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AINDA HÁ TEMPO

Onaldo Queiroga
Onaldo Queiroga*

Após uma longa noite de sono, o dia mais uma vez amanheceu, trazendo consigo a luz do Sol e a renovação da vida. Mas, ao acordar, senti-me mais cansado do que quando me deitei na noite anterior. O veloz e estressante mundo moderno deixa-nos assim, com essa indisposição, essa fadiga que não vai embora, que insiste em nos maltratar, impondo-nos uma enorme sensação de cansaço, resultado do excesso de atividades e de preocupações que nos circundam no dia-a-dia.

Ainda deitado, ouvi sons que vinham da parte externa da janela do meu quarto. Era o canto da passarada, os murmúrios do mar. De lá também vinham o calor do Sol e o mormaço da vida, vida da luz dourada daquele astro rei que, lentamente, erguia-se por trás da Ponta do Cabo Branco. Sentei-me na cama, rezei meu terço, coloquei-me em meditação, buscando um diálogo com Deus.

Nesse momento, percebi que não adiantava correr tanto, estender a mão para o estresse por tudo e por nada, martirizar-se tendo em vistas as coisas que não foram possíveis realizar no dia anterior e, quem sabe, também não poderiam ser concretizadas durante o dia que ora amanhecia. Veio o pensamento de que é preferível seguir a poesia que diz: “...deixa a vida me levar, vida leva eu..”. Mas nem sempre podemos agir como na poesia, tudo tem seu tempo. Evidentemente que temos que cumprir nossas obrigações, no entanto, é preciso a consciência de que as coisas têm que ser feitas com equilíbrio, com parcimônia e ponderação, pois, no final, tudo se resolverá, afinal, se a noite chega, inevitavelmente, logo em seguida, o sol voltará e amanhecerá um novo dia. Assim é o ciclo do Planeta Terra.

Senti que o tempo é sábio, sempre menino. Por isso, devemos aliviar a nossa mente, diminuindo o nosso ritmo de vida, ou mesmo deixar que as coisas possam se realizar com normalidade. Em instantes de turbulência, de contrariedade e decepções, o recomendável é contar até dez e permitir, por exemplo, que a tranquilidade de uma boa música penetre em nosso âmago, pinçando de nós todas as coisas ruins. A música realmente tem esse condão,, quando tocada em tom suave, harmonizando-se com a natureza, consegue acalmar nosso espírito e nos leva a um estado de tranquilidade que se assemelha ao silêncio das montanhas.

A sensação de fadiga foi sendo expurgada do meu corpo, do meu âmago. Fui criando alma nova e logo eu já estava novamente no trânsito, no já caótico tráfego da nossa capital, indo em direção ao Fórum, para mais um dia de trabalho. No CD do meu carro, um som do piano do campinense Sibelius Donato. Tranquilamente, sem pressa, guiei o carro, não me incomodando com as buzinas e com a marcha lenta do trânsito. Tive um ótimo dia, apesar do trabalho intenso.

Devemos repensar nosso cotidiano.

*Escritor e Juiz da 5ª Vara Cível de João Pessoa.
AINDA HÁ TEMPO AINDA HÁ TEMPO Reviewed by Clemildo Brunet on 5/29/2012 05:00:00 AM Rating: 5

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