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VELHOS COSTUMES: UM BREVE RELATO.

Bom dia, bênção pai, com licença, por favor, etc. São costumes antigos quase em total desuso nos dias de hoje.


Prof° Francisco Vieira
Francisco Vieira*
Partindo da premissa de que a boa educação começa em casa, aprendi desde cedo com meus pais – e na escola - as regras do bem viver. De certo, são princípios de moralidade que visam estabelecer um bom relacionamento entre as pessoas. São ensinamentos éticos e cívicos, alguns inclusive transmitidos com rigor – tipo escreveu e não leu o pau comeu – porém necessários, aliás, indispensáveis a boa formação.

Quando menino, aprendi pelo menos as regras básicas. Respeito aos idosos, zelo pelo patrimônio público, cumprimentar as pessoas, pedir bênçãos, primar pela honestidade, entre outras, eram as principais recomendações.

A propósito me disseram que o respeito aos idosos é necessário. Que os velhos de hoje foram novos no passado e no vigor da sua juventude contribuíram com a formação de outras tantas. Que construíram sua história e deles tiramos como proveito no mínimo a experiência acumulada ao longo dos anos. Aí, se justifica nossa reverência.

Seguindo a mesma lógica me ensinaram que devemos dispensar o mesmo tratamento ao patrimônio público que fora construído em nosso benefício com os impostos que pagamos, portanto, parte integrante de nossa história. Assim, preservá-lo é necessário para sua perpetuação. Todavia, qualquer atitude contrária além de vandalismo significa destruir a própria história.

Outro ensinamento não menos importante é o cumprimento as pessoas. Dar bom dia, boa tarde ou boa noite, não faz mal a ninguém, pelo contrário, significa respeito. É um ato de grandeza que enobrece o espírito de quem saúda e alegra a alma de quem recebe. Cumprimentar quem vai e quem vem não custa nada. Negar o cumprimento é ser indiferente em relação ao próximo. É incrível a facilidade com que o homem consegue ignorar seu semelhante. É no mínimo patético ou ridículo.

Outra prática recomendada era a bênção dos mais velhos. Quando menino costumava pedir aos pais, avós, tios e até mesmo aos padres a quem dispensava elevada atenção. Deus te abençoe, te proteja, te salve era tudo o que queria ouvir. Todas as respostas serviam de alento para o meu espírito.

Esse gesto é antes de tudo uma manifestação de fé. É a certeza de que a bênção de Deus sobre nós anula qualquer intenção do maligno. Não é apenas um costume antigo transformado em tradição ou algo meramente formal, mas a garantia das graças de Deus para com os seus. Segundo Eclo. 3. 11: “A bênção paterna fortalece a casa de seus filhos e a maldição de uma mãe a arrasa até os alicerces.” Portanto, segundo a Bíblia, devemos tomar a bênção a quem é autoridade sobre nós, como pais, etc. em todas as ocasiões.

Nesse clima de união as refeições aconteciam em família. Era um hábito saudável que além de aproximar as pessoas pelo diálogo se discutia os mais variados assuntos que iam desde política, religião, negócios e problemas particulares. Sem dúvida, não podia faltar no cardápio uma pitadinha de vida alheia, pois ninguém é perfeito. Era o momento certo para orientar, repreender e até castigar os filhos. Mas, essa prática está cada vez mais rara entre as famílias. Vê-se cada vez menos a presença dos pais nas refeições, exceto nas festividades natalinas. É que a vida estressante diária tem provocado afastamento entre irmãos. Hoje as famílias vivem distantes sob o mesmo teto.

Mas os anos se passaram. Os tempos mudaram e com ele, cedendo espaço a modernidade o homem mudou seus conceitos e costumes De forma desregrada alguns comprometeram a própria dignidade. A propósito, é evidente na sociedade contemporânea a perda dos valores éticos. A sua desvalorização é tamanha que a honestidade tornou-se qualidade rara, principalmente entre os ocupantes do poder, promotores de exemplos que só contrariam a coerência e a razão.

No Brasil, propositadamente, essa prática é evidente. A título de exemplo, no país dos contrastes, enquanto um faxineiro devolve ao legítimo dono uma maleta cheia de dinheiro, políticos desavergonhados escondem cédulas nas cuecas, produto de negociações escusas, cuja atitude não só denigre a personalidade humana como macula a imagem da nação. E, como se não bastasse ainda se dizem representantes do povo – certamente – iguais a eles. Parece até que a desonestidade virou regra nesse país.

A respeito, não tenho receita mágica, mas seguramente sua gravidade requer uma solução imediata. O resgate da dignidade é premente e exige da sociedade um trabalho eficaz.

Embora possa parecer arcaico ou conservador, afirmo não ter aversão às mudanças, pois são decorrentes do processo evolutivo humano. Assim, como adepto da lógica de Aristóteles - eduque-se a criança e não será preciso castigar os homens – acredito ser a casa a primeira escola e nela deve iniciar a educação. Para tal não é preciso pais formados, mas educados, amorosos, pois o sentimento do amor é o princípio de todo processo educacional.

Em que pese à gravidade da situação relatada, acredito – não sei quando – haveremos de resgatar os valores humanos. Doravante seremos tratados pelo que somos e não pelo que temos, pela conduta e a nobreza que dignificam o homem aproximando as pessoas e ensinando-as a viver como irmãos.

Confirmando a sentença: “costume de casa vai à praça”, vou prosseguir como antes. Darei bom dia sempre, mesmo que alguns não retribuam; pedirei bênçãos ao poucos tios que ainda restam, pois me desejarão a proteção Divina; direi, por favor, porque ninguém está submisso a mim e pedirei licença como permissão para algo.

Portanto, pela profundidade das lições recebidas, pelo brilho de seus efeitos e a nobreza do caráter construído, respeitando as mudanças, é mister que o homem dê mais importância AOS VELHOS COSTUMES.

Pombal, 04 de novembro de 2011.

*Professor, ex Diretor da Escola Estadual "João da Mata", Ex-Secretário de Administração de Pombal.

Prof Vieira, você é um excelente educador, só mesmo sua brilhante memória e inteligência pra dar nos dar lições de boas regras como no passado. Somos da mesma época e aprendemos boas ações. Belo texto! Instrutivo para quem ignora hoje o que seja Bons Costumes. Parabéns!
Abraços,
Clemildo
VELHOS COSTUMES: UM BREVE RELATO. VELHOS COSTUMES: UM BREVE RELATO. Reviewed by Clemildo Brunet on 11/05/2011 06:26:00 AM Rating: 5

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