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A CHAMINÉ DA BRASIL OITICICA E A ENQUETE DO PORTAL LIBERDADE

José Tavares de Araújo Neto
Jose Tavares de Araujo Neto*

Para respaldar sua indiscutível credibilidade e por respeito aos seus leitores, o Portal da Rádio Liberdade deveria ter avisado aos internautas que sua enquete sobre a permanência da chaminé da Brasil Oiticica teve um vício que inviabiliza qualquer análise séria.

Sabe-se que como instrumento de pesquisa, a enquete não tem nenhum valor científico. Por definição é uma mera abordagem quantitativa de determinado preferência. Por exemplo, em um site a enquete deve aferir uma única vez a opinião por computadores (Utilizando o IP) ou por internautas (utilizando-se de senha, CPF, etc), dependendo do programa disponibilizado.

Então, o que dizer de uma enquete que não prima por seu principio mais básico, que deve ser a obtenção de dados por individualização?

Foi o que ocorreu na enquete do Portal da Radio Liberdade. No caso, um único internauta, de um mesmo computador, podia votar infinitas vezes.

Ao perceber esta falha, imediatamente cientifiquei ao radialista Naldo Silva, que me disse já ter conhecimento do fato. Mesmo assim, o ilustre alimentador do portal, permaneceu com ela no ar, com o agravante de divulgar o resultado final, sem, no entanto, tornar pública a falha do programa.

Acho que esta informação seria muito relevante neste momento, já que toda a comunidade discute a questão e o Ministério Público mira em todas as direções, buscando subsídios para uma iminente tomada de decisão.

Entretanto, independente do programa ser falho, devo registrar que se caso o resultado favorável à derrubada da chaminé fosse baseado em uma pesquisa estatisticamente correta, eu confesso que não me surpreenderia com os números, pelos motivos que passo a elencar:

Em 2003, quando ficamos contra a decisão do pároco que a todo custo queria fazer uma cantina no interior da Igreja do Rosário, abrindo uma porta para atender a freguesia, a grande maioria da população ficou contra nossa luta. Formos acusados até de heresia, por nos metermos em coisas da Igreja.

Naquela ocasião, durante uma missa de dia de finados, o padre chegou a excomungar meu irmão, o ativista Jerdivan Nóbrega, citando seu nome e dizendo palavras grosseiras e deselegantes, colocando nossa mãe, que estava presente no evento, em situação bastante constrangedora perante os demais fiéis de sua igreja, que a dirigiram olhares e cochichos de reprovação, como se ela tivesse parido o diabo.

Praticando aquele crime contra o símbolo maior de nosso patrimônio histórico (fato registrado na tese de mestrado da pombalense Alba Cleide Calado Wanderley, defendida em 2009, sob o titulo “A construção da identidade afrobrasileira nos espaços das irmandades do Rosário do sertão paraibano”) , o padre sabia que ele podia contar com a conivência da maior parte da população, da mesma forma que hoje, nove anos depois, o empresário que pretende demolir a chaminé da Brasil Oiticica conta com esta mesma conivência de maior parte dos pombalenses.

Já no ano de 2005, a administração Municipal estava utilizando a cadeia Velha como depósito de entulhos e equipamentos emprestáveis.La fora, o nosso belo Centro Histórico estava tomado por quiosques, barracos de zinco, que mais lembravam uma favela.

Tudo isso ocorrendo e o poder público totalmente indiferente, e a população mais uma vez conivente, assistia a tudo como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo.

Foi aí que mais uma vez entramos em ação e divulgamos para os quatro ventos o que se passava em Pombal.

Recebemos importantes apoios, a exemplo do mais ilustre pombalense, o economista Celso Furtado, do escritor Braulio Tavares, da Sociedade de Estudo sobre o Cangaço, do Jornal Correio da Paraíba, que dedicou ao movimento uma folha inteira no seu Caderno Cultural, do Portal Beabá do Sertão, e de alguns cidadãos e importantes autoridades de raízes pombalenses residentes ou não em nossa cidade.

