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DIRCEU ARNAUD: O LEGADO DE UMA LIDERANÇA ESTUDANTIL.

Maciel Gonzaga (Foto)
MACIEL GONZAGA*
O advogado e ex-deputado estadual pela Paraíba, Dirceu Arnaud Diniz (in memoriam), foi o mais carismático líder do movimento estudantil da cidade de Catolé do Rocha, na chamada Microrregião 89, a partir dos anos 50. Homem simples, sertanejo, que tinha uma gostosa conversa, surgiu na política como porta-voz dos desejos de mudança da sociedade sertaneja. Nasceu na cidade de Catolé do Rocha no dia 14 de janeiro de 1927. Formou-se em Ciências Jurídicas na Faculdade de Direito do Recife.
Integrava a chamada “Trindade Impávida”, assim batizada por José Américo de Almeida que, na campanha governamental de 1950, denominou dessa forma aos jovens estudantes – José Pires Fernandes, Hercílio Pires e Dirceu Arnaud. Embora, por volta do início dos anos 50, o número de universitários da região mal chegasse a uma dúzia, o segmento compensou-se com o dinamismo e franca aproximação dos colegiais catoleenses de escolas do ensino médio de Patos e João Pessoa. Durante as férias do final e meio do ano, todos se reuniam para afinar discurso, segundo o qual “como as plantas nascem, vivem e morrer, assim também a oligarquia dos Maia estava condenada à morte”. As lideranças estudantis traziam revistas, jornais e conferencistas identificados com a nova temática sócio-política do país para fazer palestras na cidade.
Como líder estudantil, Dirceu Arnaud denunciava o que ele e outros contestadores da época consideravam “oligarquia inteligente e sagaz da família Maia”, que dominava a política catoleense. Embora em entrevista em 2001 a um jornal de João Pessoa, Dirceu Arnaud haja revelado que “entrei de contrabando na política de Catolé do Rocha”, não foi bem assim que as coisas se passaram. Como beneficiário dessa dinâmica de mudanças da sociedade, ainda acadêmico de Direito, o jovem Dirceu Arnaud foi eleito vereador de Catolé do Rocha nas eleições municipais de 1951 e, com o tempo, se tornaria a principal liderança oposicionista da região. Em 1954 tentou, pela primeira vez, uma vaga à Assembléia Legislativa, mas não logrou êxito. Obteve 1.160 votos, sendo que destes, 769 em Catolé do Rocha e 198 em Pombal. Teve de contentar-se com a Câmara de Vereadores, o que foi reconduzido em 1955, com 292 votos, e na condição de único representante do PSD.
Dirceu passou a ser uma pedra no caminho da família Maia. De certa feita, depois de ter atirado uma xícara de café contra o prefeito Rosadinho, Dirceu entrincheirou-se, armado de rifle, em casa para resistir ao assédio dos Maia. Em outra oportunidade, como um tiro partido da residência dos Maia atingisse, mortalmente, a um militante pessedista, o grupo de Dirceu, cercou a casa onde destacados partidários dos Maia, inclusive João Agripino, José Sérgio e Manuel Maia – entravam mas não saiam, devido aos estremecimento do cerco.
Nas eleições de outubro 1958, o jovem bacharel Dirceu Arnaud Diniz despontou e elegeu-se para a Assembléia Legislativa como terceiro da bancada do PSD, com 3.369 votos, obtendo 1.738 votos em Catolé do Rocha e 689 em Pombal. Em 1962 se reelegeu, com 2.384 votos, sendo 1.116 em Catolé e 615 em Pombal. Sempre obteve sólido enraizamento no PSD onde contava com os apoios do deputado federal Janduhy Carneiro e do senador Ruy Carneiro. Na condição de bacharel/falante e jovem, fortalecia-se a imagem de Dirceu Arnaud. Já em 1959, ao chegar à Assembléia Legislativa passou a presidir a prestigiosa Comissão de Finanças. Também, ligado à Imprensa escrita e falada, graça a anterior passagem pela redação do jornal “A União”, Dirceu foi escolhido, em 1961, o “Deputado do Ano”, pela bancada de jornalistas credenciados.
Juntamente com o seu colega deputado Humberto Lucena, Dirceu conseguiu, então, o que se considerava impossível: partir, ou seja, desmembrar os velhos municípios da Microrregião 89, emancipando Jericó, Belém do Brejo do Cruz e Riacho dos Cavalos. Em 1962, Dirceu Arnaud conseguiu, com árdua luta e apoio do senador Ruy Carneiro, a instalação da agência do Banco do Nordeste em Catolé do Rocha, reivindicada por abaixo-assinado dos comerciantes da região. Como deputado, foi autor do Projeto de Lei que determinava obrigação de se construir nas comarcas a Casa do Juiz de Direito.
Na eleição de 1960, assumiu feição rigidamente partidária com o PSD, apoiando a candidatura de Janduhy Carneiro ao Governo do Estado atraindo para o seu grupo todos que se opunham aos Maia. Estes por sua vez, apoiavam Pedro Gondim. No final dos anos 60 Dirceu deixou a política e passou a se dedicar totalmente à profissão de advogado como Procurador do IAPAS e Professor da Faculdade de Direito da UFPB.
Casado com a senhora Gizelda Carneiro Arnaud, de família tradicional de Pombal e de grande projeção no Estado da Paraíba, filha mais nova de Dr. Chateaubriand de Sousa Arnaud e Dalva Carneiro Arnaud, esta irmã do senador Ruy Carneiro e do deputado federal Janduhy Carneiro. São seus cunhados: o ex-deputado federal e ex-prefeito da Capital, médico Antônio Carneiro Arnaud, e o desembargador Raphael Carneiro Arnaud. Da união de Dirceu Arnaud e Gizelda nasceram os seguintes filhos: Marília Carneiro Arnaud, Dirceu Arnaud Diniz Filho e Janduhy Carneiro Sobrinho, os dois últimos advogados.
Dirceu Arnaud Diniz morreu em João Pessoa no dia 12 de março de 2008. Como político, foi respeitado porque soube imprimir seriedade e honestidade no desempenho da atividade política. O fulcro de sua atuação política nos deixou como legado a ação destemida em defesa da democracia, a prontidão incansável em defesa da ética. Diante do descrédito e desalento reinantes, o exemplo de firmeza e lucidez do saudoso Dirceu Arnaud Diniz é fonte de permanente inspiração.
*Jornalista, Advogado e Professor. Natal – RN.
DIRCEU ARNAUD: O LEGADO DE UMA LIDERANÇA ESTUDANTIL. DIRCEU ARNAUD: O LEGADO DE UMA LIDERANÇA ESTUDANTIL. Reviewed by Clemildo Brunet on 2/16/2010 11:32:00 PM Rating: 5

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