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OS DANIEL TAMBÉM SÃO MENESTRÉIS...


Maciel Gonzaga (Foto)
MACIEL GONZAGA*

A sanfona de oito baixos, também conhecida no Nordeste como pé-de-bode, fole de 8 baixos, concertina, harmônica ou simplesmente 8 baixos, faz parte da memória musical e afetiva do Nordeste, verdadeiro patrimônio cultural sertanejo. Enfim, tantas denominações diferentes para um mesmo instrumento, o acordeom diatônico, que no Brasil é mais popularmente conhecido por sanfona.

Foram as imigrações alemã e italiana, em meados do século XIX, responsáveis pela chegada da sanfona no Brasil, especialmente para os estados de São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Presença forte na porção meridional e no interior do Brasil, o instrumento era comumente utilizado como forma de representação das tradições daquelas comunidades, através da execução de ritmos diversos, como o fado, a valsa, a polca.

Nas diferentes regiões por onde passou, o acordeom sempre agradou a todos os gostos devido à sua versatilidade. É nesse contexto que surge a figura de Luiz Gonzaga, o grande responsável por popularizar o instrumento e difundir a denominação de sanfona, através do grande sucesso de sua carreira musical. Hoje, entrando na segunda década do novo século, é possível perceber, contudo, que "a sanfona ainda não desafinou" e continua forte, reconquistando seu espaço no imaginário popular e nas produções musicais Brasil a fora.

8 Baixos
Mas, voltando ao nosso conhecido pé-de-bode, este é considerado pelos tocadores um dos instrumentos de mais difícil execução, sua execução é uma arte que sempre foi dominada por poucos. Esse instrumento recebe, no Nordeste, uma afinação diferente, única no mundo, só utilizada pelos sanfoneiros de 8 baixos dessa região do Brasil. Sua característica marcante é a bi sonoridade: abrindo o fole, o botão corresponde a uma nota; fechando, à outra. Funciona pelo sistema chamado de “voz trocada” ou “duas conversas”. É isto que, basicamente, o diferencia da sanfona, onde cada tecla ou botão corresponde a uma única nota, independentemente do movimento do fole. Sua execução éhttp://personales.ya.com/diatonico/ ensinada de pai para filhos, como aconteceu com o “Vovô Januário”, pai do Rei do Baião Luiz Gonzaga.

O sanfoneiro pernambucano “Arlindo dos oito baixos” é um dos poucos mestres do pé-de-bode que têm trabalhado na área da educação musical. Sobre a importância na transmissão de seus conhecimentos Arlindo comenta: “Se não fizermos isso, vai acabar a sanfona de oito baixos. Tem que ensinar. Eu tenho o maior gosto, o maior prazer de ensinar”.

Aniversário Elias Daniel (Foto)
Aqui, em Pombal, nos anos 50, uma família toda praticamente se dedicou ao toque do fole de oito baixos: a família Daniel. O mais velho – Severino Daniel – comandava a festança, juntamente com os irmãos Cícero, Antônio e Elias Daniel (este último meu Padrinho de Crisma, que o eu mesmo o escolhi por ele tocar fole). O meu irmão Massilon, sabendo da minha escolha, também exigiu que o seu Padrinho de Crisma fosse Severino Daniel, quando a minha mãe Rosa Gonzaga já havia convidado uma influente personalidade da sociedade pombalense.

Para o folclorista Câmara Cascudo, o nome forró seria derivado do termo forrobodó. Esta expressão, de origem portuguesa, significa balbúrdia, confusão. Forró então tornar-se-ia um dos mais fortes meios de expressão da música nordestina, por ser um gênero sincopado, com maior flexibilidade rítmica que o baião, e melodias muito adornadas, construídas normalmente em grupos de semicolcheias. A palavra forró passaria a ser entendida no Brasil, como uma gíria para designar os festivos encontros populares do povo nordestino. E era isso que víamos em Pombal nos anos 50 e 60: os forrós da casa de Chicó Guarda, na rua do Cachimbo Eterno, duas casas após a minha, tocados pelos integrantes da família Daniel, um após outro, sem intervalo, apenas com o acompanhamento da zabumba, triângulo e pandeiro.

Elias Daniel e Maciel Gonzaga (Foto)
Isso posto, aproveitando a deixa do Professor Vieira, em artigo que homenageou os menestréis da família Espalha, aproveito o ensejo para também homenagear a família Daniel – os mais antigos e os mais jovens que também se dedicaram à música – que teve um papel histórico de grande relevância na valorização do Fole de 8 baixos em nossa cidade. Pois, como diz o poeta Juca Chaves, “músico, poeta, amante menestrel, a arte minha estrada, a espada o meu nariz, canto a liberdade, alguém há de ser feliz, espalho grãos de humor na terra e colho amor no céu...”. A minha homenagem especial ao meu padrinho Elias Daniel, com 85 anos, ainda tocando o seu pé-de-bode, UM VERDADEIRO MESTRE E MENESTREL

*Jornalista, Advogado e Professor. Natal – RN.
OS DANIEL TAMBÉM SÃO MENESTRÉIS... OS DANIEL TAMBÉM SÃO MENESTRÉIS... Reviewed by Clemildo Brunet on 2/06/2011 06:45:00 AM Rating: 5

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