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ARRUBACÃO: PATRIMÔNIO POMBALENSE!

Jerdivan Nóbrega de Araujo*

Antes deixem-me esclarecer uma coisa: Arrubacão, Ribacão e Arribacão são iguais entre si, mas são diferentes do legítimo Rubacão de Pombal. Todos os anteriores são derivações do último, mas, com receitas e modo de fazer completamente diferente. Para se ter uma idéia, no legitimo Rubacão de Pombal não entra na receita a pimenta malagueta, o que acontece nas suas derivações. Outra diferença é que no Ribacão e no Arribacão o arroz e o feijão são cozidos em panelas distintas e misturados depois de cozidos.
Já na receita do Rubacão de Pombal entra o queijo coalho a carne de Sol e a manteiga da terra (ou a nata) Agora vamos a minha tese:
Li em um jornal que a cachaça vai ser reconhecida como patrimônio nacional. O mesmo destino teve ou terá o queijo de minas, pão de queijo de minas, caipirinha e a velha feijoada. O que isso tem haver com o Rubacão? Calma.
Sempre que eu vou a Brasília costumo almoçar, pelo menos uma vez no subsidiado (por vocês, mesmo sem saber que ele existe) restaurante da Câmara Federal, que tem um cardápio bem diversificado, de forma a agradar a miscelânea de brasis que desfilam pelo Planalto Central. Conservador que sou, sempre procuro a “cuia” de comida nordestina. Outro dia observei que havia a disposição dos clientes uma cuia com “Ribacão” e outra com “Rubacão”. Curioso, perguntei ao garçom a diferença. Ele respondeu que o Ribacão é um prato do Rio Grande Norte e o Rubacão é do interior da Paraíba. Disse-me ainda que o Rubacão fora introduzido na cozinha do restaurante da Câmara por uma cozinheira de Pombal por isso eles costumam chamar de Rubacão de Pombal. Antes só tínhamos o Ribacão, completou.
Observei que a diferença não era só na aparência, mas, muito mais no sabor. O Rubacão é mais ligado enquanto que o Ribacão e o Arribacão são mais soltos lembrando o velho “baião de dois” que já é outra derivação. Tá complicando? Tenham paciência.
Na rua que eu moro, em João Pessoa, tem um bar cujo principal prato é o Rubucão. Os proprietários são de Pombal. Em Natal tinha um restaurante cujo cardápio não deixava dúvidas em relação à origem do principal prato: o “legitimo Arrubacao de Pombal”. Esse bar já não mais existe. O dono do bar era Antônio, empregado dos Correios e ‘papa girimum’. Não era de Pombal mas foi apresentado ao Rubacão por uma pombalense e se apaixonou pelos dois.
Certa vez eu li que a feijoada Carioca teve a mesma origem do samba: ambos nasceram na Bahia, assim como é baiano o frevo pernambucano. Mas, estou quase certo de que o Rubacão, o legitimo Rubacão, nasceu em Pombal e, digo mais, nas sombras das ingazeiras do Rio Piancó em uma panela de barro feita e por seu Jubinha.
A coisa acontecia assim: os boêmios da terrinha amantes da cachaça e do dedilhado de viola costumavam se acomodarem nos barrancos do rio a sombra das ingazeiras e oiticicas. Ali passavam as manhãs e as tardes dos domingos quentes de Pombal. Combinavam quem levava o que para a farra. Claro que o violeiro levava o seu violão e a voz que ecoava as margens do Rio Piancó feito Roxinós. Outro levava o feijão, já outro queijo, mais um levava a carne de sol, a manteiga etc... Não esquecer a cachaça, muita cachaça!
O cozinheiro era responsável por arrumar o fogo entre três pedras, além levar a panela de barro, esta ficava por lá. Como todos voltavam “tropos, mas não bêbados” levavam o mínimo de mantimentos para não voltar com peso extra, além dos seus corpos conduzidos em passos cambaleantes.
Portanto, tudo era cozido na mesma panela, obedecendo apenas à ordem de entrada na fervura: primeiro o feijão macassar, e a carne de sol. Depois o arroz da terra (o vermelho) e, já tudo cozido, vem o Queijo Coalho e a manteiga ou a boa e velha nata. O leite só veio a entrar na receita mais tarde, quando o Rubacão deixou a sombra das ingazeiras para ocupar um lugar de destaque na sala de jantar.
Então, podemos reivindicar o Rubacão como um patrimônio culinário da cidade de Pombal? Sei você pode ta pensando que ainda é cedo para isso. Pois saiba que estamos vivendo uma época de valorização de patrimônios culturais e isso inclui a culinária. Se Pombal não o fizer outro aventureiro lançará mão.
Gente é só uma leizinha municipal. Num é nada de mudar a Constituição Federal para que todo pombalense “tenha o direito a felicidade” de um prato conterrâneo seu. Não vamos deixar que toda aquela cachaça tomada na "Oiticica de Ana", no "Araçá" ou na "Panela" tenha sido em vão.
Bom, fiz a minha parte. Agora vou almoçar que aqui hoje vão servir o verdadeiro Rubacão de Pombal.
*Escritor pombalense.
ARRUBACÃO: PATRIMÔNIO POMBALENSE! ARRUBACÃO: PATRIMÔNIO POMBALENSE! Reviewed by Clemildo Brunet on 5/30/2010 08:56:00 PM Rating: 5

Um comentário

Anônimo disse...

Emociona que faz as lagrimas cairem a leitura do Artigo de Gerdivan Nóbrega de Araújo , narrando a Historia do Arrubacao e defendendo como patrimonio gastronomico de Pombal o que é certo, mencionando aqueles locais onde se costumava preparar e deliciar o verdadeiro Arrubacao preparado a beira do rio, em baixo das oiticicas de Ana Benigno no Araça , sendo regado a base da melancia tirado das ramas do pé, vermelhinhas que "dava do" e de doce caracteristico.
Foi por bênção de DEUS esbarrar na narração de Gerdivan que ativa a memória trazendo as lembranças de um tempo vivido e que hoje acho eu, não existe mais. Obrigado conterrâneo pela lembrança e o despertar do desejo de preparar o arrubação nesses próximos dias pois, já detenho que se todos os ingredientes necessário na execução: Feijão macassa, queijo de coalho, manteiga de garrafa, carne de sol, coentro e cebolinha, faltando o arroz vermelho, aquele da terra. Felicitações pelo artigo e expresso a alegria da oportunidade de conhecer essa obra prima lembrando Pombal.
Elpidio de Dr. Lourival e Dona Lourdes da Rua do Comércio.

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