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IDEAL DE LIBERDADE

Severino C. Viana
Por Severino Coelho Viana*

A base da existência humana está construída nos dois pilares de sustentação da própria vida: ideal e liberdade. Se imaginarmos na mente sadia da pessoa sonhadora que busca a sua própria felicidade, que pensa na vida com um sorriso vibrante, que reside na casa da alegria e que procura a verdade desejada de um mundo própero, nada melhor do que apoiar nestas duas bandeiras existenciais.

O ideal nasce da verdade do sentimento humano que se espraia em todo o corpo humano pela luz reflexiva da mente. É justamente aquilo que é objeto de nossa mais alta aspiração, que não se condiz com o interesse pessoal, mas o interesse da união em nome de todos os liames de nossa convivência social. A liberdade é a essência de viver livremente esta vontade que emana do ideal, que a prática desta essência consiste em afastar o cativeiro e destruir os remanescentes canteiros da servidão. O ideal unindo-se à liberdade, e que cada um não tenha o exercício de seus direitos tolhidos, torna-se numa verdadeira aclamação provinda do Ser Superior.

O ser humano é social por natureza, o isolamento não faz parte da vida em sociedade, viver de comunhão e de relações sociais. A história universal exemplifica que no início de um longo período, o sistema básico de relações humanas foi o uso da força. Os mais fortes, fisicamente, dominavam os mais fracos. Com o correr dos milênios e o desenvolvimento da inteligência, o uso da força física cedeu lugar à força da inteligência, que, por sua vez, não deixa totalmente de utilizar a força física.

Neste percurso paulatino de evolução da história, percebemos que o egoísmo estampou como um fator determinante que tenta espoliar a inteligência naquela ânsia de impor a força bruta como controle das relações sociais. Contrapondo-se a esta insurgência selvagem emplacada pela força erige-se o Estado Democrático de Direito evitando-se assim que regras sociais pretensamente injustas venham edificar o arbítrio, a tirania e o despotismo.

Na Grécia antiga, Pitágoras afirmou que “o governo existe somente para o bem dos governados”. Em outro discurso, disse: “O Estado deveria ser o pai e a mãe de todos; o protetor de todos, sem o qual o lar seria assolado e destruído. É do Estado que promana tudo quanto torna nossa vida próspera e proporciona beleza e segurança. Se um homem bravo morre em defesa do que é seu, com maior boa vontade deveria morrer em defesa do Estado.”

O célebre lema da Revolução Francesa (liberdade, igualdade e fraternidade) é extremamente significativo para a construção de uma sociedade justa, humana e solidária. Mas, é bem verdade que, em seu nome, assim registra a história, foram cometidos erros que negaram o próprio ideal revolucionário.

O ideal de liberdade transformou grande parte do mundo, liberando-o do absolutismo, do colonialismo, da opressão. A história da humanidade reverencia pessoas que, de formas diversas, lutaram pela liberdade: Annie Besant, Nehru e Gandhi, na Índia; Artigas, Bolívar, Zapata e José Marti, na América Latina; Lincoln, nos Estados Unidos; Tiradentes e Gonçalves Ledo, no Brasil; e Mandela, na África do Sul.

A verdadeira, real e palpável liberdade implica, necessariamente, o desenvolvimento pleno da igualdade. Só existe verdadeira liberdade com igualdade. Liberdade, igualdade e fraternidade, divisas surgidas no coração da Revolução Francesa, tornaram-se princípios sociais universais e infinitos para a própria humanidade. Em qualquer época, em qualquer civilização, uma sociedade justa deve ser livre, igualitária e fraterna. Mais do que isso: a liberdade e a igualdade só podem existir a partir da fraternidade humana.

A fraternidade, por sua vez, depende fundamentalmente da transformação de cada um de nós e da expressão de nossas potencialidades internas. Em outras palavras, não há regime, sistema ou forma de governo, não há estrutura externa que possa garantir uma sociedade plenamente justa.

Mergulhando mais profundamente, podemos dizer que é no reconhecimento da natureza divina de todos os seres humanos, no reconhecimento de uma verdadeira fraternidade, não externa, mas real, efetiva, intrínseca, de que todos somos mais do que irmãos, de que somos criaturas feitas do mesmo barro, é que encontraremos as bases da construção de uma sociedade fraterna.

O homem sem liberdade não é nada. O valor de sua participação social zerou. Virou um mendigo maltrapilho que pede esmola na sua vida de solidão. Porta-se como um verme que suga o intestino social. Nem ele próprio fala em nome de sua emancipação, não grita pelos seus sonhos, não reivindica os seus direitos e não vive irmanado com os outros semelhantes.

O homem sem liberdade sente vilipendiada a sua dignidade, pois não pode prover escolhas, não tem opção de vida, só sonha com o nada, não pode adoecer porque morre, apesar de, socialmente falando, ele já está morto. Não pode errar, nem acertar, ele não nasceu do núcleo da célula social, nasceu de um outro embrião que não se chama sociedade. Não pode ser dono dos próprios passos, vive numa estrada sem rumo certo que só leva ao abismo da escuridão.

Os seres humanos sem liberdade são autômatos criados pelo acaso e originados de ventres igualmente oprimidos, não têm opinião própria, não falam nada porque não sabem dizer alguma coisa, não sonham nada porque não podem pensar, não alcançam nada porque não têm esperança, não conseguem obter nada porque não têm fé nem crença. São mortos vivos!

João Pessoa, 05 de outubro de 2011.

*Promotor de Justiça e escritor pombalense
IDEAL DE LIBERDADE IDEAL DE LIBERDADE Reviewed by Clemildo Brunet on 10/06/2011 05:02:00 AM Rating: 5

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