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BRASIL OITICICA: UM PEDAÇO DA NOSSA HISTÓRIA

Maciel Gonzaga
Maciel Gonzaga*

Talvez ela tenha sido a mais antiga empresa organizada do Sertão paraibano. Com capital norte-americano, a Brasil Oiticica S/A foi pioneira no ramo de exportação no comércio de oleaginosas tendo chegado ao nosso país, inicialmente, em 1934, em Fortaleza. Em pouco mais de 50 anos de existência, exportou milhões de dólares para atender aos mercados da Inglaterra e dos Estados Unidos. A unidade de Pombal, que era subordinada a Fortaleza e acabou fechando em 1987 após decretar falência (situação em que, por força de decisão judicial, uma empresa é declarada insolvente, ou seja, incapaz de saldar seus débitos nos prazos contratuais estabelecidos).

Pessoalmente, por me encontrar fora de Pombal há mais de 43 anos, não sei precisamente porque os empreendedores da Brasil Oiticica escolheram a nossa cidade. Apenas, quando menino, ouvi muitas vezes o meu pai – José Firmino de Luna, conhecido como “Alegria da Brasil Oiticica – dizer que Pombal era a maior produtora de oiticica da Paraíba”. Talvez tenha sido esta a razão da implantação da fábrica em nossa cidade. O professor e historiador Inácio Tavares – mais idoso do que eu – dá uma explicação condizente:
Pé de Oiticica
“A segunda Guerra Mundial acelerou a procura por óleo vegetal, em particular, do fruto da oiticica, posto que, naquele momento de sufoco, a indústria siderúrgica dos países envolvidos no conflito, precisava urgentemente, aumentar a produção de ferro e aço, para abastecer as linhas de montagens da indústria bélica. Nesse processo, o óleo entra como um composto químico que dá consistência ao produto, o que facilita a etapa final de laminação. O aço é matéria básica para produção de navios, aviões, tanques, canhões, fuzis, metralhadoras, entre outros artefatos indispensáveis à selvajaria da guerra. O óleo de oiticica, para a indústria siderúrgica, não era um produto de boa qualidade. Desse modo, na ausência, em quantidade, de um bom sucedâneo, não houve outra saída, a não ser ele mesmo”.

No período da colheita da amêndoa da oiticica, uma espécie nativa da região, a economia da cidade de Pombal era acelerada com a circulação de dinheiro, emprego e renda para a população. Na pequena casa onde nasci, na Rua do Cachimbo Eterno, tinha dois pés de oiticica. E, assim, milhares de pequenos proprietários de terra não só de Pombal, mas de vários municípios do Alto Sertão plantavam oiticica, como fonte de renda. Do fruto, além da fabricação do óleo, a palha servia de ração para o gado.

"Sr.Alegria à esquerda, com a mão no bolso"
O meu pai trabalhou pela primeira vez na Brasil Oiticica em 1955, entrando na empresa pelas mãos de um compadre dele – Sr. Lessa – um cearense que se casou com uma pombalense (Dona Cleuzite). E lá, meu pai recebeu o apelido de “Alegria” porque trabalhava no setor denominado “Palha”, que fazia o transporte do fruto da oiticica em um carrinho sob trilhos, trabalhando sempre alegre e sorridente, sob a supervisão de Zé de Bú. Trabalhou até 1959, quando resolveu ir para Brasília.

Confesso que, diariamente, ao ir deixar o almoço do meu pai, ficava deslumbrando observando no pátio da indústria os frutos da oiticica exposto ao sol. Vislumbrava a chaminé. A indústria gerava centenas de empregos diretos e indiretos. Muitos pais de família tiravam o sustento de seus filhos com o suor do seu trabalho despejado na Brasil Oiticica. Tinha uma escola – eu estudei lá, com direito a fardamento, livros e merenda gratuitos - para os filhos dos operários, que funcionava nas dependências da antiga SANBRA, que foi alugada pela Brasil Oiticica

No campo esportivo, a indústria fundou um time de futebol com o propósito de atrair os operários e jovens da sociedade, para a prática desse esporte. Se não me engano era o BOSA Futebol Clube, a sigla da Brasil Oiticica Sociedade Anônima.
A sirene da Brasil Oiticica acordava toda a cidade. Era o nosso relógio londrino. Qual não foi a minha surpresa há alguns dias atrás, ao ouvir pela internet o programa de Genival Severo (Rádio Liberdade-FM), que estavam derrubando a chaminé da Brasil Oiticica. Fiquei pasmo! Comuniquei-me imediatamente com o amigo-irmão Clemildo Brunet de Sá e sugeri a ele um movimento na cidade, com direito a ir ao Ministério Público e à Justiça pedir a paralisação imediata do feito. Felizmente, isso aconteceu pela iniciativa de outro amigo-irmão o professor José Cezário de Almeida e do advogado Zildo de Souza, com o pedido de embargo junto ao MP, em razão do valor histórico daquele patrimônio, que faz parte da história de Pombal. O poder público municipal não pode silenciar diante dessa drástica atitude. A sociedade tem que se mobilizar em defesa desse nosso patrimônio, pois o sinal sonoro emitido da sirene localizada no alto da chaminé deve ficar para sempre na memória do povo da cidade de Pombal.

*Pombalense, Jornalista, Advogado e Professor. Natal RN.
BRASIL OITICICA: UM PEDAÇO DA NOSSA HISTÓRIA BRASIL OITICICA: UM PEDAÇO DA NOSSA HISTÓRIA Reviewed by Clemildo Brunet on 5/28/2012 01:00:00 PM Rating: 5

Um comentário

Unknown disse...

Ola eume chama moises estou trabalhando no terreno onde era a antiga brasil oiticica trabalho em contrucao civil e ao cavar colunas de um predio la sendo conatruido me deparei com canos de ferro e ainda restos da parede da antiga fabrica e tambem encontrei um piso de concreto reforcado nao sei oque funcionava ali em cima do piso na epoca da fabrica

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