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OS BEM-TE-VIS DE ANA ROSA

Paulo Abrantes (Foto)
Meu caro amigo Clemildo,
você nos surpreende sempre com suas crônicas impecáveis, bem contadas, que fica até difícil de agradecer à altura da perfeição! Pensava em agradecimento diferente, com palavras abstratas e bonitas, de exaltação e de louvação a uma amizade de longos anos em suas formas de sinceridade e pureza de espírito. Não precisava falar de tudo isso, expressar os meus agradecimentos a um amigo de infância, seria melhor de forma simples, como eu sou simples. Petrarca, o italiano poeta do século XIV, dizia: “È pouco amigo aquele que pode dizer quanto é amigo”.
Há alguns dias, pois não sou acostumado a receber homenagens, vinha pensando em escrever uma crônica dedicada a mim mesmo. Aliás, a nós dois – eu e Ana Rosa, a esposa, companheira durante todo esse tempo. Afinal, julgava o casal merecedor da modesta homenagem, traduzida em letras de forma. Uma lembrança singela, mas muito significativa, pela longa travessia dos sessenta anos de vida que completei, e parte dela, construída e cimentada com a argamassa do bem-aventurado amor.
Um amor diferente, longe daquele das novelas, dos idílios ardentes, com prevalência do sexo. Mas de um sentimento maior de dedicação absoluta, um completando o outro, solidários em tudo, graças a Deus. Agora, não preciso mais, você o fez por mim, disse tudo e mais coisas que eu nem lembrava mais. Obrigado, pelas boas lembranças, è quando se pode dizer: recordar é viver. Portanto, volto a dizer, pegando carona na canção de Maringá, que depois que você partiu, deixou saudosos os bem-te-vis de Ana Rosa! Quase toda manhã, um arisco e desconfiado bem-te-vi vem despertar-me com seu vibrante e invariável canto.
Voando sobranceiro, vem pousar na copa do pé de goiaba ou no alto do pé de coco, e, ao lado da janela do quarto de hóspede, fica cantando, pensando que você ainda estar por lá!
Ali, bem protegido e firme, neste quintal, solta seu canto benfazejo nas explosões das manhãs tropicais, como se a saudação matinal fosse também pra você, um canto de esperança, num mundo de tantas voltas e retornos.
- Bem-te-viii!
Lá fora, o canto sonoro, saudando a natureza, o belo espetáculo do amanhecer. Assim você encontrou essa sinfonia, aqui desse quarto, escutou esse canto que nos encoraja e faz esquecer as canseiras do dia-a-dia, a labuta fatigante em busca da sobrevivência. Cantos alvissareiros, cantos de alegria, cantos de boas vindas e de boas novas.
Acredito que são os mesmos bem-te-vis, que um dia o poeta Raul Pereira Monteiro, (in memoriam), meu sogro, escreveu para Ana Rosa: “Os bem-te-vis do arvoredo/Que enfeita a nossa cidade,/Talvez por necessidade,/Chegam aos quintais muito cedo./A minha filha Ana Rosa,/No quintal tem bananeiras,/E não raro, nas touceiras,/Algum cacho desabrocha./ Outro dia, linda palma/De bananas madurinhas,/Bem-te-vis em “ladainhas”,/Picavam com muita calma./ Um dia, dois...”Dona Ana”/Paulo, o marido, alertou:/”Aos bem-te-vis, dê alô,/Pois vou colher as bananas!”/-Não os incomode, porém/È que você, sem canseira,/Com dinheiro, faz a feira,/E eles não têm um vintém.
Deus te abençoe, sinta-se feliz, cada vez mais e melhor! Você merece tudo de bom.
Paulo Abrantes.
OS BEM-TE-VIS DE ANA ROSA OS BEM-TE-VIS DE ANA ROSA Reviewed by Clemildo Brunet on 9/04/2009 08:22:00 PM Rating: 5

Um comentário

socorro pombal. PB disse...

Paulo, tudo que lhe diz respeito me fascina. Vêjo aquele menino, filho de Dora e Augusto Vage. se tornar um homem, cheio de valores. Quando ia à sua casa, sempre fazer um permanente com seu pai, e via tantas crianças, uma atráz da outra, filhos daquele casal lutadores e sempre rindo felizes. Não poderia imaginar, que nascidos em nossa pequena Pombal da época, se tornassem uma familia completa. Parabens Augusto vage, parabens Dora por tão aventurada clã Um Abraço amigo de quem muito lhe admira. Ana Rosa, que louve sempre esta união perfeita...

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