SIMPLESMENTE PAI

Hoje, quando o sol despontar no horizonte

E as crianças correrem pelos quintais e praças,

Não será, certamente, apenas um dia diferente,

Tudo me trará lembranças das nossas vidas;

Meu pensamento correrá como as pessoas livres,

Fará uma visita a muitos locais por onde passei,

Lembrarei, com certeza, de momentos felizes,

De pessoas importantes que nunca mais as verei;

Vou olhar as espumas flutuantes das serenas ondas

Que quando ao quebrar nas praias lembram a sonoridade,

E vão me dizer da ausência, do silêncio e por onde andas,

Não duvidarei dos lugares bonitos de rara simplicidade;

Suas palavras ponteadas de reflexões serão notadas

Na voz do vento sul e na força primaveril da juventude,

Na calor dos raios rasgando o céu azul e nuvens brancas,

Na firmeza da rocha mais firme e mais segura do arrecife;

Sua bondade refletida no andar compassado do ancião,

Apoiado na sua bengala de madeira barata e tão usada,

Na esmola dada, com amor, ação direta vinda do coração,

Na oração do pastor pedindo pelo rebanho na montanha;

Sua persistência nunca será esquecida e sempre imitada

Pelos que buscam novos caminhos de amor e esperanças,

Pelo jovem infeliz na tentativa de sair do vício e da derrota,

E a mulher abandonada à beira das estradas prostituídas;

Essa é a imagem que tenho do meu pai hoje distante,

Longe dos meus olhos sempre a buscar sua presença,

Dentro dos meus sonhos, atos e gestos, ontem e sempre,

Simplesmente, obrigado por não ter partido da minha vida.

Sérgio Kante

Navegantes, 13 de agosto de 2011