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DIFÍCIL DECISÃO

Severino Coelho (foto)
Por Severino Coelho Viana*

O nosso mundo real, que as pessoas vivem em concorrência desleal, além de consumista, desigual, artificial e desumano, obriga as pessoas a se fecharem no seu mundo individual e que passam a acreditar somente em ganhos materiais. Aprendemos contar o tempo por dias, meses e anos, e esquecemos a viver a vida qualitativamente a cada dia, da maneira plena possível como se não houvesse o amanhã.

A nossa vida caminha num constante pulso de decisões, momentaneamente, das mais simples na rotina cotidiana às mais complicadas que perdurarão como um fado constrangedor ou como um alívio para o nosso grau de sensibilidade.

No longo percurso de nossas vidas, sempre nos deparamos com situações difíceis, embaraçosas, engenhosas que nos pegam de surpresa, e, então, ficamos entre a cruz e a espada, sem saber o que fazer e qual decisão a ser tomada. Se correr o bicho pega ou se ficar o bicho come! O que chamamos de sinuca de bico. Nestas ocasiões é que precisamos de muito equilíbrio e sensatez para achar uma outra saída para o problema ser solucionado, principalmente quando exige rapidez de raciocínio e ação corporal. Estes problemas que são corriqueiros, no nosso dia-a-dia, refletem no íntimo da alma humana. E assim, errando e acertando vamos levando a vida e sempre aprendendo ali, caindo aqui, levantando para cair de novo e aprender alguma lição de vida, que na prática, acostumamos a lidar com os dilemas da vida.

Todavia, nem tudo é tão fácil assim, existem situações que mexem e remexem nas nossas entranhas, por exemplo, aplicar a eutanásia ou não a um ente querido que sofra de uma doença incurável; escolher qual o tipo de execução que o condenado à pena de morte deseja: injeção letal, guilhotina, forca ou um tiro fatal; se dois filhos amados estão em perigo fatal qual deles deve ser escolhido para ser salvo! Valendo ressalvar que a pessoa se encontra naquele momento que vale o tudo ou nada!

No dia 07 de agosto de 2010, aconteceu um fato que recontamos, literalmente, para que sirva de profunda reflexão à nossa vida e à vida dos nossos semelhantes. Uma mulher britânica foi forçada a escolher que filho salvar após seu veículo automotor cair no fundo de uma represa, Rachel Edwards, de 39 anos, retirou a filha de 2 (dois) anos do veículo submerso, mas não conseguiu salvar o filho de 16 (dezesseis) anos.

Rachel Edwards dirigia o carro, acompanhada dos dois filhos e de dois amigos do filho quando passou por um buraco e perdeu a direção na região de Lincolnshire, no nordeste da Inglaterra. Edwards, que estava grávida de seis meses na ocasião do acidente, conseguiu escapar do carro pela janela enquanto o veículo afundava.

Os dois amigos do filho também conseguiram escapar pela janela e correram para buscar ajuda. Edwards mergulhou a mais de três metros de profundidade para tentar resgatar os filhos, que ficaram dentro do veículo, e percebeu que não teria como levar os dois de volta à superfície. Ela decidiu então salvar a filha Isabella e levá-la à superfície, enquanto o filho Jack ainda estava preso no carro. Assim ela explicou: "Eu puxei a Isabella para fora e sabia que ela ainda estava viva. Tentei voltar para tentar salvar o Jack, mas sabia que se eu soltasse a Isabella, não conseguiria tomá-la de volta. Eu estava só gritando e gritando", relatou a mãe. Ela disse que o filho estava sentado ao seu lado no banco da frente, e que sua janela estava fechada porque ela havia pedido que ele a fechasse por causa do vento. Ela pensou que conseguia deixar Isabella na superfície e mergulhar novamente para resgatar o filho, mas os para-médicos chegaram ao local e a impediram de voltar para buscá-lo. Os serviços de emergência conseguiram tirar Jack do veículo, mas o adolescente já estava inconsciente e foi declarado morto ao chegar ao hospital. O resultado do momento da decisão ela relatou: "Desde então eu passo todos os meus momentos pensando em como eu poderia ter salvado meus dois filhos", disse.

Um outro exemplo, um homem que tinha um filho que ele amava extremamente... Eles brincavam na praça, corriam nas alamedas, nadavam no rio e se beijavam carinhosamente. O pai trabalhava no controle da ponte de um trem... Seu filho amava observar os trens... E as pessoas que viajavam no trem eram pessoas solitárias, com ira no coração, orgulhosas, viciadas e frustradas. Mas um trágico erro, que o leva a uma escolha terrível: deixar que todos no trem morram ou puxar a alavanca e deixar que seu filho seja esmagado pela ponte ou a salvação de todos. A sua mente fervia, o seu coração pulsava, o suor corria no seu rosto, a garganta enroscava e uma dor no peito ardia, sufocadamente. Ele escolheu o sacrifício de um ente mais querido e preferiu o sacrifício de um e trouxe a esperança para o futuro de muitos. A perda do filho foi recompensada pela salvação de todos.

Por outro lado, apesar de ser um exemplo hilário, serve para apagar o fogo do coração egoístico. Assim o anverso da moeda pode ocorrer, como nesta estória pejorativa. “Havia onze pessoas penduradas numa corda de um helicóptero. Eram dez homens e uma mulher. Como a corda não era forte o suficiente para segurar todos e para evitar a queda de todos, eles decidiram que um deles teria que se soltar da corda”.

Eles não conseguiram decidir quem soltava a corda. Até que finalmente a mulher disse que soltaria a corda, “pois as mulheres estão acostumadas a largar tudo pelos seus filhos e pelo o seu marido, dando tudo aos homens e nada recebendo”.

Quanto ela terminou de falar, todos os homens começaram a bater palmas... !

João Pessoa, 10 de novembro de 2010.
*Promotor Público e Escritor. João Pessoa PB.
DIFÍCIL DECISÃO DIFÍCIL DECISÃO Reviewed by Clemildo Brunet on 11/10/2010 05:12:00 PM Rating: 5

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