banner

AINDA DA CHAMINÉ DA BRASIL OITICICA

Jerdivan. N. Araújo
Jerdivan Nóbrega de Araujo*

“Cada um de nós
compõe a sua história
Cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz”
E ser feliz “

Graças à astúcia, vontade de fazer e a persistência de uns poucos filhos de Pombal, voltando ou saindo da cidade os filhos da terra da Cabocla Maringá vão continuar a contemplar e serem contemplados pela Chaminé de tijolos de 35 metros de altura, que aponta aos céus em súplica pelos homens e mulheres que um dia deram seu sangue e sua juventude por aquela urbe.

Não conseguira Imaginar um filho da terra que um dia trabalhou na Brasil Oiticica, voltando à cidade e não mais encontrar vestígios daquela que foi a redenção de um povo em certo período da nossa história.

Aquela chaminé há 50 anos é um pedacinho da história da cidade, ali apontando para o infinito, lembrança para os que viveram ali entre as décadas de 1930 e 1970.

Nos anos 60 morávamos na Rua de Baixo, passagem obrigatória para quem ia em direção ao rio. Lembro que depois das 17h30minh, ao toque da sirene estridente da Brasil Oiticica que se rasgava em gritos, libertando seus trabalhadores da lida, em poucos minutos eles passavam de frente a minha casa em direção ao rio, com suas caras pretas de fuligem, para lavar cansaço da lida diária. Sinto saudades daquele tempo, de ouvir o apito e das conversas dos operários na entrada e saída daquela fabrica.

 “Como era verde o meu vale”

Muitos daqueles operários humildes eram da Rua de Baixo, mas só me recordo de Zé da Viúva, que era nosso vizinho, e hoje mora aqui em João Pessoa.

Eu também me lembro das nossas algazarras nos galhos das oiticiqueiras, enquanto que os catadores do fruto enchiam latas e mais latas, com as amêndoas. Lembro também dos carros chegando e fazendo filas na Rua João Pessoa, com suas cargas, para abastecer a fábrica. Teve um tempo que eles passaram a processar a castanha de caju. Aproveitávamos as que iam caindo pelo caminho para assar, no quintal de casa.

Não existia uma família que não dependesse, de certa forma, do dia do pagamento da Brasil Oiticica, que era quando a cidade via a “cor de dinheiro”.

Trabalhar na Brasil Oiticica era ter credito aberto no comércio.

Para nós moleques, ajudar a catar as amêndoas da oiticica em troca de uns centavos a fim de garantir o dinheiro da diversão no Parque Maia ou para as matinês no Cine Lux, era de lei.

O odor dos armazéns que “atravessavam” na compra das amêndoas entorpecia as ruas centrais de Pombal.
O cheiro forte da fumaça expelida pela majestosa chaminé inundava toda a cidade, mas, ao contrário do que acontece nos dias de hoje, não havia reclamações pela fuligem que devia fazer tanto mal: antes, festejava-se o emprego que, mesmo insalubre que era, colocava o pão na mesa do povo sofrido da minha terra.

Vejo em meus pensamentos a revoada das andorinhas na torre da Igreja Matriz, que se espantavam ao apito da Sirene, logo nas primeiras horas da manhã.

Nos últimos anos da década de 1960, nos mudamos da Rua de Baixo para a Rua da Estação, de onde eu passei contemplar outro cenário: O da saída do produto transformado, que era transportado nos grandes vagões tanques dos trens que entravam e saiam pelo portão lateral, tomando rumo ignorado por mim. Os vagões tanques se perdiam das nossas vistas, fazendo manobras na Rua do Guindaste para entrar na Brasil Oiticica. Eu sempre achava que ele não ia conseguir passar pelo estreito portão, e se colocar entre a Chaminé e a caldeira, para recolher o óleo quente que ali era fabricado pelos operários retintos da fuligem que era expelida por aquela chaminé de tijolos, que hoje aponta em súplicas para os céus de Pombal pedindo mas um tempo de vida.

Quando a Brasil Oiticica fechou, muitos filhos de Pombal foram embora da cidade, muitos para nunca mais voltar. São por estes que se pede a manutenção da velha Chaminé.

É este um resumo do que significou aquela fábrica para a cidade e quê, por isto, precisar que deixemos marcado no tempo um mínimo de vestígios do que foi a Brasil Oiticica para a nossa cidade, e que as gerações futura a tenha como um memorial, seja pela felicidade seja pela aflição do nosso povo.

Para conhecer e assimilar a história da construção da cultura de um povo deve-se primeiro conhecer a história da própria cultura, saber como se deu essa construção e como foi o processo de evolução e desenvolvimento da mesma. Só assim, pode-se conhecer e entender e querer preservar.

Conhecendo a história do que foi esta fábrica entenderemos a importância de mantê-la viva na memória, protegê-la e valoriza-la como forma de compreender nossas características, nossa identidade passada para construir a identidade futura.

Esta luta travada em um campo de batalha tão adverso e desigual, onde se contrapõe o Capital e a cultural, a memória da cidade acaba ganhando importância, não por este caso em si, mas, por ter despertado em nosso povo a importância histórica de uma cidade que, desde a chegada dos seus conquistadores ou invasores, como prefiro dizer, em 1696, já se vai 316 anos de suor e sangue derramado.

Já os que se opuseram ou, pior ainda, se calaram quanto ao seu tombamento, a história lhes cobrará o preço no momento oportuno.

*Advogado, escritor, é autor de vários livros e pesquisador da história de Pombal.
AINDA DA CHAMINÉ DA BRASIL OITICICA AINDA DA CHAMINÉ DA BRASIL OITICICA Reviewed by Clemildo Brunet on 6/02/2012 12:02:00 PM Rating: 5

Nenhum comentário

Recent Posts

Fashion