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JOÃO LINDOLFO: Gracioso, Espirituoso e Irreverente!

POR FRANCISCO VIEIRA*
Prof Vieira (Foto)
Na construção das cidades seus habitantes são peças fundamentais, sem os quais nada seria possível. São partes dessa história, da qual participam conforme suas habilidades e competências. Uns se destacam na política, alguns se imortalizam na literatura, outros se tornam celebridades nas artes, quer no campo da música ou nas mais variadas áreas do gênero. Por fim, outra parte se eterniza pela maneira irreverente e espirituosa de ser.
Com base nessa premissa, trago à tona, ainda presente em minha memória a figura emblemática de “Seu João Lindolfo”, personalidade pombalense que sendo oriundo de São João do Rio do Peixe, radicou-se e viveu maior parte de sua vida em Pombal tornando-se um expoente na vida do município. Com certeza sem ele a história da “Terra de Maringá” não seria completa.
“Seu João” tinha estatura mediana. Na verdade: baixo, gordo e buchudo. Era o biotipo característico do nordestino. Para completar calçava chinelo de rabicho e usava chapéu de massa que cobrindo a cabeça também protegia a cara, nunca disponível para um sorriso. Era sisudo e reservado. Circunspecto mostrava-se aparentemente prudente e discreto, até o momento em que se sentia ameaçado nos seus limites e direitos. A cara dura que era seu cartão de visitas, se por um lado impunha respeito por outro causava temor, principalmente aos mais jovens. Dono de uma personalidade forte manifestava-se irreverente e espirituoso. A sua presença de espírito era evidente não deixando pergunta sem resposta, mesmo que fosse a mais grosseira e inoportuna. Era, pois uma combinação de qualidades que fizeram dele uma referência. Representava para Pombal o mesmo que “Seu Manduri” para Patos e “Seu Lunga” para Juazeiro do Norte no Ceará.
Suas proezas se tornaram conhecidas e motivo de gracejo nas rodas de amigos. Tamanha era a sua impaciência que certa vez derramou um litro de leite nos pés de uma pessoa que insistentemente lhe perguntara o que trazia na mão.
Sempre mal humorado, “Seu João” não media as palavras. Por pouco disparava em todas as direções, atingindo a todos indistintamente. Suas respostas consideradas inteligentes - embora fosse analfabeto – eram a ratificação do ditado popular: “quem diz o que quer, ouve o que não quer”. A propósito, vejamos. Certa feita, já bastante cansado e aborrecido por conduzir com dificuldade uma leitoa (porca), propositadamente lhe fora perguntado o que era aquilo. Irritado e sem titubear respondeu ao interlocutor: “você não conhece mais a sua mãe, filho de uma égua”.
“Seu João” não poupou sequer a sua esposa que também foi vítima de suas investidas, até mesmo depois de sua morte. A respeito conta-se que durante seu velório, tendo recebido os pêsames de uma pessoa, prontamente respondeu: “muito mais pesado era a língua dela e o diabo levou”. E, como se não bastasse, foi mais adiante. Ao terem dito que o falecimento de sua companheira lhe faria muita falta, assegurou dizendo: “vai fazer mesmo, porque as muriçocas que iam para a rede dela, agora vêm todas para a minha”.
Em síntese estas são apenas algumas das façanhas desse personagem que se fez popular em nosso meio entrando para a nossa história. Com certeza seu nome será lembrado ao lado de Pedro Corisco, Zezinho Sapateiro, Saturnino Santana e outros também notáveis. Quer seja para matar saudades ou para divertir suas proezas serão contadas e recontadas futuro adentro provocando risadas incontroladas.
Em suma, um relato da vida dessa personagem folclórica ainda viva em nossas lembranças. É que, cada ser humano, constrói na terra para a posteridade a sua própria história. Desde o mais brilhante e destacado cientista ao mais modesto operário, todos constituem os caminhos da vida. Por conseguinte, preserva-los é devido. Guardá-los na memória, exaltar os seus feitos e perpetuá-los no tempo é a melhor maneira de valorizar o que é nosso Defender nosso rico patrimônio é um dever e não cumpri-lo é injustificável. É, pois nesse sentido que lhe devoto esta homenagem onde exalto suas características: GRACIOSO – ESPIRITUOSO – IRREVERENTE, título deste artigo. Espirituoso como a arte capaz de manter o alto astral, até mesmo diante das adversidades, gracioso pelo humor das respostas e irreverente pela desatenção que elas ofereciam. Todas estas qualidades se resumem como o dom de lidar com o imponderável. Seu aguçado senso de humor sempre foi qualidade evidente em suas atitudes. Reconhecidamente parte de sua popularidade é decorrente dessas qualidades. Particularmente destaco sua sensibilidade que unida espontaneidade nos assegura a perpetuação de suas proezas.
A finalidade primordial em reverenciar João Lindolfo é documentar a presença marcante deste personagem na história da nossa cultura popular. Se nunca fizeram um livro a seu respeito, agora sim, tem pelo menos este resumo. Em suma um artigo atraente, tendo em vista a riqueza de expressividade e conteúdo que transmitem suas histórias, sobretudo, pela comicidade que apresenta. Por tudo isso, julgo – modéstia parte – o artigo conveniente.
Personagens deste tipo fazem de Pombal uma cidade sui-generis. Tudo aqui tem um sabor diferente, um toque há mais, outra conotação, algo mais atraente. Bairrista ou não, mas a verdade seja dita: tudo aqui é melhor. Essa diferença faz de Pombal uma terra apaixonante e inesquecível. O dia-a-dia confirma o ditado popular: “quem bebe de sua água jamais esquece.”. É que Pombal, além de sua importante participação na história política, inclui também destacada colaboração no que se refere a cultura popular. Se não bastassem os grupos folclóricos é evidente a existência de pessoas simples como JOÃO LINDOLFO, verdadeira expressão do mais autêntico sertanejo, portanto, de grande valia e significância na cultura de um povo, por isso, digno do nosso respeito e reverência.
Em síntese o meu tributo a JOÃO LINDOLFO pelo seu modo de ser: GRACIOSO – ESPIRITUOSO – IRREVERENTE.
Pombal, 06 de maio de 2010.
* Professor, Ex-Diretor da Escola Estadual "João da Mata" de Pombal.
JOÃO LINDOLFO: Gracioso, Espirituoso e Irreverente! JOÃO LINDOLFO: Gracioso, Espirituoso e Irreverente! Reviewed by Clemildo Brunet on 5/07/2010 07:01:00 PM Rating: 5

Um comentário

JERDIVAN NOBREGA DE ARAUJO disse...

Professor, vieira

muito bem lembrado a figura do nosso “Seu João Lindolfo. Aos poucos resgata-se a nossa historia. será que a geração de hoje vai tem tantas historia da nossa cidade para contar? Acusam-me de viver no passado, de ter a cidade de pombal como uma velha foto na parede de uma sada, mas, são historias como estas que não me deixam sair da nossa pombal de antigamente.att jerdivan

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