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POR AMOR AO FORRÓ

Pinto do Acordeão e Onaldo Queiroga
Onaldo Queiroga*

O sol brilhava no céu do sertão quando o ventre do forró entregou ao mundo um coração que já nasceu sob a batida do zabumba, do toque do triângulo e das notas da sanfona. Foi criança criada nas terras sertanejas, moleque faceiro que começou a conhecer o mundo nas veredas do Sítio Queimadas, do seu padrinho Antônio Gomes.

Seu ídolo maior, Luiz Gonzaga, foi a fonte inspiradora para que aflorasse do seu intimo o grande músico que o tempo tratou de lapidar. Seu destino, percorrer as estradas desse mundo, levando consigo a sanfona no peito e o seu canto para alegrar um povo chamado Nordeste.

Da sua voz ecoa o amor, ora com um jeito travesso, ora com a pureza de fragmentos pinçados da natureza. Sua música também conduz a análise sócio-política-econômica da realidade deste país chamado Brasil. É assim ao cantar Matuto Teimoso, onde traça a relação impiedosa entre um pequeno agricultor das Espinharas com o crédito bancário. Já na música Bóia-fria, o poeta expressa a vida-morte desse ser tão heróico.

Enfrentou a poeira das estradas, tocou nas salas de reboco, em chão batido sob a luz de lamparinas, aturou bêbados impertinentes, viu o sol amanhecer ao som de um fole já cansado e sem perspectiva de receber pela noite de tanto canto. Passou por tempos difíceis, mas a sanfona nunca o abandonou. Dela brotou, brota e sempre brotará o seu forró, a sua persistência em caminhar com a fé inquebrantável oriúnda de todo sertanejo, por isso, soube romper os obstáculos e com sabedoria abrir veredas e construir amigos. Seu forró o fez conhecido mundialmente, pois sua música Nenén Mulher já tocou em quase todos os recantos deste planeta.

Mas como bem você diz: “Pra chegar nessa festa tão linda, só sabe Deus o que já passei / Já rasguei o couro do zabumba / A sanfona já desafinei / Joguei minha sorte na estrada / Andei na poeira, no sol / Já cantei, já sofri, já chorei / Tudo só por amor ao forró / Dó, ré, mi, fá, só, lá, si, dó / Tudo só por amor ao forró / Ó, ó ó, tudo só por amor ao forró / Minha terra tem tanto poeta / Poesia faz parte de mim / A sanfona sempre foi minha dona / Me conhece tintim por tintim / Onde chega é sempre alegria / Muita gente ao meu redor / E assim a vida vou cantando / Tudo só por amor ao forró / Dó, ré, mi, fá, só, lá, si, dó / Eu nasci numa casa de taipa / O meu berço foi um caçuá / A banheira foi uma gamela / O travesseiro um tronco de juá / Me criei bem lá no pé-da-serra / Foi lá que deixei meu xodó / Vou voltar, vou fazer uma festa tudo só por amor ao forró”.
Pinto do Acordeão
Realmente Pinto do Acordeom, só você, sua sanfona, seu forró e Madalena sabem dos espinhos, pedras, abismos que tiveram que vencer para chegar nesta festa tão bela, representada pelo seu tocar, seu canto, seus poemas e sua imensa alegria.

*Pombalense, Juiz de Direito da 5ª Vara Cível da Capital.
POR AMOR AO FORRÓ POR AMOR AO FORRÓ Reviewed by Clemildo Brunet on 11/15/2011 08:13:00 PM Rating: 5

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