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CARNAVAL, SONHOS E FANTASIAS

Genival Torres Dantas
GENIVAL TORRES DANTAS*

Na minha infância via os carnavais com seus corsos, poucos foliões, mas, muita alegria. A festa se resumia apenas ao carnaval de salão, no clube da cidade, Pombal, ternura nordestina, e os desfiles em carros abertos, normalmente um tambor com água para que seus ocupantes pudessem molhar os pedestres que ficavam nas calçadas olhando, e também participando daquela festividade.

Sai da cidade pequena, fui para o grande centro, no caso a cidade de Recife, com suas avenidas e pontes, onde o carnaval tinha um colorido especial com seus blocos e maracatus, orquestras de frevos e seus passistas, era admirador do bloco do São José, do bairro do mesmo nome, aonde fica localizado o mercado São José, próximo ao centro do Recife e ao marco zero, encontro dos foliões. Estudei lá, na Capital pernambucana até 1973, deixei para trás três grandes amores, o glorioso Santa Cruz, de tantas glorias, a faculdade e a alegria de um povo que sabia festejar seu carnaval até mesmo da adversidade.

Em São Paulo pude conviver com uma nova realidade, dentro dela o carnaval paulistano com todo seu gigantismo e empenho, a tradição dos clubes e escolas de samba fazia e faz a alegria de um povo que não se cansa, incansável nos seus ideais e objetivos. Os desfiles antes nas avenidas São João, Tiradentes, depois de 1993, data da inauguração do Sambódramo do Anhembi, na gestão da prefeita Luiza Erundina, paraibana, o paulistano passou a ter mais conforto para assistir ao desfile da sua escola preferida, principalmente depois da ampliação pelo prefeito Paulo Maluf, em 1996.

Nesse período estive no Rio por várias vezes para ver o desfile maior do carnaval brasileiro, a evolução e o crescimento da cidade e o gigantismo do carnaval também fez os desfiles passarem por vários palcos, sendo que a avenida Presidente Vargas recebesse essa festa por muito tempo, dois anos na avenida Presidente Antonio Carlos, motivado pela construção do metro carioca, e em seguida para avenida Marquês de Sapucaí, antes mesmo da implantação do Sambódramo, Passarela professor Darcy Ribeiro, cuja inauguração ocorreu em 1984, pelo prefeito Jamil Haddad. O Sambódramo carioca, projeto do grande arquiteto Oscar Niemayer, foi completado e reinaugurado em 12 último, pelo prefeito Eduardo Paes e a presença histórica do seu criador, Oscar Niemayer, hoje com 104 anos de idade.

O carnaval não é apenas espaço físico, tem toda uma história musical e cultural. No carnaval pernambucano a festa se agigantou, em 1978 foi criado o bloco Galo da Madrugada, no mesmo bairro São José e seu mercado municipal, tendo, esse ano, saído às ruas do Recife com 2 milhões de participantes. Os Bonecos de Olinda dão outra mostra de participação popular com seu arrastão carnavalesco.

Em salvador os foliões se superam atrás do trio elétrico, invenção do Dodô(Antonio Adolfo Nascimento) e Osmar(Osmar Macedo), cuja alegria é patrocinada principalmente pela energia das insuperáveis rainhas da alegria e beleza baiana, Ivete Sangalo e Claudia Leite.

Rio e São Paulo são protagonistas de espetáculos só comparáveis a grandiosidade do seu povo, com escolas apresentando luxo e beleza aos amantes dessa festa popular, imortalizada por grandes compositores que fizeram e fazem a alegria do nosso Brasil.

Para resumir a lista dos grandes nomes do mundo musical, tivemos quatro figuras que representam muito bem essa constelação de astros.

O Lamartine Babo, 1904/1963, com seus hinos aos clubes cariocas, e suas marchas, marcaram profundamente o memória de todos nós. Ary Barroso,1903/1964, com toda sua criatividade musical, se tivesse composto apenas a Aquarela do Brasil já teria justificado sua presença no mundo musical, um dos maiores e melhores compositores da MPB de todos os tempos.

Carlos Alberto Ferreira Braga, Braguinha, ou simplesmente João de Barros, 1907/2006, fez músicas inesquecíveis, As pastorinhas, em parceira com Noel Rosa, Carinhoso, uma composição em conjunto com Pixinguinha, duas músicas eternamente lindas, até hoje fazem a cabeça de todas as gerações.

Noel Rosa, 1910/1937, assim como Castro Alves, morreu jovem, deixando uma obra invejável, tanto na quantidade com na qualidade dos sambas que compôs, Último desejo, Palpite infeliz, Antonico, foram canções eternas de um compositor de grande versatilidade e poder de criação, desenvolvendo temas consagrados pelo grande público, tido como um dos maiores compositores da nossa MPB.

Hoje 21 de fevereiro de 2012, terça-feira, depois da última escola passar na avenida Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro, percebo que realmente o tempo fez os ritmos se transformarem, o próprio samba tem outro ritmo, com introdução de novos instrumentos na bateria das escolas, entretanto, a alegria se mantém viva, a juventude continua a ser o principal ingrediente da festa, a música a proporcionar calor e energia aos foliões dispostos a viver até o último minuto de mais um carnaval de muito nível. Aqui em SC o tempo não está favorável aos foliões que certamente esperavam um dia de sol para recuperar na praia as energias perdidas na noite anterior, chove e nem mesmo caminhar na areia ou calçadão é possível. Mais um carnaval que está indo embora deixando para trás sonhos e fantasias, para até o próximo ano, na cabeça do sonhador que gasta fortunas para viver esse momento mágico.

Pombalense, Escritor e Empresário em Navegantes - SC.
CARNAVAL, SONHOS E FANTASIAS CARNAVAL, SONHOS E FANTASIAS Reviewed by Clemildo Brunet on 2/22/2012 07:02:00 AM Rating: 5

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