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UM PAULISTANO-PARAIBANO-POMBALENSE QUE É UNIVERSAL...

Maciel Gonzaga (Foto)
Por Maciel Gonzaga*

Lendo o jornal Tribuna do Norte, de Natal, na coluna “Livros”, lá estava uma nota que falava de “um paulistano-paraibano que é universal”. O fato me interessou. Logo quis saber de quem se tratava. E lá estava um comentário sobre o nosso ilustre W. J. Solha ou Waldemar José Solha. O comentário era sobre o livro intitulado “História Universal da Angústia”, de W. J. Solha, Editora Bertrand Brasil, 448 páginas. A nota rasgava elogios ao livro. Comentei com a minha esposa (Euclimar), que se tratava também de um pombalense, muito querido por todos nós, pois foi em Pombal que Solha aportou na Paraíba vindo trabalhar na agência do Banco do Brasil.

Na primeira oportunidade, fui à livraria Siciliano, no Shopping Midway Mall, aqui em Natal, a procura do livro. Não tinha. Mas, por sorte, encontrei um amigo advogado e também jornalista, que me indicou quem tinha o livro. Ligou para o colega e o mesmo afirmou dispor da obra. Fui buscar.

O livro de Solha é genial, incomparável e mostra todo o seu talento. É dividido em capítulos que mais parecem livros independentes, cada qual com sua característica, sem a necessidade de uma trama única. Não é um romance, portanto. São várias novelas sobre o mesmo tema, que revisita de forma original as dramáticas trajetórias dos grandes personagens de nossa cultura.

Através de sete narrativas longas, o autor recria à sua maneira - meio paulista, meio paraibana, totalmente brasileira, porém sem nunca perder o caráter universal - figuras históricas, mitológicas e literárias. Da Bíblia às catástrofes do século XX, passando pelas obras de Shakespeare e pelas tragédias gregas, Solha mescla arte e realidade ao elaborar uma obra erudita e, ao mesmo tempo, popular.

Como o próprio Solha afirma, História Universal da Angústia "tem muito de Zé Limeira... e dos nossos grandes poetas e cantadores Zé Ramalho e Vital Farias": o livro mostra o evangelista Lucas internado em um sanatório do Nordeste brasileiro, debatendo as razões divinas; o rei Saul diante da coragem de Davi derrotando o gigante Golias; centenas de cenas de violência moderna, incluindo torturas do tempo da ditadura militar e assassinatos domésticos; a lenda de Parsifal, escondido da violência do mundo pela mãe que o superprotege a ponto de negar-lhe conhecimentos fundamentais acerca da vida e dos homens, proteção que se revelará insana e inútil; Édipo e seu crime duplo, o parricídio e o incesto, e a conclusão de que a consciência é terrível, além de inútil; e Hamlet, com seu destino inquietante que eternamente inspira a arte. Embora no título esteja a palavra "angústia", o tema é a violência - física e moral. O termo escolhido por W. J. Solha refere-se à forma como todos lidamos com essas tragédias, de um jeito perturbador, sempre angustiado.

Gostei muito do segundo capítulo, A Angústia do Rei Saul. Aqui, o leitor ilustrado vai rir de tremer a barriga, ao percorrer as linhas eivadas de ironia e bom humor com que Solha nos presenteia. Do seu ponto de vista, o heróico rei judeu não passa de um trapaceiro, invejoso e sem caráter. E o famoso rei Davi, passa até por desconfianças quanto a, como diriam os politicamente corretos, sua orientação sexual. Uma beleza de texto que não deve ser lido por fanáticos religiosos.

W.J.Solha (Foto)
Waldemar José Solha, nascido em Sorocaba (SP), em 1941, é um escritor romancista, dramaturgo, ator, diretor de teatro e artista plástico, que engrandece o nosso Brasil, nossa Paraíba e a nossa Pombal. Radicou-se na Paraíba desde 1962. Escreveu os romances: "Israel Rêmora", Prêmio Fernando Chinaglia 1974, editado pela Record em 1975; "A Canga", 2º prêmio Caixa Econômica de Goiás, 1975, editado pela Moderna, de São Paulo, em 1978, e pela Mercado Aberto, de Porto Alegre, em 1984; “A Verdadeira História de Jesus", editado pela Ática, de São Paulo, em 1979; "Zé Américo Foi Princeso no Trono da Monarquia", lançado pela Codecri em 1984; "A Batalha de Oliveiros", Prêmio INL 1988,publicado pela Itatiaia, de Belo Horizonte, em 1989; "Shake-up", publicado pela editora da UFPb em 1997; E ainda o poema longo "Trigal com Corvos", publicado pela Palimage, de Portugal, em 2004, Prêmio João Cabral de Melo Neto 2005 como melhor livro de poesia do ano anterior e "História Universal da Angústia", Prêmio Graciliano Ramos 2006 e finalista do Prêmio Jabuti 2006.W. J. Solha tem passagens também pelo teatro. Escreveu e montou "A Batalha de OL contra o Gígante Ferr" em 1986, e "A Verdadeira História de Jesus" em 1988. Escreveu também "Os Gracos" (inédito), "A Bagaceira" e "Papa-Rabo" (montadas por Fernando Teixeira em 1982 e 1984), "Burgueses ou Meliantes" (montada por Ubiratan de Assis em 1988), "A Batalha de Oliveiros contra o Gigante Ferrabrás", Montada por Ricardo Torres em 1991. Fez os textos para "Cantata Pra Alagamar", música de José Alberto Kaplan, gravação Discos Marcus Pereira 1980, "Os Indispensáveis", para música de Eli-Eri Moura, apresentada em João Pessoa em 1992. Trabalhou como ator nos filmes “O Salário da Morte”, dirigido por Linduarte Noronha em 1969, “Fogo Morto”, dirigido por Marcus Farias, "Soledade", dirigido por Paulo Thiago (ambos de 1975), "A Canga", de Marcus Vilar, em 2001 e "Lua Cambará", dirigida por Rosemberg Cariry em 2002. É autor dos painéis "Homenagem a Shakespeare", de 1997, em exposição permanente no auditório da reitoria da UFPb, e "A Ceia", de 1989, no Sindicato dos Bancários da Paraíba.

Solha é tio da atriz brasileira Eliane Giardini. Aliás, foi com ele que a atriz fez seu primeiro trabalho no cinema. Sempre fez questão de dizer que escolheu vir trabalhar em Pombal e essa decisão influenciou a sua vida. Em nossa cidade, ele se encontrou com a arte, envolveu-se com artistas e estudantes onde diz que teve surpreendente descoberta de uma casta de intelectuais do mais alto nível em pleno Sertão paraibano. Sempre expressou toda sua gratidão a Pombal, relembrando o casamento, o nascimento dos filhos, os bate-papos com amigos, nos banhos de rio e de açude, com cachaça, arrubacão, tira-gosto e buchada de bode. Aqui, ao lado de José Bezerra Filho, Solha ajudou a fundar o TEP – Teatro de Estudantes de Pombal – e montou as peças: “Guerra de Canudos” e “O Vermelho e o Branco”, com grande sucesso de público e crítica. É por esta e outras razões que Waldemar José Solha é “um paulistano-paraibano-pombalense que é universal”.

*Jornalista, Advogado e Professor. Natal-RN.
UM PAULISTANO-PARAIBANO-POMBALENSE QUE É UNIVERSAL... UM PAULISTANO-PARAIBANO-POMBALENSE QUE É UNIVERSAL... Reviewed by Clemildo Brunet on 12/15/2010 06:05:00 AM Rating: 5

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