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"NEOCORONELISMO" ARTIGO DE SEVERINO COELHO PUBLICADO NESTE BLOG, VIRA TEMÁTICA NACIONAL DE DISCUSSÃO NO SITE CONGRESSO EM FOCO!

Severino Coelho

Para analistas, parentes são coronéis do século 21

Estudiosos da política paraibana avaliam que predomínio de famílias revela “neocoronelismo urbano”, uma situação que atrasa o desenvolvimento do estado

Edson Sardinha e Renata Camargo

O terno de linho branco e os sapatos claros deram lugar ao terno de microfibra e aos sapatos escuros. O velho cavalo foi substituído pelas centenas de cavalos dos carros de luxo. Em vez do alpendre da casa grande, o palco dos encontros políticos agora são os palácios oficiais. O velho coronelismo, que vigorou do século XIX até o início dos anos 1930, pode ter se perdido em alguma imagem desbotada do passado. Mas ainda persiste em cores vivas na forma de fazer política país afora, sobretudo, no Nordeste, onde predominou.

É essa força que explica o fato de 14 dos 15 representantes da Paraíba terem parentes com mandato político, na avaliação de três estudiosos da história política paraibana ouvidos pelo Congresso em Foco: o promotor de Justiça e escritor Severino Coelho Viana, o historiador e professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) Paulo Giovani Antonino Nunes e o jornalista e analista político Biu Ramos.

“O coronel de hoje é um ‘galã de cinema’, que frequenta hotéis cinco estrelas, mas que no meio do povo age completamente diferente. Ele tem dupla personalidade. Uma coisa é quando ele se apresenta ao Congresso fazendo discurso, muitas vezes escrito por assessoria, como defensor da liberdade de imprensa e de expressão. Mas isso é da boca para fora, liberdade só interessa a ele enquanto não atinge o seu reduto político”, diz Severino Coelho, autor do livro A Vida do Cel. Arruda, Cangaceirismo e Coluna Prestes, entre outros.

Chicote aposentado

Na avaliação de Severino, o coronelismo mudou de roupa, trocou o meio rural pelo urbano e ganhou novo palanque com os veículos de comunicação, principalmente, as emissoras de rádio e TV, quase sempre vinculadas a políticos. Mas, para o promotor de Justiça, o velho mandonismo persiste. “Modificou o estilo, mas continua a existir. Não vemos mais o chicote, a carabina e o mandão direto. Mas ele atua de forma camuflada, com a compra de voto, com a oferta de emprego e remédio. Apenas o coronel de 1930 não é o mesmo do início do século 21.”

O coronelismo, lembra Severino, era baseado no tripé terra, família e agregados. Desses três componentes, a família é o que se manteve mais fiel às origens. “A terra já não tem mais aquele poder econômico que tinha nos anos 30. Hoje eles têm outra forma de conquistar, nas fábricas, nas empresas, nas rádios. Os agregados, que viviam em suas terras, hoje são os ajudantes, gente que serve para tudo. A família persiste, acima de tudo, para defender seus próprios interesses”, afirma. “É o carreirismo político, comparável com o coronelismo. Só era eleito aquele que era de sua família ou tivesse parentesco muito próximo”, acrescenta.

“Familismo”

Professor da UFPB, Paulo Giovani também considera a repetição de sobrenomes políticos no estado um resquício do coronelismo e das oligarquias que se revezaram no comando da região na primeira metade do século passado. “No sentido mais clássico de coronelismo, a oligarquia é uma questão superada. Estamos falando mais de um neocoronelismo urbano”, afirma.

O professor explica que as oligarquias remontam a um período em que o Brasil era mais agrário que urbano, o voto não era secreto, as pessoas tinham pouco acesso a informação e o Estado praticamente inexistia. “O sobrenome ainda é determinante na Paraíba. O ‘familismo’ na política paraibana deixa pouco espaço para quem é de fora. Os parentes sempre se reproduzem na vida pública”, avalia o historiador.

