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SEIS DE DEZEMBRO: DIA NACIONAL DO EXTENSIONISTA RURAL

Verneck Abrantes (Foto)
Verneck Abrantes de Sousa*



Algumas Lembranças...


Trabalhando na Extensão Rural paraibana, vivenciei muitas histórias por onde andei, conheci incontáveis pessoas, cidades e lugares inesquecíveis. Fui pioneiro na EMATER-PB, junto com Marcondes Correia, Francisco Veras, Bezerrinha, Johannes, Genival Soares, Edmilson, José Marinho, Paulo Padilha, na elaboração e implantação de projetos técnicos de irrigação para pequenos produtores rurais. No tempo em que tudo era calculado na ponta dos lápis. Na execução dos projetos, as visitas se estendiam pela manhã, à tarde e ocasionalmente, entrava pela noite quando nos baixios irrigados, iluminados pela lua ou o farol de um velho jipe, fazíamos teste de vazão do poço amazonas, a determinação da pressão de serviço do aspersor, a retirada de perdas localizadas na tubulação, o ajuste da altura monométrica total, etc., etc.

A satisfação do produtor:

- Doutor, o moto-bomba é bom demais! A gente liga o danado de macaca batida, ele roda zunindo os aspersores e vadeia com a água no mundo.

Tempos bons, mas, onde anda nossos primeiros parceiros irrigantes? Seu Alvino, Biano, Zé Moreno, Chico Ferreira, Dedé Duarte, Tristão, Seu Adalço, Melquides... Alguns já se foram... Ainda sinto saudades quando da satisfação de cada um vendo a produção das culturas de algodão, milho e feijão sendo triplicadas por hectare. Depois, fazendo Extensão Rural nas áreas irrigadas ou de sequeiros, vivi situações inusitadas pelos caminhos do sertão: Socorri de queda mulher grávida na seca de 1983, quando caçava um camaleão em cima de uma ingazeira para amenizar a fome; fiz acordo de vizinhos jurados de morte; cheguei num sítio com 75 inscrições para “fichar trabalhadores da emergência” e me deparei com mais de 200 pessoas. Depois, ainda fiquei no meio de tiroteio quando do pagamento da “emergência”. Dei nome de planta à criança recém nascida; conheci muitos rios e riachos de inverno a verão; emiti laudo de perdas na mata fechada e espinhosa, onde só podia ir de burro ou cavalo; soltei passarinho engaiolado, cachorro amarrado no sol quente; saí muitas vezes antes do sol e voltei com a lua e as estrelas. Já me perdi pegando atalho errado, mas depois, me achei no caminho certo. Pela estrada de terra batida sofri virada de carro; na caatinga seca, longe de tudo, fiquei com o carro quebrado onde só se ouvia o tinido do chocalho de uma vaca, distante, quase inaudível. Corri com medo de touro brabo, vaca de bezerro novo; socorri mulher com dor de parto; abri e fechei incontáveis cancelas; entrei em casebres e me emocionei com a fome e a miséria. Vivi a tristeza das irregularidades das chuvas de inverno, vendo tudo que se plantou se perdendo. A seca torrando ainda mais a terra ressequida, a tormenta da falta d’água, o gado morrendo de fome, homem e animais silvestres migrando e as famigeradas “frentes de emergências”. O sertão abrasador das cactáceas, dos mandacarus, das macambiras, dos pereiros, faveleiras, angicos, jurema preta, catingueiras... Também, vivi o esplendor das chuvas de inverno, bem relampejadas e trovejadas, fazendo renascer das cinzas às flores e o verde escuro da vegetação nativa. O plantio no solo arado, a alegria das colheitas, o aboio do vaqueiro, vacas paridas, piracema de cumatã, o perfume do mato verde e das flores silvestres em meio à sinfonia dos cantos dos passarinhos. A chuva exalando o cheio da terra molhada para satisfação do trabalhador... Um dia, remexendo nas gavetas, revendo velhos papeis, a minha filha, ainda criança, pega um cartão amarelecido pelo tempo e pergunta:

- Quem é Chico Rodrigues?

Sim, os velhos Cartões de Natal e Ano Novo que recebia dos produtores rurais: Chico Rodrigues do Bom Sucesso. O tempo... 30 anos já se passaram e ai vai toda uma vida marcada pelo trabalho no semi-árido paraibano. Diante disso, a certeza de que foram muitos os caminhos por onde andei, incontáveis propriedades visitadas, a dinâmica da comunicação, o semeio de muitas amizades, sementes plantadas, produções colhidas e, sem dúvida, uma grande experiência vivida com pessoas memoráveis e lugares que jamais serão esquecidos.

Em meio a tudo isso, os Escritórios da EMATER e nossos famosos Relatórios de Compromissos: Plano Anual de Ação, Relatório Diário do Executor, Cadastro dos Produtores, Folha de Freqüência, Relatório de Crédito Rural Orientado, Informativo Mensal de Preços, Controle de Quilometragem do Veículo, Prestação de Contas, Relatórios de Informações Mensais das Atividades, Fundação Getulio Vargas, Pesquisa Semanal de Preços da CONAB, Campanha de Vacinação, Laudos Emitidos e Encaminhados ao Banco do Nordeste, Guia de Tráfico Animal, Reuniões, Avaliações, solicitações outras incontáveis.

Ainda ressalto que na Amazônia, com os colegas Baracuhy e Beranger, implantamos projeto agroflorestal em 14 aldeias dos índios Munduruku/Sateré, mais uma convivência inesquecível...

Em meio a tudo isso, entre perdas e ganhos, acredito no dever cumprido e no trabalho da Assistência Técnica e Extensão Rural, que reflete dedicação, paciência, perseverança, o amor à natureza entre outras qualidades intrínsecas desses abnegados Extensionistas, que dos tempos idos, vem trabalhando incansavelmente na busca do desenvolvimento rural brasileiro.

Essas lembranças me chegaram porque outro dia, caminhando pelo centro de Campina Grande, me deparei com um colega dos tempos de faculdade. A velha e boa amizade nos conduziu a uma conversa descontraída, e depois de algumas recordações prazerosas, prosas e lorotas, ele me perguntou:

- O que vocês fazem na EMATER?

*Verneck Abrantes de Sousa
É da ABER - Academia Brasileira de Extensão Rural

Com Sede em Brasília-DF

A ACADEMIA BRASILEIRA DA EXTENSÃO RURAL é uma organização voltada para construção, promoção e socialização da extensão rural no Brasil, com o objetivo de desenvolver programas especiais, em universos da ciência, cultura e da arte, com edições especiais de biografias, com a promoção de seminários e conferências em temas e áreas relacionadas à Extensão Rural; construir e socializar acervo sobre a história e horizontes futuros da extensão rural brasileira, reportar a abrangência de atuação dos extensionistas rurais e seu papel na implantação das políticas voltadas para o desenvolvimento sustentável; elaborar, editar, publicar e distribuir revistas, livros, artigos, cartilhas, vídeos e afins.
SEIS DE DEZEMBRO: DIA NACIONAL DO EXTENSIONISTA RURAL SEIS DE DEZEMBRO: DIA NACIONAL DO EXTENSIONISTA RURAL Reviewed by Clemildo Brunet on 12/06/2010 06:21:00 AM Rating: 5

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