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EXALTANDO EM POESIA, A POMBAL QUE A GENTE VIU!

A Pombal que a gente viu


Jerdivan Nóbrega de Araújo*


A Pombal que a gente viu
Corre, ruas quentes pés descalços,
Dentro de nós moleques, Quebra Queixo e Pirulito.

A Pombal que a gente viu desce rio a baixo
rua de baixo, ingazeiras debruçadas, beira do rio.

A Pombal que a gente viu são praças longas

Bar Centenário, sorveteria de Bernardo.
Eram pessoas, estória e histórias contadas,
Nas sombras das algarobas.
Eram loucos acordados cedo da noite
Correndo pela Rua Padre Amâncio Leite.

Chico Leonídes e João Lindolfo vendendo leite.
Eram os foguetões de seu Inácio
Clareando a noite e as ironias de Pedro Corisco
Provocando risos.
- Peripécia de Cícero de Bembém, também...

A Pombal que a gente viu eram jerimuns

Maxixes e Quiabos
Nascidos monturo aberto, animal solto
Nas praças feito gente.
Era Melão-de-São-Caetano, buchas e cabacinhas
As margens da cerca do capinzal de Delmiro Inácio.

Casa de seu Joaquim, casa de dona Nóca,
De dona Porcina, Zé Martins, Natércio,
Dona Raimunda na renda,
Oiticica de Mila e o corredor estreito do rio.

“Négo” Cândido mascando fumo, Pão com creme na
bodega de Toinho.
Maria e Severino Pedro, mãe Lourdes, estudantes
Da Escola Normal, Ana no cavalinho de goma,
Rua do comércio.

Eram negros malungos nos Pontões, Reisados e Congos.
Cordão Encarnado, Cordão Azul e os filhos de Zé de Bú...

A Pombal que a gente viu são lembranças levadas

pela estrada de ferro à Rua do Guindaste,
Pereiro, Cruz da Menina e o Rói Couro.

A Pombal que a gente viu era casamento fugido

Namoro proibido, Jeep chegando,
Noivo dizendo sim,
Padre Gualberto casando.

Bar de Maria de Biró, Zuca fabricando móveis
Zuza realizando bingos, seu Lau fabricando lamparinas,
Bicho no cambista, crediário nas Lojas Paulistas.
Zé do Bigodão a Rua Estreita de saudades ilumina.

Corredor do rio, Xiquexique, Araçá, Areal.

A Pombal que a gente viu era lanterna ofuscante de Galdino,

Música boa, Lord amplicador, Cine Lux,
Clemildo, recado, convite enterro.

Ribinha na bicicleta por entre as panelas de Jubinha
malabarismos, bola de meia sirene anunciando onze e meia.
Bronze da Matriz, Riacho do Bode, pedra do sino.

Era Leó na objetiva, Sôlha sempre com
Um objetivo, lendo de tudo.

Era fogo, é salário pago com vida.
É discurso longo de professor Arlindo na procissão,
Eram promessas pagas, Rosário na mão.
Cachimbo Eterno, Cacete armado, Nova Vida, Os Daniel
No alto do Cruzeiro
Rua do comercio e as mulheres fuxicando nos terreiros.

Era Ticho partindo pra São Paulo,
Era Maloura no parto, Zé Cabeção e Bico Doce
Esperando que eu parta.
Agnelo era zagueiro, “Négo” Adelson Goleiro.
Noé e Zezinho eram sapateiros e Bihino cachaceiro.

A Pombal que a gente viu são lembranças

Gostosas presentes nas sombras das oiticicas,
Arrubacão e cachaça na beira do rio, tapioca de Xica Pavi.
Cadeia antiga: prisão de sonhos e velhas lembranças.
Coluna da Hora não deixa o tempo ir.

Banca de Revista do ‘Escurinho”, álbum bom de colecionar.
Igreja do Rosário, jogo de bola de meia ou cabeça de calunga.
Era o Avelozsão, era o São Cristóvão entrando em campo,
São os que já saíram de campo...

Era a usina beneficiando algodão
Era a Oiticica beneficiando a cidade.
O apito da fábrica e a fumaça escura da chaminé
Irritando nossa inocência.

Era a SEDE e o Pombal Ideal Clube.
A Pombal que a gente viu era filme reprisado.
Era recado enviado à namorada
Pelas difusoras do Parque Maia.

Era camisa boluon e voltomundo, Lojas Paulistas.
Anita nas orelhas, Professor Guimarães na palmatória.
Eram todos, a sua maneira, fazendo história.
Era Godôr , Pedro Jáques e Zé Capitula.

Dobrados rompendo as madrugadas,
Zé Vicente na Tuba, Eliseu, maestria de mestre, batuta sem igual.
Reizinho vendendo cal, barraca de Zé de Lau.
Barbearia de Nouvino, João Terto e Antônio
Guerra e todos que contemplaram a cidade que
Nasce por entre as serras.

Esse tal de lembrança que vem, teclas abertas que sangram
Imagens vividas, que machucam na volta, que ferem feito espinho pontiagudo no peito,
e reprisa em nossas mentes os acontecimentos.
Trazendo de volta às ruas de Pombal o nosso irmão que partiu.

É coisa de mais valor que se tem!
É maior das invenções, luz que brilha de mais.
E ao mesmo tempo é sol a se apagar na eternidade
Escondendo de nós a velha cidade.

*Poeta e Escritor pombalense
EXALTANDO EM POESIA, A POMBAL QUE A GENTE VIU! EXALTANDO EM POESIA, A POMBAL QUE A GENTE VIU! Reviewed by Clemildo Brunet on 7/19/2011 06:34:00 AM Rating: 5

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