Para ele, a prática de eleger várias pessoas de uma mesma família tem mais força no Nordeste por causa da fragilidade da economia local e da dependência da população em relação ao Estado. “A Paraíba é pobre, muito dependente do setor público. As pessoas se valem muito da cultura do empreguismo. Esse pessoal não é derrotado por causa da necessidade que as pessoas têm do Estado”, acrescenta o historiador.

O professor observa que, mesmo quem não vem de família de político, acaba recorrendo à prática de preparar herdeiros. Isso acontece, por exemplo, com o senador Wilson Santiago (PMDB-PB), que ajudou Wilson Filho (PMDB-PB), de 21 anos, a conquistar uma vaga na Câmara, e o deputado Wellington Roberto (PR-PB), que trabalhou pela eleição do filho Caio Roberto (PR) como deputado estadual.

“As famílias de políticos atendem à sua clientela. Em vários casos, beneficiam-se do poder público, o que, em certo sentido, pode atrasar o desenvolvimento do estado. Falta uma visão mais modernizante de Estado”, avalia.

Caras novas, velhas práticas

Com a experiência de quem acompanha os bastidores da política paraibana há mais de 50 anos, o analista político Biu Ramos diz que a atual bancada apenas repete a prática recorrente das últimas cinco décadas. “Os métodos que eles utilizam para fazer política são os mesmos de 50 anos atrás. Não mudou nada”, critica.

Para o jornalista, parte da culpa é do eleitor que pouco se interessa pela política e ainda vota em troca de dinheiro, emprego e favores ou na base da simpatia. “O eleitor nordestino, em sua maioria, é analfabeto, não sabe votar, não presta atenção nos programas de radio e TV durante o horário eleitoral. É muito desinteressado e não apreende a mensagem dos políticos”, considera.

Repórter com passagens pelos principais veículos da Paraíba, ex-correspondente do Jornal do Brasil, da Folha de S. Paulo e da revista Veja no estado, Biu Ramos diz não ver espaço para mudanças. “Estou me afastando do jornalismo político, não tenho mais esperança. A cada ano que passa, é uma decepção, um retrocesso na representação política da Paraíba. O grande responsável por esse retrocesso foi o golpe militar de 1964, que impediu o surgimento de novas lideranças”, reclama.

Esperança

O promotor e escritor Severino Coelho e o professor e historiador Paulo Giovani são menos pessimistas. Para Severino, é preciso ter paciência porque o processo de mudança é lento. “Isso não pode ser erradicado de uma só vez. Houve, em alguma medida, uma mudança cultural devido à liberdade de expressão e a uma maior consciência política, com o crescimento das pessoas com nível universitário. Hoje o pai, por exemplo, não manda mais no voto do filho. Existe alguma liberdade de escolha”, afirma o promotor.

Paulo Giovani diz que a eleição em outubro do governador Ricardo Coutinho (PSB) - que não vem de uma família de políticos, mas dos movimentos sociais - pode sinalizar o começo de uma transformação. Para se eleger, no entanto, ele recebeu apoio de famílias tradicionais na política local – como os Morais e os Cunha Lima, no segundo turno. “Temos a expectativa de ver se ele vai romper com essa cultura. Até aqui, ele não lançou nenhum parente na política”, diz o professor da UFPB.

Transcrito do Congresso em Foco em 04-04-2011.
"NEOCORONELISMO" ARTIGO DE SEVERINO COELHO PUBLICADO NESTE BLOG, VIRA TEMÁTICA NACIONAL DE DISCUSSÃO NO SITE CONGRESSO EM FOCO! "NEOCORONELISMO" ARTIGO DE SEVERINO COELHO PUBLICADO NESTE BLOG, VIRA TEMÁTICA NACIONAL DE DISCUSSÃO NO SITE CONGRESSO EM FOCO! Reviewed by Clemildo Brunet on 4/05/2011 12:12:00 AM Rating: 5

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