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ZÉ BERTO, O INSTRUTOR

Leozinho Formiga (Foto)
Por Leózinho Formiga*

Em Pombal havia também o hábito de amigos ajudarem a outros amigos
repassando conhecimentos e habilidades de uns para os outros.

Zé Berto, até onde lembro, era um médio fazendeiro da região que tinha um
jipe para sua lida, do ir ao campo e voltar à metrópole (Pombal) para a
negociação de produtos, e que era um excelente motorista.
O jipe, à época, era o meio de transporte mais adequado em Pombal e
arredores, haja vista a precariedade das estradas que davam acesso aos
distritos (São Bento, São Domingos, Várzea Comprida, dentre outros poucos) e
às fazendas no seu entorno.

Certa feita um Marchante local decidido a tornar sua vida mais ágil, na lida da
compra de gado e revenda de carne para os açougueiros, percebeu que se
dispusesse de um automóvel, no caso um jipe, tornaria mais ágil, produtivo e
rentável o seu negócio.

Dito e feito: comprou o jipe!
Comprou o jipe, mas não sabia guiá-lo. Apelou então para o conhecimento de
Zé Berto, pois além de bom motorista era um cara de comportamento paciente
para ensinar coisas que eram do seu lidar.
Contatado, Zé Berto prontamente se prontificou para as aulas práticas.
Local das aulas: o Campo de Aviação de Pombal.

Para quem não sabe, Pombal tinha sim um campo de aviação. A minha
lembrança é de que só era usado com certa freqüência, ou com pouquíssima
freqüência, por duas aeronaves: a da Brasil Oiticica e a de Antônio Pão Doce
(pronuncia-se Antoim Pão Doce), avô do meu compadre Antônio Neto de Maria
Dalva.
Uma história dentro da outra. O prenome de registro de Maria Dalva é Maria
Adélia! Da mesma forma que Elano (irmão de seu Minzim) é Genésio, e nosso
amigo Remilson tem por nome de batismo e registro Pantaleão.

Voltando à história.

Marcaram então a primeira aula para uma tarde de domingo tórrido do nosso
período de estiagem. Um calor de lascar!!!
Para se chegar ao campo de aviação a partir de Pombal, ia-se pela Rua do
Açougue em direção ao bairro dos Pereiros, atravessava a linha do trem,
passava na frente do cabaré de Love, sempre em frente, chegando na estrada
ainda de barro (hoje BR 230), seguia em direção a Patos e, uns 6 ou 10 km
depois, havia uma entrada pela esquerda, mais uns 800 a 1.000 m, para afinal
se chegar ao Campo de Aviação.

Tratava-se uma imponente pista de terra batida, com uns 500 m de extensão e,
em uma de suas extremidades, havia uma bruta pirambeira, com as clássicas
plantas de nosso semiárido: pés de Pereiros e de cortantes Juremas, e um
vigoroso pedregal para sustentação da pista. A aeronave tinha, é claro, que
estar no ar antes de lá chegar sob pena de por ela se esborrachar. O único
instrumento para ajuda dos hábeis pilotos era uma “biruta” para orientar sobre
a direção do vento.

Pois bem, lá chegando, Zé Berto que vinha guiando o jipe estacionou e
trocando de lugar com o Marchante, mandou ligar a máquina e começou a falar
sobre o papel do volante, da embreagem, e das marchas (o jipe só tinha três: a
primeira que era do arranque, para vencer a inércia e iniciar o movimento; a
segunda que era para imprimir mais velocidade; e, finalmente, a terceira, que
era a marcha que imprimia a velocidade de cruzeiro).

Problema 1:
Zé Berto havia marcado um outro compromisso, com horário muito próximo,
logo após o da instrução que já havia sido marcada com o amigo.

Problema 2:
Zé Berto explicou, apesar de sua paciência, muito rapidamente aqueles
procedimentos iniciais, temendo chegar atrasado ao 2º. Compromisso.

Problema 3:
A explicação acerca dos procedimentos iniciais (volante, embreagem, e a
passagem de marchas) foi repassada com o jipe já em movimento.

Problema 4:
A explicação foi repassada com o jipe em movimento e Zé Berto observando,
de lado, o Marchante e a passagem (rápida) das marchas. Assim, o incauto
Marchante aprendiz de motorista, empolgado foi logo acelerando muito em
todas as passagens de marcha, e o veículo logo atingiu uma rápida velocidade
(60 km/h), para espanto e surpresa de Zé Berto, pois ao olhar para frente viu
chegar rapidamente a perigosa pirambeira, tão temida pelos pilotos de
aeronaves.

Resultado:
Ato reflexo, acima de tudo vem o instinto de preservação do ser humano, e a
atitude de Zé Berto foi o de rapidamente abrir a porta do jipe, e pular para o
quente e pedregoso chão da pista, se arranhando um bocado nesta atitude.
Era Zé Berto rolando pelo quente chão de pedras, se ferindo, gritando de dor, e
ouvindo de dentro do jipe, que continuava compulsivamente acelerado pelo “pé
de chumbo” do Marchante, um forte e desesperado grito do ousado aprendiz
de motorista:
“Zé Berto, covarde, diga pelo menos onde é o freio!!!!!!!!!!”.
Mas não houve jeito, o jipe e seu motorista e o seu clamor velozmente
desceram e foram se estragando, se amassando pelas pedras, e se cortando
pelo juremal, pirambeira abaixo.
A sorte é que, além de muitos e muitos arranhões e pancadas, muito menos
para Zé Berto, e muito mais para o Marchante, ambos sobreviveram, apesar
dos machucados. Já o jipe, ficou todo esculhambado e deu muito trabalho para
recuperá-lo na oficina de Néri e Seu Genival.

Passado o ocorrido, o único inteiro que ficou deste acidente foi a amizade entre
Zé Berto e o, agora experiente Marchante-Motorista, que continuou apesar de
tantos machucados.
E esta história por muito tempo foi contada em Pombal, ao som de muitas
gargalhadas em todas as conversas noturnas de calçada.

Tempos de hoje
Semana passada, num barzinho, lembrei e contei para amigos que lá estavam
e – acreditem – foram muitos minutos de gargalhada, e o pessoal a dizer que o
estoque de “mentiras” (!?!?!?!) de Pombal nunca acaba
 
*Pombalense, engenheiro elétrico, filho de Leó fotógrafo.
ZÉ BERTO, O INSTRUTOR ZÉ BERTO, O INSTRUTOR Reviewed by Clemildo Brunet on 4/23/2011 09:39:00 AM Rating: 5

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