistia – era um privilégio – a passagem de Sua Excelência o Presidente da República Costa e Silva que se dirigia ao Palácio da Alvorada, que era alertada por “batedores”, à frente do carro presidencial, em motores possantes rompendo obstáculos, garantindo-lhes integral segurança e proteção. Dali assistia também maravilhado os grandes desfiles cívicos em comemoração ao aniversário da cidade ou da independência, momento em que lembrava dos antigos desfiles do Ginásio Diocesano. Ai, saudoso, não me continha e as lágrimas corriam nos rios da face.
Minha vida se resumiu em muito trabalho, pouco salário e diversão quase nada. Vida rotineira e monótona, salvo, os encontros com alguns conterrâneos ou as constantes visitas dominicais à casa de “Seu Dodóia”, pombalense da família Almeida ali radicado há anos, para assistir o Programa do Rei Roberto Carlos. E, como se não bastasse, o sofrimento aumentava à medida que a saudade atormentava, principalmente na época das tradicionais festas de Pombal, quando nos reuníamos em bebedeiras onde acabávamos sempre embriagados e cada vez mais judiados pela saudade.
Depois de um ano de intenso trabalho e a frustração de sonhos não realizados, resolvi retornar à casa paterna, agora, carregando um fardo diferente. Nele havia um acúmulo de experiência, decepções e desenganos, além da preocupação de justificar e convencer pelo retorno breve de tão efêmera estada e que mais parecia um passeio. Mesmo assim voltei, sofrido, porém feliz, pois voltava para o convívio da família carregando o orgulho e a vaidade de conhecer a capital federal. Contudo voltei. Não apenas para diluir as saudades acumuladas com o tempo, mas também, para pisar a terra que é minha. Ainda mais, voltando, havia pelo menos vencido o tempo que me arrancara a felicidade do aconchego do meu povo que somente ele tem. Voltei sim, depois de conhecer nova gente e novos horizontes para provar que o autor tinha razão ao afirmar que “ninguém se perde na volta”.
Voltei, não tanto quanto o filho pródigo, isto é, achado e renascido, mas voltei, para encontros e reencontros, com novos e velhos amigos, com a própria origem. Não diria ter sido em vão, pois muito aprendi e nesse contexto compreendi entre outras coisas: o que fazemos na vida não é obra do acaso e sim, uma escolha nossa - conseqüência do livre arbítrio. Coincidência ou não, assim como na ida, foram quatro dias de viagem; tempo suficiente para pensar sobre tudo e indagar de mim mesmo. Como seria minha chegada? O reencontro com a família, os amigos e as paqueras? O que teria mudado?
Ansioso eu contava as horas e fazia planos. Desejava acelerar o tempo e diminuir a distância para receber o beijo carinhoso dos pais e o abraço dos irmãos; para assistir a sessão dupla do sábado no Cine Lux, paquerar no Bar Centenário e dançar uma noite inteira no Pombal Ideal Clube ao som do Conjunto “Os Águias”. Planejava ainda um rubacão com os amigos na sombra das ingazeiras do Rio Piancó, é claro, ao som de um violão ou radiola portátil Phillips, acompanhada da cachaça Pitu ou Caranguejo. Na imaginação me via assistindo uma partida do São Cristóvão no Vicente de Paula Leite, campo de terra batida, cercado de aveloz e arame farpado. Já imaginava Chico Sales rompendo defesas invencíveis, Agnelo e César tratando a bola com maestria, Natal Queiroga marcando gols de bicicleta, Carrinho “chutando de bico” em toda direção, mostrando ser um zagueiro que se preza e Nego Adelson, corajoso e arrojado, provando ser o melhor goleiro da região. Tudo seria maravilhoso, se João de Biró, Bié ou Dilau não atirassem laranjas nas pessoas. Do tórax para cima o alvo era certo. Bem, pelo menos esses sonhos eu sabia, era possível realiza-los.
Mas, mesmo sem abreviar o tempo, pois sei que é impossível, cheguei finalmente a Pombal, que já dava sinais de mudança com a construção do asfalto. De longe avistei eretas e firmes como deve ser a fé de todo cristão as torres das igrejas do Bom Sucesso e São Pedro, assim como a chaminé da Brasil Oiticica que embora poluindo o ar de fumaça, denunciava sua atividade contribuindo para o progresso econômico da região. E assim cheguei feliz da vida.
Em síntese, foi assim a minha história que não é única. Outras aconteceram e até mais dramáticas. Quer seja Brasília, São Paulo ou Rio de Janeiro, histórias como esta tem se repetido. Outros personagens viveram as mesmas cenas, portanto, protagonistas dos mesmos dramas que certamente se repetirão, não sabemos até quando.
Somente quem já bebeu dessa água sabe o gosto que tem. Daí, a afirmação: voltar à terra natal é viajar em direção a si mesmo. Depois de uma vida errante é aprofundar-se na própria interioridade.
Por tudo isso se justifica em toda sua grandeza a importância de COMO É BOM VOLTAR PRA CASA. Por isso estamos sempre voltando.
Pombal, 12 de setembro de 2009.
Prof. Francisco Vieira.
COMO É BOM VOLTAR PRA CASA. COMO É BOM VOLTAR PRA CASA. Reviewed by Clemildo Brunet on 9/14/2009 05:42:00 PM Rating: 5

Um comentário

Anônimo disse...

Lucas 15, nos fala do filho que partiu deixando de lado toda sua familia, seu conforto, uma vida de nobre e com sua parte de herança, dada pelo seu pai; partiu ele para o mundo a viver da forma que ele achava que era certo; e após consumir todo os valores em moedas dadoas por seu pai e apos estar em condições extremas de miséria, chegando a se alimentar da comigda de porcos. Cai na realidade e lembra a vida nobre e de conforto que tinhas no seio da sua familia. Após estar em muito sofrimento resolve retornar a suas origens a sua casa, ao seio da sua familia, e ai passa em sua cabeça, não sou digno de retornar e ser bem recebido, mas o pai, ao vê-lo, lagrimas correm eu seu velho rosto, e o abraça e diz aos criados, traze a melhor veste, as melhores alpargatas e em seu dedo coloque o anel da familia, e preparando o melhor dos banquetes, com muitas iguarias. Voltando da labuta, seu irmão vê algo diferente em sua casa, uma multidao comemorando uma grande festa e admira-se, o que haveria de ter acontecido, ao chegar em sua casa vê o seu pai, o seu irmão em trajes de gala e clama a seu pai, pai eu vivo na labuta, trabalhando e produzindo e não tenho tanto reconhecimento, mas o meu irmão rebelde, deixa a casa, se desfaz de toda riqueza a ele dada por ti e o senhor o recebe com festas. Ai o Pai diz, meu filho, você é um filho bendito, querido por todos nós, mas o teu irmão que nos deixou e agora volta, eu o recebo desta com festas, porque ele estava PERDIDO, e finalmemte ele se encontrou.
Dai meus irmãos o evangelista nos fala que retornar a casa paterna é algo que nos fortalece, nos da vida, e quem tiver oportunidade de se reconciliar com seus familiares, com seus amigos, com seus colegas, o faça e RETORNE A SUA CASA E VEJA COMO É BOM VOLTAR PARA CASA.

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