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LUIZ GONZAGA "O REI DO BAIÃO"

Sua importância sociológica para o Nordeste brasileiro


Maciel Gonzaga*

Maciel Gonzaga
Vinte e dois anos depois de sua morte, a obra de Luiz Gonzaga continua cada vez mais popular, e o mito cada vez maior. Não apenas sua caudalosa obra continua constantemente sendo regravada, como também academicamente dissecada, exercendo uma influência absoluta sobre a cultura nordestina, por ter sido o catalisadora de um povo altamente religioso e carente de exemplos positivos a serem seguidos. Sua música não é tradicional apenas, mas moderna. Gonzagão levou o rural para o urbano, foi um tradutor, no sentido etimológico da palavra, que significa transportar.

Inegavelmente, outra grande importância de Luiz Gonzaga foi ter reinventado o Nordeste, acabando com aquela imagem do sertanejo como uma espécie de Jeca Tatu. Ele se utilizou da figura de cangaceiro que, com a música, fez com que se tivesse outra imagem do nordestino.

Analisarmos as canções de Luiz Gonzaga como fontes reveladoras de dinâmicas sociais é uma proposta que surge alicerçada pelas mudanças ocorridas nas novas dinâmicas do fazer historiográfico, que cada vez mais tem multiplicado seu campo de estudo, com isso apostando na diversificação dos objetos e incorporado novas linguagens, abrindo assim possibilidades de comunicação com outras áreas do conhecimento como a sociologia, a antropologia, o direito, etc.

Em 1968, Luiz Gonzaga, em parceria com o mestre Luiz Queiroga, lança no LP "Canaã" uma música que recebe o titulo de "Nordeste pra Frente", objeto de análise a partir de agora neste artigo:
Sr. réporter já que tá me entrevistando
vá anotando pra botar no seu jornal
que meu Nordeste tá mudado
publique isso pra ficar documentado.

No refrão, Gonzaga concita a grande mídia para, por seu intermédio, entender o Nordeste brasileiro até então visto como um lugar atrasado, enquanto o resto do país encontrava-se em pleno desenvolvimento industrial. E só ele - Gonzagão - era o nosso representante no Sudeste do país em condições de provocar a mídia a uma mudança de comportamento em relação a nossa região, sofrida, mas valente, que também almejava o progresso.

Qualquer mocinha hoje veste mini-saia
já tem homem com cabelo crescidinho.
O lambe-lambe no sertão já usa flashe
carro de praça cobra pelo reloginho.

Mostra o Rei do Baião para o Brasil, que a mini-saia não era exclusividade do Rio e São Paulo. A onda dos cabelos longos trazida pelos Beatles e a Jovem Guarda estava disseminada entre nós. Eu mesmo, naquela época, já usava cabelos logos. O lambe-lambe tão comum nas praças das cidades era substituído por modernas casas de fotografia, com maquias de última geração. Os veículos de praça começavam a cobrar pelo taxímetro. Agora vem o mais importante:

Caruaru tem sua universidade
Campina Grande tem até televisão.
Jaboatão fabrica Jipe à vontade
Lá de Natal já tá subindo foguetão.

Lá em Sergipe o petróleo tá jorrando
em Alagoas se cavarem vai jorrar.
Publiquem isso que eu estou lhe afirmando
o meu Nordeste dessa vez vai disparar.

Em 1959, a Associação Caruaruense de Ensino Superior, mantenedora da Faculdade ASCES, faz a implantação dos inéditos cursos de Direito e de Odontologia. Surgia na época, as primeiras faculdades do interior do Norte e Nordeste do Brasil.

Em 1966, Campina Grande foi a primeira cidade do interior do Norte/Nordeste a possuir emissora de televisão - a TV Borborema - ao contrário de outros estados, em que as primeiras emissoras foram instaladas nas capitais (TVs Itapoan, em Salvador; TV Jornal do Comércio e TV Rádio Clube, em Recife.

Também, em 1966, a Willys Overlad do Brasil passa a fabricar o Jeep Willys (apelidado no Nordeste de "Chapéu de Couro") na cidade de Jaboatão-PE, onde estava a primeira fábrica de automóveis do Nordeste, a Willys-Nordeste, que também fabricou a Rural e Pick-up Jeep.

Ao se referir a "foguetão" lançado em Natal, Gonzagão falava na verdade do Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI), uma base da Força Aérea Brasileira (FAB) para lançamentos de foguetes fundada em 1965 na capital do Rio Grande do Norte, a primeira base aérea de foguetes da América do Sul.

Em 1967, acontece a primeira descoberta de petróleo no mar pela Petrobrás, no campo de Guaricema e, posteriormente, petróleo em terra, na região de Carmopólis, no Estado de Sergipe, poços que continuam produzindo gás nos dias atuais, um avanço significativo para a economia da região. Ressalte-se que anos depois a Petrobrás descobriu campos de petróleos em outros estados nordestino. Gonzagão já previa: "se cavarem vai jorrar".

Diante de tudo isso que analisamos, só podemos afirmar sem nenhuma contestação de que Luiz Gonzaga teve a importância sociológica de ser ícone para o Nordeste porque se dedicou durante toda a vida ao trabalho de cantar com simplicidade as coisas típicas da nossa região. Sua obra é tão grande que é maior do que o próprio Nordeste.

*Jornalista, Advogado e Professor. Natal – RN.
LUIZ GONZAGA "O REI DO BAIÃO" LUIZ GONZAGA "O REI DO BAIÃO" Reviewed by Clemildo Brunet on 6/13/2011 07:06:00 PM Rating: 5

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