Com tamanha repercussão, o Ministério Publico se acordou, e recomendou a administração municipal a retirada dos barracos do centro histórico, como também que a antiga cadeia voltasse a ser utilizada como Casa da Cultura. E tudo voltou ao normal.

Mas nos entrementes, foram muitos os conterrâneos que fizeram comentários maldosos pelas ruas e até ligaram às emissoras radiofônicas dizendo impropérios contra nossa causa e foram pouquíssimos os a nos defender.

Por trás de cada um de nós não existem motivos políticos ou econômicos. O que nos move é uma força chamada, amor e orgulho às nossas origens, vontade de preservar nossos valores históricos e culturais, com o objetivo de manter os ícones que deverão ilustrar a nossa gloriosa história. Queremos simplesmente deixar para os nossos filhos e netos a cidade tão bela e conservada como recebemos dos nossos pais e avós.

De acordo com a legislação brasileira, em defesa do nosso patrimônio cultural, qualquer cidadão é parte legitima.

Resta aos que tem uma visão diferenciada e sensibilidade por esta causa, a incansável luta em busca de levar a conscientização àqueles que não tiveram oportunidade de se instruir.

O que não se pode admitir é a humanidade deixar que a sabedoria adquirida ao longo dos séculos seja vencida pela ignorância, simplesmente porque esta última representa o pensamento da grande maioria.

“O fato de uma opinião ser amplamente compartilhada não é nenhuma evidência de que não seja completamente absurda; de fato, tendo-se em vista a maioria da humanidade, é mais provável que uma opinião difundida seja tola do que sensata” (Bertrand Russell, premio Nobel de literatura de 1950);

*Engenheiro Agrônomo e articulista.

COMENTÁRIO


HOUVE INVERSÃO NO RESULTADO DA ENQUETE DO SITE DA LIBERDADE SOBRE A CHAMINÉ


Denilton Medeiros*

De início, realmente, fui favorável ou mesmo indiferente a demolição da chaminé. Neste momento, ainda penso que estar por provar-se o seu real valor histórico. Porque a rigor, do meu ponto de vista, a chaminé não representou o início de um ciclo da industrialização de Pombal, até porque efetivamente a cidade jamais foi uma cidade industrial, como de fato até hoje não é.

Tratou-se, na verdade, de uma indústria isolada para beneficiamento de uma amêndoa (fruta de oiticica) que funcionou por um certo período e depois fechou, talvez pelo equívoco dos empresários que não calcularam bem seu investimento.

Mas, por outro lado, tenho visto e lido muitos relatos de lembranças a respeito da falida indústria e de sua chaminé, e confesso que fiquei balançado e até simpático ao movimento dos que lutam pela preservação, que é legítimo, disso não tenho dúvidas.

Agora, o que eu concordo, em gênero, número e grau é sobre o equívoco da metodologia da enquete da Rádio Liberdade e sobre isso vou relatar o que eu mesmo fiz com aquela enquete.

No final da noite que a enquete foi lançada eu olhei o resultado e estava em torno de 80% pela preservação e menos de 20% pela demolição, então, como a enquete permitia, eu votei até inverter o resultado e de lá para cá o resultado se manteve, penso que votei mais de 200 vezes e foi tudo contabilizado.

Desta feita, concordo plenamente com Jose Tavares De Araujo Neto quando afirma que a forma como se fez e se divulgou o resultado dessa bendita enquete serve para manipular a opinião pública, porque se o resultado tivesse sido outro, a sociedade estaria defendendo a manutenção.

*Advogado
A CHAMINÉ DA BRASIL OITICICA E A ENQUETE DO PORTAL LIBERDADE A CHAMINÉ DA BRASIL OITICICA E A ENQUETE DO PORTAL LIBERDADE Reviewed by Clemildo Brunet on 6/02/2012 06:07:00 PM Rating: 5

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