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OS NEGROS DOS PONTÕES...

Maciel Gonzaga
Maciel Gonzaga*

O grupo folclórico Negros dos Pontões, juntamente com os Congos, o Reisado e a Irmandade do Rosário, formam a manifestação folclórica conhecida como “Negros do Rosário”. E, como o nome já sugere, essa ilustra uma das festas mais populares do Nordeste brasileiro e que mantém, ou pelo menos deveria manter uma forte expressão da nossa cultura negra.

Não se sabe com exatidão quando a Irmandade do Rosário chegou em Pombal, entretanto é certo – diz o escritor Jerdivan Nóbrega de Araújo – “que graças a obstinação de Manoel Antônio de Maria Cachoeira, que viajou à Olinda por três vezes a pé, a entidade foi oficialmente reconhecida pela Igreja Católica, através de despacho do Bispo D. João Fernandes Tiago Esberardi, em 18 de julho de 1895”.

Lembro-me, que nos anos 50 e 60, os Negros dos Pontões, elegantemente vestidos em calças brancas, camisas azuis de cetim e adereços coloridos, saiam em busca de arrecadar fundos para a Igreja do Rosário. O grupo era constituído quase todo por integrantes da mesma família, sempre com os mesmos adereços: chapéu de palha, enfeitados de fitas coloridas, lanças, maracás, enfeitados em fitas multicoloridas, além das lanças para abrir caminho na multidão durante a procissão, quanto para fazer exibições na dança e, sobretudo para marcar, com o rufar dos maracás, o ritmo de suas músicas. O acompanhamento era feito por uma banda, constituída de tambor, prato, fole de 8 baixos e pífano, além dos maracás das lanças. Quando criança – para mim – a maior felicidade era receber em meus ombros e na cabeça as fitas enfeitadas das lanças e ouvir as músicas tocadas por Elias Daniel ou qualquer um outro dos seus irmãos. Calça curta, saia correndo atrás por horas e horas.

Mas, a morte de “Seu” Elias Daniel Ribeiro me deixa uma reflexão para o futuro do culto à cultura popular de Pombal no sentido de se manter viva o grupo Negros dos Pontões em seu habitat, que é a tradicional Festa do Rosário. Em dezembro de 2009, quando estive em Pombal, Elias Daniel Ribeiro me externou a sua preocupação com o futuro dos Negros dos Pontões. Em visita que fiz à sua residência – na presença de Clemildo Brunet – quando indaguei-o a respeito do grupo ouvi do meu padrinho Elias as seguintes palavras: “É um verdadeiro acanalho. Não é mais como antigamente. Eu não posso mais fazer nada”.
O que estaria acontecendo? Não estou perto para falar com cátedra, mas, à distância, talvez, possa ser que com essa onda de espetacularização do folclore, as manifestações acabam sendo incorporadas por pessoas que não vivenciam aquela realidade, e os grupos tradicionais acabam sendo isolados. Mesmo à distância, sinto-me na condição de externar a minha humilde opinião: ações são necessárias por parte do poder público pombalense para manter viva esta tradição, evitando-se ingerências para o direcionamento da forma como o folguedo deve se apresentar.

Entendo que a cultura do dominante acaba sempre se sobressaindo. Não se pode esquecer que é a consulta aos mais idosos que nos permite conhecer a nossa cultura popular. A preservação dos usos e costumes, e o seu reviver, faz parte dos objetivos das agremiações culturais que desejam se manter vivas. O papel e a importância das danças, cantares e trajes, como retrato fiel da Irmandade do Rosário, merece um debate amplo e sério. Embora a juventude goste de inovações nos trajes, nas cantigas e danças, muitas vezes, por falta de formação, se quer fazer o "bonitinho", esquecendo que este, muitas vezes, não simboliza as tradições do povo e o folclore que desejamos retratar.

O folclore não é só as danças e os cantares. É tudo o que o povo espiritualmente transmite de geração em geração. O povo aprende sem saber quem o ensinou. É por isso que assistimos, em diferentes regiões, às mesmas danças e cantares dançadas e cantadas com ligeiras alterações. Isto é o reflexo da forma como o povo captou essa dança ou cantoria, adaptando-a à sua maneira de estar e ao seu sentimentalismo.

Concordo plenamente com aquele que defendem que a Festa do Rosário de Pombal é algo que precisa ser vista “com olhos de turista”, como diria Graciliano Ramos. Esta tradição secular, que se mantém acesa nos corações do nosso povo, é o evento anual de registro da história de Pombal que, pelo potencial de sua tradição, é motivo de orgulho e um marco na vida dos pombalenses.

*Pombalense, Jornalista, Advogado e Professor. Natal RN.
OS NEGROS DOS PONTÕES... OS NEGROS DOS PONTÕES... Reviewed by Clemildo Brunet on 12/01/2011 05:29:00 AM Rating: 5

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