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RUA DO COMÉRCIO.

POR ANTONIO DANTAS MANIÇOBA*
Nasci na Rua Nova, próximo à matriz, poucas casas adiante da dos líderes políticos Ruy e Janduhy Carneiro. Poucos anos após nos mudamos para a Rua do Comércio, onde desenvolvi a melhor fase de minha infância e ganhei a alcunha de Novo. Minha rua tinha o privilégio de começar com uma igreja e terminar com um colégio. Está aí um diferencial e tanto, sem contar que através dela é que se tinha acesso ao único estádio de futebol da cidade de Pombal.
A Rua do Comércio, nos anos sessenta, não tinha calçamento. Quando ocorriam chuvas torrenciais, a garotada se divertia tomando banho de “biqueira” ou soltando barquinhos de papel nos longos riachos que se formavam rua abaixo. Era diversão para os jovens e satisfação para os adultos, na esperança de que o inverno fosse promissor para uma economia com base na produção agrícola. “Se continuar chovendo assim, meu filho, em breve estaremos comendo pamonha e canjica à vontade” – dizia meu pai Deoclécio Maniçoba.
Mas o que encantava mesmo a Rua do Comércio de minha juventude era o burburinho das pessoas que necessariamente por ali passavam, quer para ir orar na Igreja do Rosário, quer – em sentido inverso – freqüentar aulas no Colégio das Freiras ou no Grupo Escolar João da Mata.
Era no Colégio das Freiras onde estudavam as moçoilas mais bonitas da cidade. Lembro que sempre ficava na janela de minha casa observando o passar das lindas normalistas, com seus uniformes de saias plissadas azul-marinho, blusas e meias brancas, e sapatos pretos de bicos ovalados. Quantas normalistas me enchiam os olhos de garoto, indo da beleza sutil de Rosarinha ao esplendor de Claubeth! Pensamentos povoavam minha mente: “Quando crescer, vou me casar com uma dessas!” Mas, minha rua também tinha outras características interessantes.
Com os poucos trocados que conseguia, dois destinos estes tomavam. Ou me deliciava com os Cavalinhos de Goma da mercearia de D. Joana, ou com o pão com manteiga da bodega do Toinho. Nada se comparava a essas iguarias. Pense num lanche em que oportunista nenhum se omitia em pedir um naco! Os moradores da rua eram figuras de reputação ilibada e de cordialidade a toda prova. Como esquecer do brincalhão Biró, D. Cora , Seu Cícero, Seu Lelé, D. Guiomar, Dr. Lourival, Seu Mizinho, Seu Álvaro, Dona Niní, Leó Fotógrafo e tantos outros, além de Marisa e Chiquita – que sutilmente me fizeram entender o significado da palavra amizade – pela convivência fraterna e duradoura que tiveram com minha única irmã Tota – de saudosa memória. Com tantas características positivas, minha rua já delineava bons frutos para as futuras gerações de moradores.
Não poderia ser de outra forma para um logradouro que começa com uma igreja e termina com um colégio. Dali surgiram grandes filhos de Pombal e até promissores escritores e historiadores, como despontam Romero Cardoso e Verneck Abrantes. Após tantos anos longe da minha cidade e da minha rua, saudosista que sou, quando por ali passo em trânsito para João Pessoa, quase sempre alta noite, ouço o som do silêncio madrugal e, às vezes, porque não, o burburinho suave das lindas normalistas do Colégio das Freiras.
* Filho de Pombal, MSc. Eng. Elétrica/UFCG, Professor da UFMA e acadêmico de Direito.
postado porJerdivan Nobrega de Araújo
RUA DO COMÉRCIO. RUA DO COMÉRCIO. Reviewed by Clemildo Brunet on 11/01/2009 10:51:00 AM Rating: 5

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