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FALSO BRILHANTE

Genival Torres Dantas
Genival Torres Dantas*

Inicio dos anos 80, século passado, o Brasil começa a se movimentar através da sua juventude, de cara pintada, em direção as “diretas já”, grandes nomes se davam as mãos em busca de uma democracia ampla e irrestrita com o retorno dos últimos exilados e o fim do golpe militar de 1964.

Naquela época eu estava morando no hotel Beira Rio, cidade de Piracicaba interior de São Paulo, tinha sido promovida à regional da empresa que trabalhava e minha família só viria no próximo final de semana, que seria prolongado, pois, dia 25 de janeiro é feriado municipal na Capital, São Paulo. Já tinha se passado 06 meses e eu morando distante da família, saindo da grande cidade e indo para uma cidade menor, de 300 mil habitantes, mas, 10 vezes maior que minha cidade de origem, Pombal-PB.

Cidade nova, vida nova, responsabilidade dobrada, acumulava dois prêmios de homem de vendas do ano, nos anos de 1972 e 1978, em empresas diferentes, realmente um vencedor.

Jamais poderia imaginar que depois de tanto sucesso, um dia, eu pudesse ter algum problema grave de doença, que pudesse me afastar das minhas atividades profissionais, entretanto, a realidade veio me mostrar que eu também era mortal, como qualquer ser humano.

Comecei uma longa caminhada em busca de um diagnóstico que viesse identificar o meu problema de saúde, depois de passar por 17 especialistas e 17 diagnósticos diferentes, partia para tratamento de uma doença de origem neurológica, sem, entretanto, uma identificação mais profunda, o quadro se apresentava confuso, mas não podia fugir à luta, não tinha o direito de fraquejar.

Dia 19 de janeiro de 1982 recebi a notícia da morte inesperada da Elis Regina, aquele fato foi um divisor de águas na minha vida. A realidade se mostrava cruel, partia uma pessoa que eu aprendi admirar pela sua luta e obstinação em busca da perfeição na MPB. Sempre fui um colecionador do seu trabalho, seus discos sempre com músicas de compositores novos e talentos davam a idéia do seu gosto musical além da grande cantora e interprete da nossa música.
Um filme em preto e branco começava a passar na minha cabeça, lembrava do inicio da sua carreira em 1961 quando ela foi descoberta pelo vendedor da gravadora Continental, Wilson Rodrigues, e indicada para gravar seu primeiro trabalho. Mais 03 discos foram gravados até ela se mudar do Rio Grande do Sul para o Rio de Janeiro, finalmente ela vai para São Paulo em 1964 ficando ali até o seu final.

O ponto de partida para o estrelato foi com a música Arrastão, Vinicius de Morais e Edu Lobo, no festival da TV Excelsior em 1965.

O espetáculo Fino da Bossa, organizado pelo centro acadêmico da faculdade de odontologia da USP, apresentado no antigo teatro Paramount, hoje teatro abril, transmitido pela TV Record, canal 7, SP, rendeu 03 discos, um dos quais, Dois na Bossa, foi o primeiro a vender 1 milhão de cópias no Brasil.

A grande virtude da Elis Regina foi não abrir mão dos seus grandes compositores, novos ou não, mantendo fidelidade a nomes como Milton Nascimento, João Bosco e Adir Blanc, Belchior, Tom Jobim, Renato Teixeira, Ivan Lins, Adoniran Barbosa, e tantos outros da nossa MPB, o pianista, arranjador e seu parceiro por muito tempo, Cesar Camargo Mariano.

A discografia da Elis Regina é muito extensa e nesses 30 anos da sua morte nos faz lembrar pérolas inesquecíveis, tais como: Samba Eu Canto Assim (1965), Elis (1966), Elis Especial (1968), Como & Porque (1969), onde Roberto Menescal assinando os arranjos da Aquarela do Brasil, Canto de Ossanha e Andança; Em Pleno Verão (1970), produção de Nelson Motta, e consta a música As Curvas da Estrada de Santos, inesquecível interpretação da música de Roberto e Erasmo Carlos; Ela (1971); Elis (1972) grande interpretações em Atrás da Porta, Chico Buarque e Francis Hime, e Casa de Campo, do Zé Rodrigues; Elis (1973) com 08 faixas de Gilberto Gil, João Bosco e Aldir Blanc, completa o disco os clássicos do samba, Folhas Secas e É com Esse que Eu Vou; Elis & Tom(1974) só a gravação Águas de Março já vale o disco; Elis (1974) é de Milton Nascimento e Fernando Brant as músicas, Travessia, Conversando no Bar e Ponta de Areia; Falso Brilhante (1976) o espetáculo, no teatro Bandeirantes, na Brigadeiro Luiz Antonio, e o disco, são completos;

Elis (1977) grande canção caipira de Renato Teixeira, Romaria; Transversal do Tempo (1978; Essa Mulher (1979) onde consta O Bêbado e a Equilibrista, de João Bosco e Aldir Blanc; seu último disco, Elis (1980).

Elis Regina que nasceu em Porto Alegre, em 17 de março de 1945, se tornou a grande interprete, fez grandes espetáculos, o maior deles, eu assisti por 05 vezes, Falso Brilhante, tinha o sabor das frutas tropicais, o cheiro da relva e da selva brasileira, a cor da raça humana, e a ternura nordestina, lembrando Pombal.

Depois de 30 anos, continuo com meus rascunhos com a doença que me foi diagnosticado como síndrome do pânico, por ironia, não costumo ir aos espetáculos musicais, jogos de futebol, ou mesmo qualquer concentração. Por força das circunstâncias tenho me preservado. Guardo um grande acervo musical, nos antigos LPs, que conservo com muito carinho, aguardo uma oportunidade para transformá-los em CDs, dentre eles as músicas da inesquecível Elis Regina, hoje repaginada na voz da sua filha Maria Rita e lembrada por grandes cantores da MPB, certamente será lembrada por muito tempo.

* Escritor e Empresário em Navagantes SC.
FALSO BRILHANTE FALSO BRILHANTE Reviewed by Clemildo Brunet on 1/22/2012 06:34:00 PM Rating: 5

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