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POMBAL NA COPA DE 1970: 40 ANOS

Jerdivan Nóbrega de Araújo*

Um dos maiores eventos esportivos já vivido pela minha geração foi o Campeonato Mundial de Futebol de 1970. Daquele julho de 1970 a data de hoje, muitos Mundiais já aconteceram, mas nenhum se comparou com o “México 70”.
Foi ali que Pelé se tornou o maior jogador de futebol de todos os tempos. Foi também ali que o futebol brasileiro passou ser motivo de orgulho nacional e fonte de respeitabilidade internacional.
Era uma Pombal que ainda se ouvia os jogos de futebol em radinhos de pilha mas que a televisão já começava a chegar modestamente aos nossos lares.
A Seleção Canarinho venceu todos os seus confrontos com atuações mágicas, sapecando uma goleada na esquadra Azzurra na final e eternizando uma das maiores Seleções de todos os tempos.
Na primeira fase o Brasil começou goleando a Tchecoslováquia por 4x1, e no jogo seguinte venceu a Romênia por 3x2. O último jogo da primeira fase foi contra os ingleses, campeões da Copa do Mundo anterior, e decidiu a primeira colocação do grupo em uma partida épica e muito disputada na qual o Brasil venceu por 1x0.
Nas quartas-de-final o Brasil derrotou a seleção do Peru, cujo técnico era o grande craque brasileiro Didi, pelo placar de 4x2. Nas semi-final, em um jogo de muita tensão contra os antigos rivais uruguaios, o Brasil venceu por 3x1. A final foi contra a Itália, que como o Brasil também já havia ganho duas Copas do Mundo, de modo que o vencedor levaria em definitivo a Taça Jules Rimet. O primeiro tempo terminou empatado em 1x1, mas na fase final a seleção brasileira dominou o jogo e venceu por 4x1.
O fato é que poucos podem se comparar aos craques dessa geração, que conquistava o tri para a nação brasileira. Uma Seleção inesquecível, considerada a melhor do mundo até hoje. Félix, Carlos Alberto, Brito, Piazza, Everaldo, Clodoaldo, Gérson, Jairzinho, Tostão, Rivellino e Pelé foram treinados por Zagallo (que assumiu o posto depois da controversa saída de João Saldanha) e conquistaram a terceira Copa do Mundo para o Brasil.
Pombal vivia uma época de poucas novidades e a maior delas era a chegada da Televisão, que começou a ser instalada no ano anterior, com muito suor e persistência em uma historia já muitas vezes contada.
Eu vi, através da Rede Tupy de Televisão, apenas o ultimo jogo. Tinha eu oito anos de idade, e jamais me saiu da memória aquela cena: a casa era de Seu Raminho e Dona Neuza. Uma sala pequena uma televisão a frente e um moleque em cima da casa rodando as antenas(eram três) para um e outro lado. O som era inaudível o que foi resolvido com um rádio sintonizada na Rádio Globo.
Ao final de cada jogo as ruas, onde até então imperava o silencio, ganhavam vida com fogos e buzinaços dos poucos carros que circularam pela ruas principais da cidade. Nas janelas os rádios em bom som aglomeram torcedores que usavam a imaginação para desenhar em suas memorais os drinples de Pelé, narrados pelos não menos fenomenais Jorge Curi ou Waldir Amaral que, com seus bordões, davam “show” de narração, junto com Mário Viana, o primeiro analista de arbitragem que se tem noticias

• O que foi que só você viu Mário Viana???
• êêêêrrrrroooooou o juiz...
• golll legal....

Não tínhamos pessoas vestidas com as cores do Pais, não tínhamos bandeiras nas janelas, a ditadura de Médice não permitia o uso dos símbolos nacionais como se faz hoje. Era um tempo que até as flores não eram tão abundantes. A alegria era um tanto reprimida e pedia-se permissão para sorrir, mas, o futebol como sempre, funcionava como uma dose de ópio que nos permitia pular e soltar gritos reprimidos a cada gol de Pelé.
Eu ainda sinto o cheiro que exalava dos pacotes figurinhas ao ser abertas; ainda escuto a algazarrara dos moleques da minha idade gritando de alegria pela sorte de ter conseguido uma figurinha do rei Pelé; escuto o som das batidas de mãos nas calçadas, em cada sombra de algaroba, no jogo “bate bate” ou “bafo” ; o grito de alegria por ter colado a última figurinha e completado o álbum.
Um mês depois da grande conquista, o meu pai recebeu pelos Correios, enviado pelo amigo Mundinho, que fora morar em São Paulo, um Poster da seleção Canarinho. Lembro-me que ele o retirou do canudo desenrolando-o lentamente, nos mostrou apontando cada jogador para, em seguida, colocá-lo de volta no canudo, guardando-o por mais de trinta anos, como se fora, e era, uma relíquia a ser apreciada apenas a cada quatro anos. Lembro do grande poster da Seleção que Zé de Lau mandou emoldurar e colocou no fiteiro ao lado do seu eterno Bota Fogo.
No ano seguinte os Correios lançou o selo do tricampeonato. Um ano antes, 1969, já havia emitido o selo do milésimo gol de Pelé. Ainda hoje eu tenho os dois, muito bem guardado. Acho que de tão bem, nem eu sei onde.
Mas, o melhor de tudo foi, seis meses depois, revivermos cada gol da ultima partida através do “Canal 100” na grande tela do Cine Lux. Era como se o Brasil sagrasse Tri campeão o mundo mais uma vez e desta vez só pra os filhos de Pombal
Por tudo isso eu não tenho em minhas lembranças momento mais glorioso do que a conquista do Tricampeonato de futebol, acontecido no dia 21 de julho de 1970.

*Escritor pombalense.
POMBAL NA COPA DE 1970: 40 ANOS POMBAL NA COPA DE 1970: 40 ANOS Reviewed by Clemildo Brunet on 6/21/2010 07:01:00 PM Rating: 5

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