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O Jornal "Avanço": 42 anos depois

Maciel Gonzaga
Maciel Gonzaga*

Inegavelmente, o papel que a imprensa tem desempenhado como “olhar onipresente do povo”, mesmo cometendo erros, tem sido salutar para o aperfeiçoamento de uma sociedade democrática em nosso país. Logo cedo, ainda na flor da minha adolescência, no final da década de 60, ao lado de grandes baluartes como Clemildo Brunet, Manuel “Arruda”, Genival Severo, Zeilto Trajano, Verneck Abrantes e tantos outros, eu pude compreender ser imprescindível para a sociedade a manutenção dos valores tradicionais do jornalismo.

Todos nós, em pleno regime da ditadura militar, já compreendíamos muito bem o “papel da imprensa” na sociedade, não só no Brasil, mas no mundo inteiro. Compreendíamos a importância da imprensa gritada na Revolução Francesa. Ou na derrubada do Czar na Rússia, divulgando o grito de jovens por objetivos de melhoria social.

No meu caso pessoal, em 1969, optei por ir estudar em Campina Grande. Lá, pude me engajar totalmente na imprensa, passando por rádios, jornais e, posteriormente, televisão. Sempre acreditando na liberdade de uma imprensa capaz de cumprir com o seu papel de pressionar e conscientizar as classes superiores na busca de uma sociedade mais igual.

 Jornal "AVANÇO"
Anos e anos se passaram. Estando eu já trilhando outros caminhos – o da Justiça – me chega ao conhecimento algo prazeroso que me irradiou de alegria, pois, confesso, não me lembrava mais desse feito. Através do também pombalense Ricardo Ramalho, recebo cópia de um exemplar – o de número 01 – do Jornal “Avanço”, com data de dezembro de 1968. E lá estavam apostos no expediente do folheto: Ricardo Luiz Ramalho, Werneck Abrantes, José Ademi Queiroga, F. das Chagas Werton, Alberto A. Bandeira, Geraldo Nóbrega e Maciel Gonzaga. Lá, todos nós falávamos de arte, de cultura, de uma melhor educação, combatíamos a miséria, combatíamos a guerra do Vietnã. Divulgávamos até a letra da música de Geraldo Vandré – “Pra não dizer que não falei de flores”.

Ressalte-se que o ano de 1968 foi o ano louco e enigmático do século passado. Ninguém o previu e muito poucos os que dele participaram entenderam afinal o que ocorreu. Deu-se uma espécie de furacão humano, uma generalizada e estridente insatisfação juvenil, que varreu o mundo em todas as direções. Ano de chumbo do Golpe Militar de 64. Mas, nós jovens estudantes pombalenses estávamos lá, de cabeças erguidas. Buscávamos incutir nas mentes da sociedade uma consciência para se entender o mundo de forma mais justa e equânime através de um bem precioso: a informação.

Hoje, bem mais amadurecido, depois de trilhar pelos caminhos do Direito e da Justiça, compreendo a importância do nosso feito através da informação, peça fundamental da liberdade, principalmente quando é praticada de forma isenta e responsável.

É bem verdade que, durante muitos anos, a nossa imprensa padeceu de censura, perseguições, com mártires como Vladimir Herzog. Agora, num momento em que as novas mídias alteram o modo de operar dos conglomerados de comunicação e que a tecnologia aponta um novo rumo na forma de interagir do cidadão com os meios de comunicação, cabe-nos lembrar desse grupo de jovens pombalenses – no qual me incluo. Ontem, como hoje, todos nós continuamos a entender que a imprensa tem um papel importante, se souber canalizar suas energias para ajudar na formação do povo brasileiro, na construção de um país democrático, plural, sem abrir mão de sua independência.

Por isso, num cenário como o de hoje, de plena liberdade, temos mais um motivo para aplaudir o Jornal “Avanço”, digno órgão oficial dos estudantes secundaristas de Pombal.

*Jornalista, Advogado e Professor. Natal – RN.
O Jornal "Avanço": 42 anos depois O Jornal "Avanço": 42 anos depois Reviewed by Clemildo Brunet on 3/18/2011 12:14:00 AM Rating: 5

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