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SALVE 30 DE JANEIRO: O DIA DA SAUDADE!

Ignácio Tavares
Ignácio Tavares*

Uma estudante brasileira foi pra Inglaterra, beneficiada pela política de intercambio entre os dois países, a fim de aperfeiçoar os conhecimentos da língua Inglesa. Num dado momento, já em sala de aula, a professora solicitou-a que escrevesse uma frase cujo foco fosse a sua família. Pois não, agora mesmo, confirmou a jovem estudante. E assim foi feito: “Mamãe, gosto muito de Londres, mas sinto Saudades de vocês”.

No momento de verter para o inglês, quão grande foi a sua surpresa quando foi informada, claro, pela professora, de que a palavra Saudade era intraduzivel porque não existem vocábulos equivalentes no vernáculo anglo-saxão. É isto mesmo, a palavra Saudade é a sétima em todo o mundo de mais difícil versão.

Atribui-se a sua existência aos pioneiros da colonização do Brasil no inicio do século XVI. Em razão da distância da terra natal, dos familiares, os embarcadiços vez por outra, nos momentos de melancolia improvisavam versos e cantos a fim de amenizar o sofrimento que a distancia lhes impunha.

Reza a lenda que foi nesses versos e cantos que apareceu pela primeira vez a palavra Saudade. Do ponto de vista etimológico, a palavra Saudade tem origem latina, seja vem de “Soletate” ou solidão na nossa língua pátria. Em espanhol existe a palavra “Soledad” cuja tradução tem muito a ver com solidão. Da mesma forma é uma derivação de “Soletate”.

Apesar de se atribuir aos primeiros colonizadores o uso da palavra Saudade, não significa dizer que os irmãos lusitanos tenham incorporado-a ao seu “índex vocabular” o que seria muito bom para o embelezamento da sua língua pátria. É tanto que os poetas, compositores de fados das terras do alem mar, usam muito pouco nos seus escritos, a palavra Saudade, em se comparando com os confrades brasileiros.

Mas, vez por outra os lusitanos curtem suas melancolias no embalo da nossa doce “Saudade”. Apesar dos pesares, em alguns fados, ícone maior da musica popular lusitana, a palavra Saudade se faz presente. À exemplo citemos o famoso fado, “Coimbra”, que de forma acanhada, nos últimos versos, introduz a palavra Saudade, infelizmente, bem diferente do que nós brasileiros costumamos usá-la. Vejamos:

Coimbra é uma lição
De sonho e tradição
O lente é uma canção
E a lua é a faculdade

O livro é uma mulher
Só passa quem souber
E aprende-se a dizer “Saudade”

Se os portugueses não dão muito importância ao sentido léxico da palavra Saudade, talvez seja porque ainda não assimilaram a mensagem que encerra o seu verdadeiro significado. Ao contrário, para nós brasileiros a palavra Saudade caiu qual uma luva. Os nossos poetas, bem como os compositores de musica popular, jamais se realizariam como criadores dos mais belos versos da língua portuguesa, sem a rimável palavra Saudade.

Na discografia brasileira a palavra Saudade aparece na grande maioria das composições, principalmente na iluminada época de ouro. Hoje, por conta da febre do “Axé Music”, a palavra Saudade, com certeza, perdeu a sua importância. Ninguém sabe até quando. Mas, noutros tempos as coisas eram bem diferentes, vejamos:
Hoje é dia da Saudade (Raul Seixas)

Hoje é dia da Saudade, é!
Hoje eu vou beber pra celebrar
O aniversário de seu Gaspar

Deve ter festa em todo lugar
Hoje é feriado é o dia da Saudade
Hoje não tem aula pra garotada

Velhas de varizes na calçada
Só na Saudade.........., etc.

Depois dessas considerações sobre a origem da palavra Saudade, pergunto: como é que está a sua, a minha a nossa Saudade? Ah meu amigo, quem não guarda as Saudades dos bons momentos vividos no alvorecer da vida? Há Saudades reveláveis, bem como há Saudades adormecidas no mais profundo do íntimo. Há Saudades pra tudo quanto é gosto. Ora, ora, ponha Saudades nisso meu senhor. Veja que beleza.....

A Saudade mata agente, morena
A saudade é dor pungente, morena...

Pois é, só não sente saudades quem já morreu. No meu caso particular posso afirmar, sem medo de errar, que não seria possível suportar a vida sem os meus momentos Saudades. São tantas Saudades que não consigo enumerá-las. São saudades da minha terra, de outras terras por onde vivi, mesmo por breves espaços de tempo, nunca menos de um ano.

Afora o meu estado, vivi em Pernambuco, Ceará, Bahia e Rio de Janeiro. Nestes lugares saudades plantei saudades colhi. Mas, posso dizer de sã consciência, que as Saudades que mais me acalantam são aquelas que dizem respeito os bons momentos vividos, no viço da minha juventude, claro, na terra onde nasci, cresci e vivi grande parte da minha vida.

Neste texto não pretendo nominar as minhas fontes de Saudades, por razões obvias. Mas sinto Saudades das Saudades dos meus Pais, dos irmãos que partiram para eternidade, dos amigos que prematuramente deixaram o planeta terra, dos amigos e amigas de bancos escolares, dos domingos esportivos a torcer pelo São Cristóvão, dos banhos no Piancó, das noites de serestas, da bodega de Zé Gago, claro dos amores efêmeros, porem marcantes, enfim de todos os momentos festivos que ficaram para sempre na memória deste senhor que, a exemplo do poeta Pablo Neruda, não se nega a dizer: “Confesso que Vivi”.

A esta altura da minha vida as Saudades tornam-se mais presentes. Não tenho como evitá-las, pois surgem como fantasmas reais apostos em todos os lugares onde quer que esteja. Nada a reclamar porque é gostoso sentir Saudades. Se um dia, em vida deixar de sentir Saudades, levem-me ao médico, porque, com certeza, estou doente e muito doente.

Assim sendo antes que esse momento chegue rendo-me ao dia da Saudade. Com certeza não devo estar só, pois onde houver seresteiros, poetas, boêmios, notívagos, entre outros, a Saudade está presente. O dia 30 de Janeiro é um bom momento para volvermos o olhar para o passado, pois oficialmente é o dia da Saudade. Salve o dia da Saudade.

João Pessoa, 18 de Janeiro de 2012

*Economista e Escritor.
SALVE 30 DE JANEIRO: O DIA DA SAUDADE! SALVE 30 DE JANEIRO: O DIA DA SAUDADE! Reviewed by Clemildo Brunet on 1/18/2012 06:08:00 AM Rating: 5

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