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O MAR DE ITAPUÃ

Onaldo Queiroga
Onaldo Queiroga*

Fui a Salvador e fiquei hospedado no Catussaba na praia de Itapuã. No final da manhã, vesti o calção de banho e, da a areia da praia, vi o mar, que como diz a canção, “não tem tamanho”. Sentei numa esteira e senti preguiça no corpo. O dia era todo meu, só para descansar e contemplar aquele cenário, e, como diz Vinícius: “sem ontem, nem amanhã”.

Olhei o mar e escrevi em meu âmago: Águas verdes, claras diante do sol, escuras sob as sombras das nuvens passageiras. Precipitam-se violentamente sobre as areias de Itapuã. Num balé eterno e divino, enormes ondas vêm e vão, murmuram e bafejam. De verde, transmudam-se em brancas espumas, falam ao mundo como um cachorro doido, tocando as areias, empurrando-as bruscamente, e, logo em seguida, rapidamente retornam num ciclo contínuo, repleto de mistérios.

Mar aberto, tua ira impõe respeito, tuas ondas desafiam o medo, teu falar inquieta o ouvido da alma. Teu irmão, o vento, velozmente te encrespa e te assanha. Poucos são aqueles que se arriscam a mergulhar em suas águas irrequietas. Águas não têm cabelo, e, quando furiosas, potencializam ainda mais o perigo.
Itapuã, teu mar inspirou Vinícius, o Moraes, que nas tardes falava de amor e, nas suas noites enamorava a Lua e escrevia versos para as estrelas. Nas madrugadas, o poeta da boêmia deitava o violão, e, olhando para o horizonte marítimo aguardava o raiar de um novo dia. Sentado nas areias do Catussaba Resort, te contemplei, te senti e te ouvi. Não descobri teus segredos, eles estão bem ocultos nas profundezas, guardados embaixo da inquietude das tuas águas. Só sei, Itapuã, que teu mar é belo e conduz no rouco barulho de tuas ondas um incompreensível, mas acolhedor silêncio da paz.

Já era tarde, no céu azul surge uma meia Lua. Um cenário desenhado por Deus. Sol e Lua, num só instante, de uma só vez lá de cima a contemplar os movimentos das águas do mar de Itapuã. Um verdadeiro presente da Santa Natura ali, visível aos meus pobres olhos mortais. A brevidade da vida nos permite vivenciar instantes singulares, como o que experimentamos. Eu e Márcia, o céu e o azul, a Lua e o Sol, a imensidão oceânica do Atlântico e o canto romântico do vento soprado pela eternidade poética de Vinícius de Moraes.

Vou embora Itapuã, mas não te digo adeus, pois ainda voltarei para outra vez me banhar em tuas águas e renovar a alegria de viver.

*Pombalense e Juiz de Direito da 5ª Vara Cível de João Pessoa - PB.
onaldoqueiroga@oi.com.br  
O MAR DE ITAPUÃ O MAR DE ITAPUÃ Reviewed by Clemildo Brunet on 10/06/2011 04:21:00 AM Rating: 5

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