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A RUA DO CACETE ARMADO

Maciel Gonzaga
Por Maciel Gonzaga*

Em sua classificação morfossintática, o Dicionário da Língua Portuguesa classifica cacete armado como: substantivo masculino singular, sinônimo de confusão, briga. Seu antônimo é: tranqüilidade, clima de paz. No final da década de 50 e início da década de 60, surgiu em Pombal aquilo que hoje, se fala em ocupação de terras por famílias sem teto. Nas grandes metrópoles, até existe um movimento denominado MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), que funciona nos mesmos moldes do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra).

Em Pombal, a ocupação de uma área, de propriedade privativa da União situada às margens da rodovia federal BR-230 e, portanto, de propriedade do antigo DNER (Departamento Nacional de Estradas e Rodagens), aconteceu naturalmente. Eram famílias empobrecidas, sem teto ou perspectiva de vida, que começaram construir suas moradias de taipa no local. Foram pioneiros: Zé Lotero; Zé Barbosa, vigilante da Maternidade Sinhá Carneiro; Antonio Barbosa, vigilante do Colégio Diocesano; Mané Pinga; Antônio Pinga e tantos outros. De acordo com o historiador Verneck Abrantes, também foram primórdios, em uma segunda etapa, da Rua do Cacete Armado: Nêgo Buá, Chiquinho de Bembem, Rita de Chico de Ernesto e filhos, Tuzin de Jubinha, Papagaio, entre outros. Alguns trabalhavam, outros não tinham emprego algum e viviam de pescaria no rio Piancó ou “biscaites”. Mas, todos, sem oportunismo, não tinham, moradia, saúde, lazer, cultura. Estavam excluídas das decisões políticas que determinavam os rumos da vida social da cidade. A ocupação foi ordeira, lenta e gradual. Aos poucos, em regime de mutirão, cada família foi construindo sua moradia. Surge, então, a Rua do Cacete Armado.

Por que Cacete Armado? Pessoalmente, tive o privilégio de acompanhar de perto o surgimento da rua. Ali, a maioria era familiares meus, entre eles, os Pinga, Zé Lotero e os Barbosa. Em contraposição a Rua do Fogo e à Rua do Cachimbo Eterno, onde haviam muitas brigas entre seus moradores, o nome Cacete Armado surgiu naturalmente, pois, em razão da maioria dos moradores ser formada por pessoas das mesmas famílias, quando surgia uma briga, todos armados de cacete, saiam de suas humildes casas em defesa dos familiares envolvidos. Havia muita confusão, mas, pelo menos nos primórdios, não foi registrada nenhum assassinato. Com o passar do tempo, houve até uma maior integração entre os moradores. Porém, no nome de Rua do Cacete Armado permaneceu até hoje.

Hoje, mais de 50 anos depois, toda a área passou a ser denominada de Cacete Armado, cresceu e até se transformou em bairro. Seus dignos moradores, não têm a menor cerimônia de dizer que moram no Cacete Armado. Aproveitando o ensejo, mesmo à distância, faço um apelo ao poder público municipal para que possa, na medida o possível, oferecer melhoria de condições aos moradores daquela localidade, no que concerne à construção de escolas públicas, creches infantis, unidade de saúde, atributos da dignidade humana. Tendo como denominador comum a liberdade e, consequentemente, o respeito a ela, as sociedades humanas devem ser constituídas e organizadas sobre o reconhecimento da dignidade humana; devem formar uma sociedade "humanizada", observando este valor intrínseco do homem. A dignidade só é possível com a liberdade, porque somente o homem livre é digno, pois terá reconhecida sua honradez, a sua nobreza de ser humano. Mas para que possa haver uma humanização total e abrangente devem todas as organizações sociais humanas reconhecer seus membros por seus atributos intrínsecos humanos, e não pelos seus atributos materiais externos como riqueza material.

Em nossa Constituição Federal encontramos importantes artigos nesse sentido como o art.1º, inc.III, que coloca a dignidade da pessoa humana como fundamento da República; art.3º, inc.III que põe como objetivos fundamentais, entre outros, a erradicação da pobreza e da marginalização a fim de reduzir a desigualdade social e regional; art.5º, caput, que coloca todos iguais perante a lei, e seu inciso III, que proíbe a tortura, o tratamento desumano ou degradante; art.6º que determinada à assistência aos desamparados; art.193 que dá como base da ordem social o bem estar e a justiça social e, por último, art.231 que reconhece aos índios sua organização social como um todo, protegendo-os.

Portanto, vemos em nossa Carta Magna amplos dispositivos legais que protegem a dignidade humana, faltando colocá-los realmente em prática. Finalmente podemos concluir que uma sociedade somente poderá existir plenamente se representar os anseios de todos os seus cidadãos e respeitar seus direitos fundamentais, incluindo aí o direito de se ter uma vida digna. O Cacete Armado deve merecer todas as atenções e o nosso respeito.

Cassete Armado agora é Bairro
*Jornalista, Advogado, Professor. Natal – RN.
A RUA DO CACETE ARMADO A RUA DO CACETE ARMADO Reviewed by Clemildo Brunet on 5/09/2011 06:18:00 PM Rating: 5

2 comentários

Unknown disse...

eu queria saber do orelhão de cacete armado

Unknown disse...

Queria saber o orelhão de cacete armado

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